Passado, Presente

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Aquele era mais um dia comum em que Alejandro precisou sair para ir trabalhar e eu ficava sozinha naquela grande casa. Eram exatamente quatro da tarde e eu já estava em casa. movida pelos desejos de gravidez que já começavam a me atormentar, estava preparando alguns cookies no forno. enquanto eu estava ali esperando e pensando no encontro inesperado que tive com Eric mais cedo, do nada ouço batidas na porta de entrada.

- quem seria? - pensei comigo mesma e então fui até abri-la.

eu abri a porta e então me deparo nada mais, nada menos com Demetrio me olhando sério.
- Ligeia...- ele falou com uma voz em tom de preocupação.

Naquele momento, cenas se passaram pela minha mente. cenas do dia em que Demetrio não acreditou em mim no dia em que foi me visitar na prisão, cenas do julgamento em que ele me acusou de ter tentado matar Helena... a raiva e a tristeza começaram a encher meus olhos e então fiz a única coisa que uma mulher magoada faria. de uma vez, bati a porta na cara de Demetrio.

- Ligeia, por favor, abra a porta e me deixe entrar. preciso falar com você. eu não estaria aqui se não fosse importante! - Demetrio falou e eu percebi praticamente o desespero em seu tom de voz.
- Demetrio, seja lá o que veio fazer aqui ou tentar falar, é tarde. não quero mesmo ouvir o que tem a dizer e não quero falar com você então, só vá embora! - falei já ficando irritada.
- por favor eu prometo que vai ser rápido e eu não voltarei mais! - Demetrio falou atrás da porta.
- vá embora Demetrio! - eu respondi e saí voltando para a cozinha.
- eu sei que está grávida Ligeia! - Demetrio falou de uma vez.
Eu o olhei do lado de fora pela fresta de vidro da porta e praticamente sai correndo, indo abrir a porta.
- eu sei sobre o bebê, Ligeia...eu...por favor, me deixe entrar eu prometo que não vou demorar.

Eu o olhei e respirei profundamente irritada, vendo que não tinha escolha, então o deixei entrar.
- vamos até a cozinha. - falei séria e ele entrou.
- por que até a cozinha? podemos conversar aqui mesmo na sala.
- rs por que depois do que fez comigo, você Demetrio Castelly, não vale o tempo que o forno levaria para queimar um bom e delicioso cookie! - falei e Demetrio abaixou sua cabeça sem jeito.

Seguimos juntos para a cozinha e ele ficou de pé perto da porta de entrada. vi que os minutos haviam passado rápido e os meus biscoitos ficaram prontos. eu me abaixei devagar e os tirei do forno, esperando que esfriassem logo.
- você parece ótima Ligeia.
- olha Demetrio, nem comece. se veio aqui pedir meu perdão, sinto em dizer. é tarde demais para isso!
- não foi por isso que vim. eu só...precisava ver com meus próprios olhos se você estava bem...e se, precisava de alguma coisa.
- rs... é sério que você só veio se preocupar comigo ou imaginar se eu estaria bem agora, depois de cinco meses?? Se não fosse por Adella Demetrio, eu nem sei o que seria de mim, provavelmente estaria dormindo nas ruas!

- você sabe muito bem que eu não podia ajudá-la! O acordo que fiz com o príncipe e a Astrix para salvar você foi a única coisa que pude fazer naquele momento! Você deve se lembrar do que me exigiram!
- sim eu sei.
- não pense por um único momento que eu não me preocupo ou deixo de pensar em você, ou eu não estaria aqui agora Ligeia Volturi!
- tudo bem senhor Demetrio Castelly. Mas, estou bem como pode ver. a única coisa da qual preciso agora no exato momento, é que você me jure que não vai contar a ninguém e especialmente a Eric sobre o meu estado!
- e por que eu faria isso Ligeia? você não acha que mesmo separada dele, ele não deveria saber de algo importante assim?
- não ouse Demetrio Castelly! por que esse segredo não é seu para que você conte a ele! Demetrio Castelly, eu proíbo você de contar isso ao Eric!
- tudo bem, como queira. bom, eu... já vou. estou feliz em saber que está bem. - Demetrio se virou e ia saindo.

- obrigada Demetrio! - falei de uma vez o fazendo se virar e me olhar surpreso.
- pelo que está me agradecendo?
- estou magoada com você, mas reconheço que salvou minha vida no dia do meu julgamento. quando descobri que estava grávida, eu entendi por que pediu a Astrix e ao príncipe para pouparem minha vida. então obrigada por isso.
- pode pensar o que for de mim Ligeia, pode estar com raiva de mim mas saiba que eu nunca permitiria que lhe fizessem mal!
- eu sei disso. e é por isso mesmo que estou confiante de que não contará a ninguém, e nem ao Eric sobre mim.

Demetrio e eu nos olhamos por alguns segundos.
- bom, acho melhor que vá embora agora Demetrio, se já comprovou que estou bem.
- claro. Ligeia eu...não deveria pedir isso mas...eu poderia a abraçar antes de ir? - Demetrio me olhou e perguntou sem jeito.
eu o olhei e mesmo sem querer, senti que ele estava muito tenso. eu então me aproximei devagar e o abracei. Demetrio sentiu meu coração e o do bebê que batiam sincronizados.

