Capítulo 9

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A brisa fria da noite batendo no seu rosto trouxe um angústia e uma necessidade urgente de esvaziar a mente e o peito daquela sensação de ter sido traída e enganada por uma das únicas pessoas que confiava plenamente.

E claro, que o primeiro lugar que ela pensou foi aquele onde uma sementinha de sentimento tinha começado a criar raiz nessa manhã: Cafofo Bar.

Cafofo Bar - Pela manhã.

Depois que Camila saiu do bar, Inês ficou bastante reflexiva. Conseguia sentir que alguma coisa estava pra acontecer.

E estava certa. Não muito tempo depois, Eric entrou pela porta como se tivesse fugindo de fantasma de tão afobado.

- Oi Eric, ao que devo o prazer da sua visita?

Diz a mulher antes mesmo de se virar e confirmar suas suspeitas.

- Inês, eu tentei parar, mas ele... - diz Tutu.

- Pode deixar, Tutu. - a mais velha interrompe. - Ele veio pra falar comigo, pode deixar que eu levo daqui pra frente.

O homenzarrão ruivo sai da sala, fechando a porta, mas ficando atento aos barulhos.

- Onde tá o corpo do Manaus? Eu sei que foi você que tirou o corpo dele do IML. Onde tá o corpo dele?

- Você tá procurando demais. - a voz arrastada da mulher mostrava como ela estava cansada daquilo tudo. - Há certas coisas no mundo que não foram feitas para serem encontradas.

Eric revirou os olhos.

- E onde tá Camila?

- A Camila sabe se cuidar. Ela já passou por muita coisa.

- Eu não sei como ela convive com você...

- Não confunda as coisas, Eric. - Inês vai andando em direção ao homem. - Camila pode querer te ajudar e até proteger, mas nós somos um grupo. A gente se protege. - a mulher suspira. - Mesmo que eu ache que você tem que ficar longe daqui e ela não.

O policial suspira e vai até a porta pronto pra ir embora.

- Começava com uma sombra no cantinho do quarto. - Eric para com a mão na maçaneta sentindo uma obrigação de ouvir Inês. - Você achava que parecia um monstro. Você tentava dormir e não conseguia. Chamava sua mãe, ela vinha. - Inês senta em uma poltrona olhando fixamente pro homem ainda em pé perto da porta. - Tá em você, Eric. Você pode até sair daqui, mas não vai sair da  sua cabeça.

Eric parecia cada vez mais perdido e hipnotizado pelo o que Inês estava dizendo. A bruxa continuou:

- Vem cá, vem. Senta aqui, meu amorzinho, senta. Vem. Senta. Não adianta tentar esquecer nem tentar dormir. Parece que tem alguém pisando no seu peito. Você tenta acordar, mas não consegue. Você quer gritar, mas sua voz não sai.

Inês encarava o policial que parecia lutar contra um sono fortíssimo, sem sucesso nenhum. A mulher, então, começa a lançar seu encanto.

Nana, neném.
Que a Cuca vem pegar.
Papai foi à roça
Mamãe foi trabalhar.

E lá estava a Cuca, fazendo o melhor que ela sabia saber: ler mentes.

Ao abrir a primeira porta da mente do Eric, ela observava uma mãe e um filho numa mesa de jantar.

Uma mãe deprimida. Um filho inocente, preocupado e com medo. Uma mãe que queria, mas não conseguia ser a perfeita mãe de contos de fadas. E uma criança perdida naquela realidade.

Nosso Amor Não é LendaOnde histórias criam vida. Descubra agora