O ar estava úmido mas Sakura sentiu sua garganta secar quando buscou respirar depois de aterrissar. Seus pés tocaram algo sólido mas antes que pudesse se recompor, Sasuke pegou-a pela mão.
- Sasuke! - tentou se desvencilhar, e até conseguiu soltar a mão do moreno por uns segundos devido sua força, mas ainda estava meio atordoada por conta do teletransporte. - Sasuke, me solta!
Ele a ignorou. Continuaram andando, ou pelo menos, ele continuou arrastando Sakura até a beira de um caminho de cascalhos que levava a uma clareira. O chão onde estavam ainda era de pedra mas o local era todo circundado por moitas e folhagens, e Sakura sentiu alívio ao notar que ainda estavam dentro da vila, porém em um lugar alto.
Sasuke tirou algumas folhagens do caminho e parou, ainda de costas.
- Foi aqui.
Sakura puxou sua mão bruscamente.
- Você ficou maluco? Você não pode simplesmente me obrigar a ir com você a lugar nenhum! Me leve de volta, agora!
Ela cruzou os braços esperando encara-lo mas Sasuke continuou de costas para si. Depois de algum tempo em silêncio, Sakura viu seus ombro se mexerem.
- Foi aqui em que recebi uma mensagem do País do Vento, na noite em que fui embora.
Sakura abriu a boca para dizer ou perguntar algo que já não se lembrava mais. Seu corpo inteiro parecia queimar.
Ele continuou:
- Naquele dia, depois que colocamos Sarada para dormir, acordei de um pesadelo. Pela janela, senti a presença de um chakra estranho pelas proximidades. É claro que fui verificar. Uma espécie de anbu da Vila da Névoa veio ao meu encontro. Ao lado dele estava Itachi.
Sasuke se virou para olhá-la. Esperou uma reação, talvez uma horda de perguntas acompanhadas de sua sobrancelha erguida e pose impetuosa. Essa era a Sakura que conhecia. Mas ela lhe encarava de forma livida, não como se ele fosse um louco, mas como se estivesse tentando ler sobre as entrelinhas do que dizia. Não podia julgá-la, era isso o que eles sempre faziam. Decidiu continuar.
- Achei que era um novo ataque sob genjutsu. E na verdade era, mas eles precisavam da minha ajuda. Satoshi, o ninja da vila da Névoa relatou movimentações estranhas de um suposto grupo que se denominava nova Akatsuki. Itachi estava entre eles. Não era um genjutsu e sim clones, gerados a partir de genes modificados para reviver qualquer pessoa e ter controle mental sobre ela.
- O santuário Uchiha...- Sakura arreglou os olhos ligando os pontos. Sasuke assentiu.
- A primeira coisa que fiz foi lutar. Mas Satoshi me fez perceber quem era o verdadeiro inimigo. Partimos para o santuário destruir todo e qualquer material genético. Havia somente uma pessoa que eu conhecia que poderia fazer isso tipo de coisa.
- Orochimaru...
- Sim. Mas no fim, não era ele. Um Otsutsuki que utilizava o nome Uchiha.
Sasuke entendeu a expressão confusa de Sakura.
- Nosso clã tem peculiaridades muito especiais, Sakura. Algo que Kaguya sempre almejou.
- Eu...eu entendo, mas por quê? Por que criar um exército de clones de sangue Uchiha?
- Para nos destruir novamente.
Sakura tentava assimilar rapidamente o que ouvia, mas sentia-se em uma parede de vidro. Era difícil ouvir uma explicação por mais que tivesse passado anos ansiando por isso.
- Eu era a única pessoa que poderia pará-los. Você sabe disso.
- Naquela noite, voltei para me despedir, mas não tive coragem. No entanto, fiz algum barulho e acabei acordando Sarada. Então decidi partir de uma vez. – Sasuke suspirou encarando a mata a sua direita. – É claro que eu não imaginaria que levaria tanto tempo. – então ele se virou de costas novamente, como se realmente não conseguisse encarar Sakura ao dizer aquelas palavras. – A princípio, minha intenção era coletar informações sem chamar atenção e tentar contato com a vila antes do ataque. Mas...quando vi Itachi, vi quenão era tão simples. Não eram reencarnações sob genjutsu, Sakura. Pareciam muito mais reais do que isso. Eram reais. E havia um exército deles. Somente eu e Itachi poderíamos pará-los. Depois da luta, levei Itachi até Orochimaru. Ele descobriu que por mais que sejam criações avançadas, os clones possuem um tempo de vida útil. Itachi teria apenas sete anos. Mesmo tendo livrado-o do controle dos Otsutsuki. Então ele decidiu me ajudar. Viajamos ao redor do mundo pesquisando e aniquilando quaisquer vestígios que poderiam colocar tudo a perder e gerar uma quinta guerra. Depois que Itachi se foi, fiquei desesperado. Não sabia como me despedir mas sabia que tinha de dar fim aos restos mortais. Depois que dei cabo disso, fui a procura de possíveis clones ainda vivos, mas imaginei que seguiriam o mesmo tempo de vida de Itachi. Eu queria...queria ter certeza de que todos ficariam bem. Quando me dei conta de que não havia mais nada a ser feito, pelo menos, não sozinho, voltei para a vila. Voltei para vocês duas.
Sakura não suportou. Sentiu seus joelhos arderem ao encontrarem as pedrinhas que estavam no chão. Sabia que de alguma forma algo estaria envolvido na partida de Sasuke. Ela se iludira achando que havia perdido sua ambição após a guerra e tudo o que lhe custara. Achava que naquela noite ele definitivamente tinha escolhido seu destino e ela e Sarada não estavam nele. Tudo o que pensou durante todos esses anos jamais chegou perto das palavras que acabaram de lhe esmagar. Imaginou tudo, mas jamais imaginou que Sasuke teria partido justamente por causa delas. Tudo o que ele fez foi para protege-las por que ela sabia que se ele perdesse a família novamente, tudo estaria arruinado. Eles estariam arruinados.
De repente uma onda de culpa afundou em seu estômago.
Mesmo depois de tudo o que viveram, ela esperou o pior dele, o pior de Sasuke, e acabou tirando o pior de si.
Ela sabia que não tinha culpa. Não sabia da verdade e de maneira alguma diminuiria a responsabilidade de Sasuke por sua escolha, mesmo sendo aquilo que ele achou correto para ela e a filha. Mas dez anos se passaram e ela não era mais a mesma. Talvez devesse ter ouvido mais seus amigos, Tsunade. Embora ela tivesse todas as respostas a sua frente, agora, Sakura nunca se sentira mais perdida.
Como se houvesse lido seus pensamentos, Sasuke veio até ela. De baixo, Sakura o encarou. Sentia o rosto quente ser preenchido pelas lágrimas geladas. O vento frio já não a açoitava mais como antes, agora era como se fosse agradável ser abraçada pela friagem.
- Há alguns dias, contei minha história a Naruto. Ele me designou uma missão, porque pedi para entrar para a ANBU.
- O-o q-quê? – ela conseguiu proferir antes de se levantar para encará-lo melhor, limpando os olhos.
- Não pretendo mais sair da vila, mas quero ajudar a manter a segurança da minha família.
Sakura tampou a boca com as mãos. Sua respiração estava começando a falhar e ela já pressentia o que estava por vir.
- Eu lhe perguntei o que aconteceria se eu ficasse. E eu vou ficar para descobrir. Não quero seu perdão, quero conquista-lo sozinho.
- S-sasuke, e-eu...
Tudo ficou escuro.
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Se Você Ficar
FanfictionSasuke finalmente terminou sua jornada de redenção no momento em que sua primogênita, Sarada Uchiha, nasceu. No entanto, sem aparentemente nenhum motivo, em uma manhã, Sakura se encontrou sozinha aos choros da bebê recém-nascida ao lado da cama. Os...