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Aviso: descrição de uma crise de pânico.
Cuidado ao ler.



De repente tudo virou um borrão.

O carro voava pela pista, desviando de outros carros que trafegavam normalmente.
As mãos grandes de Taehyung agarravam o volante e seu olhar vacilava entre o retrovisor e a pista a frente.

-T-tae...

-Fica calma.

- Quem tá atrás da gente?

- Aquele filho da puta... - ele esbraveja e bate no volante, puto.

O carro faz uma curva fechada e dou graças ao cinto de segurança, senão eu teria pulado pra fora pelo vidro.

Taehyung entra em ruas, vielas, becos... fura sinais amarelos e vermelhos, passando por carros que buzinam loucamente.

Outra chamada. Dessa vez ele me pede pra atender.

-Ainda na cola? - ele pergunta.

- Não chefe, ele lhe perdeu de vista.

Vejo ele respirar aliviado.

Eu já nem tanto.

O ar não entra em meus pulmões, meus olhos começam a arder e encher de lágrimas, aquela sensação que eu conhecia. Conhecia bem...

Eu era pequena quando senti aquilo a primeira vez, aquele desespero, aquela sensação de perder a única coisa que te deixa vivo. Aquela sensação de não ter controle sobre seu corpo e tudo o que sentir é um desespero total. E aquilo deixou marcas em mim, marcas que carrego até hoje, sem ninguém saber.

É isso o que a crise de pânico me fazia sentir.

E ela estava vindo agora.

Merda.

Tento me concentrar, contar até cinco como aprendi em anos de terapia, mas é inútil. Começo a sufocar.
- T-tae... – chamo, desesperada.
- Hm...?
- P-para o carro...
-Agora?
- Agora! - grito.

Sinto ele frear bruscamente no canto de uma calçada, e mal deixo ele parar pra tirar aquele cinto e pular pra fora do carro em busca de ar.

Saio desesperada, sugando o ar que não entra, não entra, não entra. A pior parte começa: a sensação de que não vou aguentar.

Vou morrer, vou morrer !

-Chloe? – as mãos dele me alcançam me fazendo parar e virar pra ele. Vejo no seu olhar o desespero ao ver meu estado. Tento falar mas só o que sai são puxadas de ar desesperadas. Seguro o colarinho do terno dele, desesperada.

- Inspira até o cinco e solta... tá bem?

1...

2...

3...

4...

5...

Solta...
Olha pra mim.

Como uma onda, o ar entrou em meus pulmões, me preenchendo, me desafogando. Meus olhos desembaçaram e tentei me concentrar.

Os olhos grandes e escuros, me puxando de volta a superfície, me ajudando a respirar.

Nas mãos dele me segurando ali.

Nos lábios abrindo e fechando, respirando comigo.

Na mão que agora subiu ao meu pescoço.

Nos cabelos que agora estavam bagunçado caindo sobre o rosto.

No cheiro dele, inebriante.

- Como tá?

- O-obrigada... – minha voz sai falha, fraca.

-Porra, você me assustou. – e de repente sou puxada pra um abraço. As mãos dele agora circulam minha cintura me prendendo a ele.

-Desculpa. – sussurro presa a ele.

- A culpa não foi sua. Eu quem deveria pedir desculpa por te meter nessa. – ele afasta o abraço, agora alisando meu cabelo, um sinal claro e estranho de carinho, até então, desconhecido por ele. – Vem, vamos pra casa.

E sua mão agora me puxa de novo pro carro, e aquilo não me incomoda, não mais.

_

Ao chegarmos em casa, desabo no sofá, literalmente exausta. Taehyung está no telefone, provavelmente falando com os seguranças sobre a perseguição de pouco tempo atrás. Meu saltos estão na mão dele. Desde quando ele...

-Acharam o carro? e o que tinha dentro dele ? Porra... E o quê mais? Ele não pode conseguir chegar perto dela de novo, estão me ouvindo? Não interessa, vasculhem cada merda de beco, rua e avenida dessa cidade em busca daquele filho da puta! E quando encontrarem... eu quero a cabeça dele numa bandeja na minha frente, entendido?

Minha espinha arrepia na hora ao ouvir aquilo , ali é literalmente outro Taehyung, um mais sério, mais brutal, mais... mortal. A voz dele exala morte e agonia.
Ele literalmente quer a cabeça do cara numa bandeja de prata.

-CARALHO! – Ele desliga o telefone, bufando de ódio. Até que lembra que ainda estou ali, observando ele.

Seu olhar muda na mesma hora, o ódio da lugar a uma espécie de ... não sei dizer bem o que.

Mas até a postura dele muda.

Ele caminha ao meu lado e desaba, pare e exausto.

- Tae? Quem era dirigindo aquele carro?

Ele não responde, não levanta a cabeça, as mãos brancas invadem os cabelos negros, puxando com força.

- O que ele queria?

Ele suspira.

- Quando você disse que não queria que chegassem perto dela... era de mim?

Ele ergue o olhar, os olhos vermelhos, furiosos.

Ele levanta, e me puxa junto. As mãos dele cercam meu rosto me fazendo olhar pra ele.

- Sempre deixei bem claro que não tinha chance dessa merda toda que nos colocaram dar certo. Mas prometi diante de todos naquela igreja que protegeria você, e que Deus me ajude, eu vou cumprir. Você carrega meu nome agora, e eu juro Chloe... que qualquer filho da puta que ousar chegar perto de você de novo, a alma dele vai ser a última coisa que eu vou arrancar.

As mãos geladas tremem me segurando. Coloco as mãos em cima das dele.

- Eu confio em você.

-Não deveria.

-Eu sei, mas parece que agora você seria a última pessoa que me faria algum mal.

Ele suspira.

- Isso é verdade .

São só negócios || K.T || 18+Onde histórias criam vida. Descubra agora