Part 21

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Izuku ficou quieto e internamente surpreso, mas nada expressamente explícito em sua face. Ele fitava Katsuki como quem quisesse descobrir o teor oculto em suas falas; algo que o delatasse sobre a não verdade, mas ele aparentava estar tão nervoso que Izuku estava quase convencido de suas palavras.

Katsuki parecia um adolescente. Ele arrastava a mão por trás do pescoço, engolia seco e olhava para qualquer coisa exceto a cama, agoniado com o silêncio mortal do ômega.

— ...Ok... — Izuku murmurou extremamente calmo, ajeitando-se para se deitar depois de desistir de apenas encarar o alfa. — Vem.

Katsuki despertou do nervosismo, enrugando a testa e observando o ômega como se ele fosse adivinhar o que pensava – mesmo que ele nem o olhasse mais. Ele havia mesmo o chamado para se deitar? Ou era apenas uma brincadeira?

— Eu não vou falar de novo — Izuku avisou, arrumando o travesseiro em seu rosto e fechando os olhos. Seu corpo estava fraco, conseguia deduzir apenas em observar suas mãos trêmulas discretamente perto do rosto.

— Tem certeza? — o loiro perguntou esperançoso, porém, ao não receber resposta foi cautelosamente para o lado do ômega, levantando a coberta lentamente e mantendo uma distância atenciosa entre eles para se recostar sobre o outro travesseiro.

Observou as costas do esverdeado e prensou os lábios ansioso, sentindo a carência em tocá-lo, mas relutante em fazê-lo. Aproximou-se brevemente e notou o pescoço e o início do ombro expostos lateralmente.

Seus olhos cresceram em espanto e o vermelho do corte tomou sua atenção.

— Você tirou a faixa — Os pontinhos pretos eram discretos, mas pela contrastação da cor da pele, ainda dava para ser visto. — Izuku.

O ômega contraiu o corpo ao ser chamado de forma dura, Katsuki notando cada movimento com os olhos estreitos.

— Estava coçando. Amanhã coloco outra — justificou puxando a coberta para esconder o pescoço.

Katsuki não disse nada. Apoiou a cabeça no punho e esperou pacientemente que Izuku dormisse para que pudesse tirar um cochilo; descansando por apenas alguns minutos, despertando assustado; sua cabeça latejando pelo sono rápido.

Piscou dolorido e a primeira coisa que pescou foi o vazio do outro lado da cama.

Izuku não estava mais deitado e a luz branca do banheiro estava acesa.

O alfa ficou um pouco receoso, mas logo se lembrou do súbito desmaio do ômega e se levantou, parando no batente da porta e se assustando com o ômega ajoelhado frente ao vaso, vomitando angustiado e com lágrimas nos olhos.

Katsuki se sentiu um tolo por não ter notado antes.

Desceu as escadas apressado e tentou encontrar alguma bebida com gás, porém, Izuku não parecia fazer uma compra descente para casa. Tinha o mínimo do mínimo, exceto pela quantidade exagerada de chás. Fez um simples e subiu de novo, encontrando Izuku da mesma forma que deixou, mas agora com a cabeça apoiada nos braços sobre a tampa fechada do vaso. Seu peito subia e descia rápido em uma respiração alta e seus olhos estavam apertados e fechados.

Ele parecia com dor e a mão apertada sobre o ombro delatava.

Katsuki deixou a xícara sobre a cômoda ao lado da entrada e se abaixou ao lado do ômega que não moveu um músculo. Katsuki precisou tocar os cabelos verdes para chamar atenção, Izuku se recusando a olhá-lo, mas também não impedindo qualquer coisa que ele fosse fazer.

Sentia-se horrível demais para isso.

Seu corpo estava febril e trêmulo, sentia-se tão fraco, mal conseguia abrir os olhos pelo peso. Em sua boca o gosto horrível de vômito e a mordida injusta em seu ombro latejava enquanto queimava dolorida. Seria um dos efeitos em ter duas mordidas?

Inferno como doía.

— Eu fiz chá.

Izuku abriu os olhos relutante, limpando a boca com as costas da mão e não sentindo ânimo para se levantar. Reajustou a respiração e forçou os punhos para que Katsuki não visse a tremura.

— Se sente melhor? — o alfa insistiu.

— Se com sentir melhor você se refere a querer arrancar as entranhas do corpo, sim, estou ótimo — foi sarcástico, mas nem sua voz parecia ter força o suficiente para passar a piada. Suspirou cansado e tentou se levantar, mas suas pernas amoleceram o fazendo se sentar de novo desajeitado.

— Aqui — Katsuki disse puxando-o pelo braço e o tirando do chão. O segurou pelo quadril e o apoiou em seu corpo. Izuku era tão leve, o cheiro raso e ainda charmoso para Katsuki parecia puxá-lo como um imã. Queria protegê-lo, mantê-lo perto de si a todo o tempo.

Parecia que sua alma desfazia ao vê-lo tão frágil.

— Pare de fazer isso — Izuku se encolheu, sentindo o arrepio tomar seu corpo ao ter Katsuki encostando a ponta do nariz em seu pescoço enquanto ainda o apoiava. — A-Alfa!

Katsuki pareceu despertar de um transe, soltando-o com cuidado sobre a cama fofa.

— Desculpe.

Izuku enrugou a testa, arrastando seu corpo para o meio da cama curioso.

— Eu ainda... estou com cheiro? — perguntou, suas bochechas avermelhando.

— Fraco, mas sim — Katsuki disse indo até o móvel que havia deixado a xícara de chá para pegá-la e trazê-la até o ômega.

— Mas eu ainda não sinto meu lobo...

— A médica disse que não seria imediato o desaparecimento do seu lado ômega — Sentou-se entregando a xícara que Izuku pegou relutante, aconchegando-se sem notar no quentinho da porcelana.

Ele lembrava que Mina falara muita coisa, mas estava tão desesperado na hora que não conseguiu armazenar as palavras corretamente para recordar depois. Estar grávido, perder seu lobo e possivelmente estar em modo recessivo foi um baque muito grande, nem sequer Todoroki e suas tramóias conseguiu o preocupar tanto. Mesmo que o maior problema de agora fosse por culpa dele.

O mataria se pudesse, mas apenas matá-lo seria muito fácil e nada divertido.

Deixou a xícara de lado depois de alguns longos goles e se ajustou melhor na cama para tentar dormir de novo.

— Encolha os braços — Katsuki disse, desviando a atenção de Izuku.

— Hum? — Ele já vinha com a coberta em um lado de seu corpo, girando e o prendendo no processo. — O que está fazendo?

— Um casulo. — Arrumou sob as pernas agora estiradas e o ergueu.

— Ei! — Izuku tentou discutir, mas logo estava no colo do loiro, entre suas pernas e com as costas no peito dele.

— Minha mãe fazia isso comigo quando eu estava doente, é mais fácil de transferir feromônios — Katsuki explicou simples, arrumando o ômega mais para baixo conforme afofava os travesseiros em suas costas. — Está confortável?

— Eu — Izuku franziu o cenho incomodado, mas desistiu de argumentar suspirando. Seu corpo sentia-se melhor apenas por aquele gesto. — Está. — Abraçou o próprio corpo sob a manta.

Demorou um pouco, mas acabou esvaindo a tensão do corpo, aconchegando-se no corpo do outro e minimamente no cheiro que absorvia, fechou os olhos e sem demora pegou no sono, sorrindo pequeno e agradecendo em pensamentos por Katsuki não ter ido embora. 

Do ácido ao Todo Sempre [BakuDeku (ABO)]Onde histórias criam vida. Descubra agora