Depois de doze horas de turno, começo a despir a farda para depois vestir o meu fato de treino, para caminhar até casa minimamente confortável.
Fui um turno até calmo, tendo em conta que somos um dos melhores hospitais do país e que diariamente, chegam helicópteros com utentes em estado grave.
- Já vai embora enfermeira Valentina? – pergunta-me uma médica que entra nos vestiários destinados aos enfermeiros.
- Sim, o meu turno terminou há cerca de quarenta minutos. – respondo-lhe já descalça.
- Está a chegar mais um politraumatizado – sem pensar duas vezes, volto a calcar-me e saio a correr da sala.
Corro até ao heliporto, o helicóptero já tinha as hélices paradas e as portas abertas.
Vejo sair a equipa médica, seguida de uma maca cheia de fios. E por baixo desses fios, um corpo.
A equipa que trazia a maca até nós, estava a caminhar demasiado devagar.
O que pode significar duas coisas: já foi declarado o óbito ou então o utente vem com possíveis danos na espinal medula.
- Desculpem ter criado o alerta sem necessidade – diz-me um dos homens que traz a maca. Trazia uma braçadeira a identificá-lo como enfermeiro. – Já lhe foi declarado o óbito.
- Acabámos por não conseguir reverter a paragem cardiorrespiratória – diz outro dos homens a trazer a maca, com uma braçadeira que continha a palavra "médico".
- Idade? – pergunto, porque a mulher, tinha um ar muito jovem.
- 23 anos, acidente de viação – o enfermeiro entrega-me os documentos da ocorrência – o namorado, que vinha a conduzir, deve chegar entretanto de ambulância. Tinha ferimentos ligeiros.
- Que porra! Tão nova – dou uma vista de olhos nos documentos, agradeço à equipa medica do helicóptero e sigo a médica, que levava a maca para dentro do hospital.
- Valentina, vá embora, eu trato dos papeis. – O cansaço venceu-me, caso contrário, teria ficado.
Volto então ao vestiário, troco de roupa, agarro na minha carteira e lancheira e saio do hospital em direção à casa.
Depois de caminhar cerca de sete minutos até casa, subo as escadas até ao meu andar.
Abro a porta e vou direta para o duche.
Acordo completamente desorientada, não tenho noção de que horas são.
Levanto a cabeça e percebo que o sol ainda não está a bater na janela. Agarro no telemóvel.
15.46h
Dormi um total de sete horas, nada mau, tendo em conta que a minha média de horas dormidas após um turno da noite é de cinco horas.
Não tenho grandes planos para hoje, portanto, aproveito para descansar.
Vou até a casa de banho para ficar minimamente apresentável, apesar de não ter grande ideia de sair de casa ou conviver com outro ser humano.
Tiro o pijama e visto uma roupa que é minimamente confortável para ficar em casa, mas não demasiado confortável ao ponto de não a conseguir usar fora de casa.
Passo para a cozinha, mas algo debaixo da minha porta de entrada chama-me à atenção.
- Isto não estava aqui quando cheguei? Ou será que estava?
Segui para a cozinha com o envelope na mão.
Abri o pequeno envelope.
Continha um convite. Mas precisamente, o convite do casamento da Olivia.
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O meu mundo de Formula 1 - Livro II
RomanceEla tinha confiado nele. Confiava nele para lhe entregar o seu próprio coração. Mas ele não foi capaz de o segurar. E isso mudara Valentina. A portuguesa lutava agora com uma decisão que iria mudar a sua vida por completo. Ela queria entrar nesta...