16 - Reecap

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O último mês foi intenso, aconteceu muita coisa. Caí, levantei-me e ajudei os que estavam a minha volta a levantarem-se também.

Foi um mês de aprendizagem, onde percebi que não podemos ter as pessoas como garantidas. Porque o homem que me criou, tornou-se um estranho que já não conheço.

Ou talvez, eu nunca o tinha conhecido de verdade.

Não voltei a vê-lo depois do sucedido na Bélgica e sinceramente, ainda bem que assim foi, acredito que terá sido pelo facto de eu ter apresentado queixa à polícia portuguesa, obrigando-o a manter distância.

Em conversa com a minha mãe soube que se tinha mudado da nossa cidade e aconselhei a minha mãe a fazer o mesmo. Porque apesar de tudo, nada nos garantia que não voltaria a esta casa para fazer algo semelhante ao que fez na Bélgica.

Portanto disse-lhe para vender a casa, porque mesmo tendo de dar metade do valor ao meu pai, devido ao processo de divorcio, o motivo pelo qual se vai vender a casa não era para obter dinheiro, mas sim, sair daquele ambiente toxico e seguir com uma vida em que o meu pai não faça parte dela.

A casa onde cresci, foi vendida nem há uma semana. Neste momento estou no meu quarto a empacotar as minhas coisas, enquanto o meu irmão faz o mesmo no quarto dele.

A minha mãe está sentada no banco do jardim, a ver as poucas peças de roupa que o meu pai deixou nesta casa, a tornarem-se num monte de cinzas.

Penso que foi a maneira dela terminar este ciclo da sua vida, de colocar um ponto final numa vida que a faz sofrer tanto.

Hoje foi o primeiro dia em que a vi sorrir, após eu ter admitido que sabia que o seu marido a andava a trair. E estou tão feliz por saber que ela vai voltar a ser a mulher que era antes.

Mentira! Vai ser ainda melhor, uma mulher mais feliz e mais livre.

Esta semana não há corrida, o que me permite ter a disponibilidade necessária para fazer a mudança.

Com a sua metade do valor da venda desta casa, conseguiu comprar um pequeno apartamento junto à cidade. Para muitos, esta mudança poderia ser um passo retrógrado, mas para a minha mãe é sem dúvida uma conquista, por vários motivos.

O apartamento é um T2+1, dois quartos e uma pequena arrecadação que poderia facilmente ser transformada num pequeno quarto.

Sendo eu a pessoa que passa mais tempo fora de casa, voluntariei-me para tornar a arrecadação no meu quarto.

- Val, acho que ouvi o carro da Olivia a chegar – ouço o meu irmão a gritar do quarto dele.

Levanto-me do chão do meu quarto de infância e vou até a porta principal da casa, abro-a e vejo a Liv a abraçar a minha mãe. Um abraço apertado, lento e com muito sentimento.

Encosto-me a ombreira da porta a contemplar.

- Val! Estás aí, nem te vi – a Olivia larga a minha mãe assim que me vê e começa a caminhar na minha direção.

- Não acredito que vieste de saltos para me ajudar a empacotar as minhas coisas – digo-lhe a olhar para os seus sapatos com cerca de 15cm.

- Lá por eu vir de saltos, não me impede de me descalçar e de te ajudar na mesma.

Ri-me com a sua observação e comecei a subir as escadas para regressar ao meu quarto.

Entramos na divisão e eu afasto umas caixas com o pé para que possa abrir a porta na totalidade.

- Como estão as coisas por aqui? – Liv senta-se no chão e começa a descalçar os sapatos.

- Sinceramente, acho que está a ficar melhor – volto a virar-me para o armário – acho que finalmente estamos a conseguir fechar este capítulo, para podermos começar um novo.

O meu mundo de Formula 1 - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora