Se Você Ficar

Capítulo 20

Só o que se podia ouvir era o barulho dos sapatos de Sasuke na rua ainda com chão terroso. O sol escaldante de Konoha o fez abandonar sua capa e vestir apenas uma camisa para a pequena caminhada até em casa para ver Sarada. Ontem havia levado-a para comer fora mas hoje achou que deveria tentar cozinhar algo, então trouxe alguns ingredientes da geladeira de Hinata, incentivado pela mesma. Sabia fazer poucas coisas mas acreditava que o suficiente para não deixar a filha morrer de fome, pois não sabia quando Sakura sairia do hospital. Havia saído ontem depois que a trouxe de volta, devido as contestações de Tsunade. Sabia que tinha sido egoísta e se sentia culpado por faze-la estar ali. Como sempre ele era o causador dos problemas de Sakura. Era o que mais sabia fazer, causar-lhe dor, não propositalmente mas sempre inevitavelmente. Mas sabia que seria ainda mais egoísta se ficasse ao lado dela como realmente queria, e deixasse Sarada sozinha. Pelo menos um dos pais ela tinha de ter, pensou.

Passou pelo pequeno portão de madeira do jardim cercado e a passos largos parou na varanda. Por mais que tivesse avisado Sarada que voltaria pela manhã, achou melhor tocar a campainha. Esperou alguns segundos, e quando suas sobrancelhas começaram a franzir e seu coração a gelar, pensando no pior, Sakura apareceu a sua frente, em pé.

Abriu a boca para dizer algo, mas não conseguiu. Ao contrário dele, ela não parecia surpresa em vê-lo ali. Não sentiu nenhum chakra estranho, tudo o que podia detectar era a forte presença de Sakura e seu cheiro doce.

- Por que não está no hospital? - decidiu se pronunciar, observando-a minuciosamente, não encontrando nada fora do comum, apenas achando-a um pouco pálida.

Sakura se empertigou como se estivesse ofendida, mas abriu mais a porta ao seu lado.

- Tive alta. Foi só uma queda de pressão. Você sabe que as vezes acontece. - ela cruzou os braços e antes que Sasuke pudesse retrucar, convidou-o para entrar com um gesto de cabeça.

Sabiam que teriam que conversar mais cedo ou mais tarde após ele relatar tudo que lhe acontecera durante esses dez anos, mas por mais que Sakura fosse forte, achou que precisaria de algum tempo. E esse era um de seus defeitos. Sasuke não era otimista e sim um covarde, quando se tratava do coração. Ao mesmo tempo, preocupava-se com a saúde de Sakura. Por mais que ela já houvesse desmaiado outras vezes em situações esdrúchulas, todos sabiam que ela exagerava na carga de trabalho - parcialmente e indiretamente sendo culpa de Sasuke - e que os últimos dias tem sido ainda mais cansativos para a kunoichi. Além de ser a atual melhor médica de Konoha, Sakura tinha um cargo alto concomitantemente com suas pesquisas e passava por um momento turbulento na vida pessoal, todos sabiam. Desde que Sasuke a viu depois de voltar a vila, reparou nas grandes olheiras, no corpo mais magro e na expressão dura que tinha em seu rosto quase todo o tempo. Não que estivesse menos bonita, pelo contrário. Mas Sasuke sabia que por mais que tivessem que ter essa conversa mais cedo ou mais tarde, a prioridade era o bem estar dela e para isso, precisava fazê-la descansar. Um simples desmaio não faria uma pessoa dormir por um dia e meio. Sakura precisava de descanso e ele foi paciente.

- Sakura, você devia estar descansando.

A rosada apertou os olhos. Sasuke não era de demonstrar preocupação, e por um momento ficou irritada. Afinal, a pressão dela caíra devido a enxurrada de informações que lhe foram jogadas. Porém acabou tendo que conter uma risada anasalada vendo a expressão contraída de Sasuke. Observou a sacola em suas mãos, de onde saía o caule de um vegetal.

Sakura foi em direção a cozinha.

- Sarada foi treinar. Entre, eu fiz café.

Ele assentiu e engoliu em seco, não lembrando de jamais ter se sentido tão ansioso. Haviam entrado e dentro de casa estava definitivamente mais agradável do que lá fora, mas ainda sim parecia que estava carregando o sol nas costas. Devagar, colocou a sacola em cima do balcão, observando Sakura pegar duas xícaras e apontar em direção ao sofá com a cabeça.