Demetrio Castelly
Tristeza e o luto eram os únicos sentimentos que naquele momento, recaíam sobre o Teatro Casa Vermelha. depois do triste acontecimento com Ligeia, trouxemos seu corpo para o Teatro. todos que estavam ali presentes esperançosos que Eric e eu a encontrássemos, ficaram abismados. Esmeralda, Adella, Vale, Dimitri e assim como todos os vampiros que tinham alguma proximidade com Ligeia estavam em total choque. todos eles presenciaram quando nós chegamos com ela e os bebês.
Eric veio junto de mim trazendo seus gêmeos em seus braços, enquanto eu trazia Ligeia nos meus sem vida. algo como aquilo, jamais havia acontecido. levamos ela e os bebês para enfermaria. os enfermeiros fizeram todos os tipos de exames nos bebês e graças aos céus, estava tudo bem com eles. logo eles foram liberados e Eric como um pai coruja levou seus filhos para seu quarto e lá ficou trancado com eles por horas. As meninas choraram e abraçaram o corpo frio de Ligeia na cama da enfermaria inconformadas porém, nada podiam fazer.
Eric não queria conversar com ninguém e quase não deixa Adella e Esmeralda chegarem perto das crianças. porém, ele teve que reconsiderar quando os recém nascidos choraram querendo se alimentar. a medida em que os pequenos choravam, algumas coisas começaram a cair no quarto de Eric e outras, simplesmente explodiam ou levitavam. um espelho grande explodiu com a força do choro deles. então ali, Eric compreendeu que os bebês tinham uma força incrível e descomunal além da sua compreensão.
ele as deixou entrar junto de Vale para que eles os vissem. e lá, Vale tentou segurar a barra com Eric enquanto elas o ajudavam a alimentar e cuidar dos bebês. Esmeralda e Adella tiveram de misturar leite com sangue para que eles ficassem saciados afinal, os gêmeos eram híbridos. descobrimos que os dois eram metade vampiros e metade bruxos.Eric não queria de forma alguma olhar ou chegar perto do corpo de Ligeia. ele estava inconformado. e o pior, é que eu compreendia perfeitamente como ele estava se sentindo. Eric estava de coração partido e com a consciência pesada depois de tudo que aconteceu entre Ligeia e ele. A culpa e a tristeza o estavam consumindo. em todos esses meus anos de existência, eu jamais havia visto-o da forma como eu vi dessas horas para cá. de um homem arrogante e teimoso, para feliz e apaixonado com a chegada de seus filhos, e logo depois ter em si a pior dor possível que era perda de sua amada. queria eu poder falar algo que pudesse o consolar. porém era difícil até para mim naquele momento. senti em mim uma dor semelhante, quase parecida com a dor que senti quando perdi Hermia. por isso eu conseguia compreender tudo que ele estava sentindo.
***
Ali, já em meus aposentos, coloquei minha cabeça sobre a barriga de Helena que ainda se encontrava adormecida e não contive minhas emoções. botei tudo para fora chorando como uma criança por toda aquela desgraça que havia recaído sobre a Casa Vermelha, enquanto contava para Helena adormecida tudo o que havia ocorrido.
Depois de algumas horas, organizamos uma enorme sala e nela colocamos o corpo de Ligeia deitado sobre um enorme caixão de bronze com o forro em veludo azul marinho. ela estava linda, seus longos cabelos negros que escorriam sobre o veludo azul davam um contraste especial. ela estava vestida com um lindo vestido longo vermelho e caracterizada como a ex anciã do Teatro Casa Vermelha. eu havia ordenado que a cuidassem bem mesmo após sua honrosa morte. todos já haviam se despedido dela. todos os seus amigos e colegas. aquela foi a parte mais difícil que todos nós estávamos tentando lidar.
Todos saíram deixando apenas ela e eu.
- Ligeia... - falei enquanto me aproximava dela. - minha querida Ligeia...minha querida amiga! Quero me despedir de você adequadamente depois de tudo que aconteceu. Eu gostaria de falar uma última coisa que eu tenho escondido de você por longos anos, porque sempre achei que você não suportaria a dor de carregar isso. então eu a carreguei por você há anos e aprendi a lidar com ela. Eu quero que saiba que, infelizmente, você presenciou a morte de Alejandro. Naquele fatídico dia, você já estava quase morrendo com a peste negra. mas, ainda estava acordada quando os Aldeões invadiram a sua casa e Alejandro tentou inutilmente acalmá-los. porém, não teve jeito. Os aldeões levaram Alejandro. Você Estava imóvel deitada em sua cama do lado da janela de seu quarto e dessa janela, você presenciou a desgraça que acontecia do lado de fora. os aldeões amarraram alejandro sobre uma pira e o queimaram ainda vivo. você assistiu tudo enquanto ele gritava desesperado sobre as chamas que consumiam seu corpo. então, percebi ali que não havia jeito senão fugir com Helena ainda bebê e você. apareci junto de Rios e percebi o trauma que você carregaria em sua alma pelo resto de sua vida, se é que viveria muito. Rios era um habilidoso compulsor mental. Ele possuía o poder de ocultar lembranças caso fosse necessário. Fiz com que ele ocultasse essa lembrança de sua memória, e então finalmente quando ele terminou, eu lhe dei a imortalidade. apenas não esperava que você entrasse em torpor vampírico. você não acordava mas também não morria. então fiz a coisa mais sensata que poderia ter feito naquele momento. levei você e Helena junto comigo e desaparecemos antes que os aldeões entrassem e incendissem sua casa por completo. Essa é a dura verdade que tenho escondido por longos e longos anos de você Ligeia. mas agora, vejo que não tenho mais porque carregá-lo comigo. eu realmente sinto muito por tudo o que aconteceu no passado, e por tudo o que aconteceu no presente para que você estivesse aqui e agora, desta maneira. seus filhos são perfeitos. eu prometo que ajudarei Eric a cuidar deles. na verdade, todos nós. Eles não estão sozinhos Ligeia! - falei e então me aproximei um pouco mais e me abaixei a abraçando uma última vez, mesmo sabendo que ela não poderia retribuir aquele abraço. uma lágrima pesada escorreu de meu olho e caiu em seu rosto enquanto eu beijava sua testa. me recompus e me levantei saindo a deixando ali sozinha.
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Noites Rubras
VampireDepois de quase dez séculos de guerras que deixaram rastros intermináveis de destruição, sangue, e caos, finalmente para os sobreviventes dos quatro clãs principais vampiros, restaram dias de uma pouca felicidade que quase foram completamente perdid...