Daniel

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A medida que ia subindo as escadas, fui associando as vozes que ouvia.

Era a Valentina.

Estava a falar com alguém, mas não consegui perceber quem era.

Subi mais uns degraus até conseguir ver o topo das suas cabeças.

Pela altura, era claramente o George.

Voltei a descer dois degraus, para ter a certeza de que eles não me conseguiriam ver. Não que eu quisesse ficar ali a ouvir a conversa entre os dois.

Mas não pude deixar de ouvir, quando aquilo que ela disse, me apertou o coração.

- Os meus pais estão divorciados, parti o coração ao Luca e as coisas com o Daniel...

Sabia que ela e aquele italiano estavam demasiado próximos.

Tremeram-me as pernas e fiquei zonzo por uns milésimos de segundo.

- Os teus pais, sinceramente estão melhor assim, e tu sabes disso. O Luca, não podes controlar os seus sentimentos e no fim de contas tu deste-lhe a oportunidade de viajar e de entrar neste mundo, que pelo que me parece, ele adora. – Ouço a voz de George a tentar acamar Val.

Percebo o que ele está a fazer, porque faria o mesmo. Vê-la triste é das coisas que mais me deixa destruído.

E o que me destrói ainda mais, é quando sou eu o motivo da sua tristeza.

- Não posso continuar a torturar-me – deixo de ouvir a voz dela por dois ou três segundos – não posso ficar mais uma temporada – diz esta última frase tão baixo que mal a consigo ouvir.

- O que? O que queres dizer com isso? – pergunta-lhe George com preocupação na voz. Mas não com mais preocupação do que aquela que tenho agora alojada no meu peito.

- Quer dizer que não assinei novo contrato com a fia. – O meu coração começa a cavalgar no meu peito, a uma velocidade tal que se torna até doloroso. – Significa que vou embora George.

Quando começo a ficar zonzo é que percebo que interrompi a minha respiração por vários segundos. O sangue nas minhas veias gelou e tive de me segurar na grade para não descer os restantes degraus aos trambolhões.

A ideia de a perder novamente deixa-me desorientado.

Volto a espreitar para o sítio onde há poucos minutos vi o topo das cabeças de ambos. Já só via o George, paralisado a olhar para o horizonte.

Subi os poucos degraus que me separavam do andar onde decorria a gala de final de temporada.

- Onde é que ela está? – pergunto ao George e ele nem sequer se admira com a minha presença, como se soubesse que eu tinha estado ali o tempo todo.

Com o dedo comprido aponta para o bar, onde vejo a Val acompanhada de Luca e Carmen.

Respiro fundo e tento ser racional.

Agarro no George e arrasto-o até às escadas.

- O que é tu sabes sobre eles? – pergunto-lhe assim que parei de andar.

-Eles? – George parece confuso, mas sabe perfeitamente de quem estou a falar – Nada de mais.

- Tens de ser mais específico – digo-lhe nervoso e cheio de ânsia de saber mais.

- Ela não demonstra ter sentimentos por ele – diz-me descontraído e com as mãos enfiadas nos bolsos das calças do seu fato de aparência caríssima.

- Odeio ver outro homem agarrado a ela – deixo escapar este pensamento mais alto do que aquilo que gostaria.

- Culpa tua amigo – diz-me arregalando os olhos – apenas e só culpa tua.

- Não me relembres disso, já me culpo o suficiente.

- Sabes que ela ainda te ama, não sabes? – sinto uma felicidade a surgir no meu peito, mas infelizmente é tão rápida a surgir como a desaparecer. – Sabes que ela ainda pode ser tua se tomares as decisões certas.

- Mas que porra serão essas decisões certas? – frustrado, passo as mãos pelos meus caracóis – Agora que ela vai embora, que merda posso eu fazer?

- A ouvir conversas alheias? – diz-me sem grande surpresa, o que me dá a certeza de que ele sabia que eu estivera nas escadas enquanto esteve a falar com ela.

- Ela percebeu que eu estava aqui? – olho para o chão, envergonhado.

- Não – compõem os bolsos das calças, dos quais acabou de tirar as mãos – ou pelos menos não deu a entender.

- Que merda vou eu fazer George? – volto a despentear os caracóis – Não a posso perder, outra vez.

- Isso já é algo que vais ser tu a descobrir – ouço o barulho dos seus sapatos a afastar-se, em direção à gala.

Fico perdido por vários segundos. Penso e volto a pensar.

Chego a conclusão que não vou conseguir resolver nada enquanto estiver assim tão ansioso.

Respiro fundo.

Subo dois degraus e direciono o meu olhar para ela.

Estava deslumbrante, de vestido preto, comprido, que realçava todas as suas curvas.

Voltei a respirar fundo.

Observei o sorriso que direcionava ao italiano e decidi ir embora.

Desci os degraus com rapidez.

Em menos de três minutos estava a dar as direções do meu hotel ao taxista.

E após o taxista escrever as direções no GPS, sinto o motor do carro a trabalhar e a levar-me para longe dela. 

O meu mundo de Formula 1 - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora