15 - Desabafo

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Os dias de corrida começam sempre sedo, há um frenesim de mecânicos a correr de um lado para o outro, para confirmarem se está tudo na perfeição para que a corrida ocorra da melhor maneira possível.

Pessoalmente, essa agitação deixa-me ansiosa e são raras as corridas em que vou mais cedo para o circuito, prefiro ter uma manhã mais tranquila pelo hotel.

Mas hoje é diferente, hoje prefiro a correria do circuito para poder tirar da cabeça os mil e um problemas que tenho neste momento.

Chego ao circuito quando ainda nem havia repórteres e jornalistas por todo lado, segui caminho até aos vestiários e deixei as minhas coisas no cacifo que eles designaram para mim.

Confirmo o meu telemóvel e verifico que tenho uma mensagem de Russel.

"Já estou a ir para aí. Dá-me mais uns 10 minutos"

Respondo com um simples "ok" e sigo até a cafetaria do circuito que é a poucos metros da garagem do Safety Car.

Seleciono uma mesa e sento-me, enquanto aguardo pelo britânico, e enquanto isso, chegou um empregado de mesa, ao qual fiz o pedido.

Chega o meu café à mesa e começo a beber enquanto observo o piloto a entrar na cafetaria. Faço-lhe sinal com a mão e ele vem na minha direção.

- Bom dia – saúda-me ao chegar junto da mesa e deposita uma mochila numa das cadeiras vazias – como estás hoje?

- Nem sei, sinceramente, tenho muita coisa em que pensar – ele senta-se ao meu lado e faz sinal a um dos empregados.

- Sabes que podes falar comigo, desabafar.

- Sei, foi por isso mesmo que te chamei aqui – volto a beber um pouco do café – aconteceram coisas em minha casa, com os meus pais, coisas que nunca pensei que fossem acontecer.

- Algo tão grave que não tenha solução? – pergunta-me antes de avisar o empregado que queria exatamente a mesma coisa que eu estava a beber.

- Não, tem solução – pouso a caneca com cuidado – mandar o meu pai pó caralho e divorcio.

George olha admirado para mim, com um olhar que nem sei se foi de preocupação ou de a tentar esconder o riso.

- Okaay, não estava à espera dessa resposta – ri-se por uns segundos – ok, desculpa, mas disseste isso com tanta frieza que fiquei sem perceber se foi uma piada ou se foi a sério.

- Um pouco dos dois – esfrego a cara com as mãos, frustrada, mas depois solto uma gargalhada – isto está a dar comigo em doida.

- Consigo ver que sim – chega a sua caneca de café e o piloto agradece.

- Muito resumidamente, o meu pai anda a trair a minha mãe, eu é que descobri e não contei a ninguém durante uma semana – bebo mais um pouco de café – e quando finalmente resolvi contar, descobri que a minha mãe já sabia. Além de que, o meu pai pensa que está a fazer a melhor merda desta vida e quando o confrontei ele bateu-me.

- Porra – fica perplexo a olhar para mim – mas que grande merda. Mas como é que a tua mãe sabia e não fez nada?

- Acho que é algo que só vou perceber se algum dia for mãe, porque ela fê-lo para me proteger, a mim e ao meu irmão – George ajeita-se na cadeira.

- Ok, assim faz sentido. Mas mesmo assim, tu e o teu irmão já são grandes o suficiente para lidar com isto.

- Sim, tens razão, mas não sei há quanto tempo isto já acontecia.

- O que? Achas que isto já acontecia há mais tempo? – o britânico olha para mim com os olhos arregalados.

- Acho que sim, mas não tenho certeza de nada, no dia em que isto tudo aconteceu eu vim embora, não tive tempo para falar com a minha mãe – foco o meu olhar para a espuma do café – mas é assustador pensar que eles viviam numa farsa.

O meu mundo de Formula 1 - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora