Capítulo 19

171 25 9
                                    

Sexta-feira à tarde, antes de todos chegarem. - Cafofo Bar

As batidas na porta eram cada vez mais insistentes.

- Já vai! - Inês gritou impaciente antes de abrir a porta alta vermelho-sangue. - O que... Márcia?!

- Oi!

- Por que não entrou? Ficou batendo na porta igual a uma louca.

- Acho que se vamos virar amigas eu não posso sair invadindo sua casa.

- Ah sim... é um bom ponto, mas a porta está sempre aberta para você, querida.

- Obrigada.

- E não é como se você respeitasse as portas fechadas!

- Ei! - Márcia protestou. - Você disse que estava tudo bem!

As duas riram.

- O que faz aqui tão cedo, Márcia?

- Estou ansiosa. Estava sem nada pra fazer, pensei que seria bom ficar com você.

- Claro. Vamos entrando, quer alguma coisa? - Inês pergunta fechando a porta.

Você!

Márcia pensa rápido, como um daqueles pensamentos intrusivos.

- Não, nada... Só a companhia.

- Anda se sentindo sozinha, Márcia?

- Oi? É... Um pouco, talvez? Mas por...

- Acredito que isso possa ser um método do Corpo Seco.

- Como assim?

- Todos nós, os envolvidos nessa bagunça, estamos nos sentindo assim. Conversei com a Camila um dia desses, ela disse que se sentia sozinha, mas observada, como se o ambiente ficasse mais frio e escuro. Sente alguma coisa parecida?

- Sim! Tenho tido a mesma sensação desde começamos o caso! Você também?

- Sim. Tenho sentido medo durante a noite. Eu! Medo do escuro! Irônico, né?

- No mínimo irônico. - as duas riram - Mas você tá bem?

- Sim, não é nada! São sensações comuns quando lidamos com espíritos tão fortes. A sensação passa quando eu lembro que isso é só uma provocação. Se nos deixarmos levar, piora.

- Então a solução é fingir que nada disso existe?

- Não, é o oposto! Você precisa se controlar, isso que tá sentindo é real, mas você precisa lembrar que tem uma "coisa" provocando isso. Você não está sozinha, mas é favorável para o Corpo Seco que se sinta assim.

- Entendo. Você é uma bruxa e tanto, não é?

- Bem... eu li todos os sete livros de Harry Potter.

- Você é uma boba!

Elas riem e passam a tarde falando bobeiras até todos chegarem.

...

Sexta-feira à noite

- Não é possível, cara. Quem é esse filho da puta?

- Não sei, Isac. - disse Camila. - Mas não vamos descobrir isso hoje.

- Camila tem razão. - completou Inês. - Estamos aqui há horas, estamos cansados. O melhor a se fazer é cada um ir pra sua casa, relaxar e amanhã vemos o que há de novo.

...

Márcia fica encarando Inês por alguns segundos, mas a bruxa se adianta.

- Pode perguntar, Márcia. Eu não mordo.

- É... desculpa. - ela diz corada. - É sobre a Luna.

- Sim?

- Ela tem tido pesadelos, todas as noites, desde que sua mãe morreu. Você poderia...

- Eu não curo pesadelos, Márcia. Eu só os controlo.

- Eu sei, mas...

...

- Um ritual do sono, para ajudar a menina. Prepara o ambiente com um luz baixa, ela pode tomar um chá de camomila com erva-cidreira ou valeriana e também ascender um incenso de lavanda ou camomila, de preferência natural.

- Obrigada, Inês. - a policial se aproxima da outra mulher e fica encarando seus lábios. - Você é incrível.

- Não é nada...

Ao ouvir sua voz, Márcia desperta do transe se despedindo e indo em direção ao mercadinho para comprar as coisas que Inês tinha falado para ajudar Luna.

Sábado seria um grande dia.

...

Eric tinha convidado Camila para entrar quando voltaram da reunião. O policial não queria ficar sozinho, já que sua avó e filha tinham ido ao cinema.

Eles abriram umas cervejas e ficaram papeando.

- Quero que tudo isso acabe logo.

- Todos nós queremos, Eric!

- Quando passar, eu vou te levar nos melhores sambas da Lapa.

- Você quer dizer que EU vou te levar nos melhores sambas da Lapa, né? - disse Camila fazendo caretas.

- É... ou isso!

O olhar deles se encontra, eles vão se aproximando, sentindo aquele calor que vai subindo e as borboletas no estômago. Os lábios quase se encontrando e... TOC TOC!

Eles coram e Eric vai abrir a porta.

- Márcia!?

- Trouxe umas coisas pra Luna. - diz e sai entrando - Pedi umas dicas pra Inês para tentar parar os pesadelos dela.

- Tem passado bastante tempo com a Inês, não é? - Camila diz.

- Ah! Camila, que susto, não tinha te visto! - Márcia diz envergonhada. - É... moramos perto, né? E com tantas coisas desse caso pra resolver...

- Não precisa se justificar! Está fazendo bem a Inês. - a sereia ri e suspira - Vou indo! Tchau Márcia, Eric. - Da um abraço na mulher e um selinho no homem, e se retira.

- Então vocês estão juntos? - pergunta Márcia.

- Eu... Não sei?

- Não sabe?

- Você sabe o que tá rolando com a Inês?

- O que? Não tá rolando nada!

- Márcia! Sua cara de pau!

- Tá... eu também não sei o que tá rolando.

- O que sua namorada mandou você trazer pra Luna?

Márcia explica tudo o que Inês sugeriu que fizessem.

- Tomara que funcione, amiga. Obrigado. Te digo como ela passou a noite, ok?

- Ótimo!

Eles conversam mais um pouco até Luna e sua avó chegarem em casa.

- Vou indo, amigo. Me dê notícias da Luna.

- Certo. E você me conte sobre seu encontro! - Ele ri e Márcia revira os olhos.

...

Eram quase 2:45 da madrugada quando Inês levantou da sua cama e voou determinada até a casa do Eric.

Desde que Márcia tinha falado sobre os pesadelos contanstes da pequena Luna, a bruxa criou e desfez várias hipóteses. Seria só sobre o trauma do incêndio? Seria a saudades da mãe? Ou seria uma influência de tudo isso o que estava acontecendo a sua volta, tantas energias e entidades se movimentando tão perto dela? Seria influência direta do Corpo Seco?

Inês pensava e se forçava a "despensar". Não queria acreditar que a criança estava envolvida no caso.

O único jeito de saber era se fosse até lá e entrasse na cabeça da menina. Era isso que iria fazer!

Nosso Amor Não é LendaOnde histórias criam vida. Descubra agora