Pela primeira vez na minha vida, pude ver Demetrio emocionado.
- sinto muito de verdade que as coisas tenham acontecido do jeito que aconteceram. mas estou feliz por que pelo menos está bem. me perdoe Ligeia, eu não deveria nunca ter duvidado de você! - Demetrio falou enquanto seus olhos estavam marejados.
- por que está dizendo isso agora?
- desde que aconteceu isso tudo, não tenho conseguido dormir direito, minha consciência pesa por que esses meses todos estive na dúvida me perguntando se realmente tinha sido você quem fez aquilo tudo, e no fim das contas percebo finalmente que não era você, e sim desconfio que tudo isso foi uma armação!
- armação?? desculpa, acho que não entendi Demetrio... - perguntei espantada.
- por que só agora pude ter certeza que não foi você quem tentou matar Helena Ligeia, assim como não foi você quem fez aquele maldito massacre em Belém, eu não sei o que aconteceu pra que o Eric te deixasse, mas pelo menos pude salvar você e seus bebês da morte! - Demetrio falou em lágrimas.
- o que? você disse bebês?? - perguntei a ele já ficando emocionada.
- sim Ligeia. eles. rs, são gêmeos! - Demetrio falou e me abraçou fortemente. - meus parabéns!
eu o abracei e chorei junto dele.
Demetrio me olhou e beijou minha testa emocionado.
- Ligeia, por favor ouça. eu vim até aqui por que eu precisava lhe contar algo importante e... - estávamos ali tão entretidos que nem ouvimos quando Alejandro chegou do trabalho e estava ali nos olhando abraçados.

- Demetrio?? - Alejandro perguntou muito espantado.
Demetrio escutou aquela voz masculina tão familiar para ele. o mesmo sentiu um leve arrepio na espinha e congelou ali. eu olhei Demetrio sorrindo e olhei para Alejandro e depois para ele novamente o convidando a se virar. Demetrio se virou devagar muito desconcertado e então o viu ali.
- Alejandro?? - Demetrio ficou paralisado e tão surpreso que mal se mexia.
- Alê que bom que já chegou... - falei sorridente para ele e olhei Demetrio.
- Alejandro...meu Deus, mas...como??! estou vendo coisas?? - Demetrio me perguntou muito espantado.
- sou eu Demetrio, eu voltei! - Alejandro veio e abraçou Demetrio.
- relaxa Demetrio também me senti desse mesmo jeito quando descobri que ele tinha voltado.
- mas...como??
- longa história. acho melhor se sentar pois vamos conversar por horas...rs - Alejandro falou e nós três fomos para a varanda do lado de fora.

Alejandro e Demetrio passaram vários minutos conversando enquanto eu preparava algo para ambos comerem. Alejandro explicou tudo para o mesmo. Demetrio contou a ele tudo o que aconteceu depois que queimaram nossa casa na Itália. horas depois, Demetrio precisou voltar para o Teatro. então enquanto Alê foi para o banho, eu acompanhei Demetrio até o lado de fora. ele ficou me olhando como se estivesse me analisando.
- você está feliz Ligeia? - Demetrio perguntou.
- bem, depende de qual sentido esteja me perguntando isso.
- sobre seus filhos sei que sim. agora, e sobre Alejandro... Eric...sei que não deveria perguntar isso, mas...
- eu entendi o que quis dizer Demetrio. bem, Alejandro tem sido pra mim tudo o que estou precisando. ele é um grande homem.
- mas...
- mas... ainda existe o Eric no meio de nós dois. isso não mudou. principalmente agora não é? rs - falei e peguei em meu ventre. - como ele está Demetrio?
- mais isuportável que antes Ligeia. porém depois que vocês terminaram ele parece que perdeu o resto de humanidade que tinha. ele está oco, frio, irritado com tudo... Muito pior do que antes de conhecê-la.
- deixe ele se torturando nas próprias Ilusões. é o castigo que dou a ele por ser um imbecil comigo. quando vier novamente, vou lhe contar tudo o que aconteceu em Belém.
- certo. preciso ir agora Ligeia. por favor eu peço que se cuide. principalmente agora...e a propósito, Alejandro parece dizer a verdade mas não está tão convincente. - Demetrio baixo se aproximando de mim.

Olhei ele e depois, para dentro da casa.
- do que está falando Demetrio? acha que ele está mentindo?
- você sabe que posso ler mentes também. Alejandro falou a verdade em tudo, menos na parte em que ele explica como despertou. ele está omitindo algo.
- mas...
- confie em mim. sei do que estou falando.

Mesmo sem entender o que ele quis dizer com aquilo, Demetrio se despediu de mim e abriu um portal de sombras.
- ah e antes que eu vá, eu preciso falar algo para você muito importante. mas infelizmente, será apenas da próxima vez que eu vier.
- quando virá novamente?
- em breve. até lá, se cuide velha amiga.
- Demetrio? - o chamei e ele me olhou. - não se esqueça do que me prometeu!
Demetrio assentiu para mim e passou pelo portal de sombras e foi embora.
Eu olhei na direção da casa e também entrei para dentro. enquanto a noite caia lentamente do lado de fora.

Noites RubrasOnde histórias criam vida. Descubra agora