cap 8 - it must have been a deadly kiss

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A Academia onde Joseph estava estudando não era tão distante de onde ele e Mera moravam, mas o rapaz sempre chegava exausto, e por essa razão pararam de se ver com tanta frequência.

Ele a ligou quando conseguiu seu primeiro papel para uma minissérie televisiva e londrina, para contá-la de sua maravilhosa conquista.

– Que incrível! – A moça vibrou do outro lado do telefone, sentada em sua velha poltrona bege. Do outro lado, em outra casa, a apenas alguns metros de distância, Joe estava deitado na cama com um caderno na mão, desenhando enquanto conversava com a amiga. – E onde vai passar?

– Na CBBC, dá para acreditar? – Ele responde, muito animado. Está tão sorridente que o sorriso mal cabe em seu rosto, entre aquelas bochechas redondas e dentro daqueles lábios rosados.

– Terei um amigo famoso, finalmente?

– Bom... se não levar em consideração que vou aparecer só no primeiro episódio. – Joe responde, rindo.

– Já está bem melhor que eu, que não vou aparecer em nenhum.

– Você é cantora, Mera.

A menina revira os olhos. – Não sou.

– Mas é baterista, guitarrista, e se vira com qualquer instrumento que colocarem em suas mãos...

Joe consegue ouvir a risada baixinha de Mera do outro lado da linha, abafada. Sente vontade de levantar-se e ir vê-la rir pessoalmente, mas já passam das dez da noite e está cansado. Resolve continuar:

– Logo será famosa também.

– Difícil.

– Por quê? – Ele franze o cenho como se ela fosse capaz de enxergar sua expressão. Mera não vê, mas conhece o loiro tão bem que sabe que cara ele está fazendo nesse exato momento. – Já deu o primeiro passo: postar no Youtube.

No ano em que Joe deu seu primeiro grande passo para a carreira de ator, Mera deu seu primeiro grande para – seja lá o que fosse – a sua carreira. Ela adorava cantar, mas não era o seu foco ao produzir os vídeos tocando os vários instrumentos, misturando e conseguindo demonstrar seu enorme talento ao deixar os covers parecidos ao máximo com as músicas originais. Queria que as pessoas soubessem o quão talentosa ela podia ser com as mãos naqueles instrumentos, o quão perspicaz conseguia ser quando queria – e tocar tudo o que quisesse.

Gravava vídeos separados e depois juntava tudo, passando horas em frente ao computador aprendendo a editar e fazendo tudo perfeito. Até o momento, ainda não havia conseguido muitas visualizações. Então era ela de um lado em frente ao computador, e Joseph do outro em frente aos livros e roteiros para as encenações, além dos próprios estudos que a Academia exigia.

Eles passaram todo o ano de 2011 vendo-se poucas vezes, mas conversando majoritariamente por ligações, no caso de contar alguma novidade. Assim foi em novembro, quando durante uma ligação, Joseph diz:

– Tenho algo para contar.

– Diga. – Mera responde, distraidamente pintando as unhas dos pés enquanto segura o telefone com o ombro. Ela não esperava por nenhuma notícia que fosse tirá-la o ar. Joe fica um tempo mudo, mas Mera ouve sua respiração. – O que foi?

– Acho que estou namorando.

Aquela frase faz o coração de Mera palpitar como nunca mais havia palpitado, de uma forma que ela duvidava que seria possível. Havia certo tempo desde que se sentiu daquele jeito – sua barriga revirava, seus olhos paralisavam na parede, as mãos paravam de pintar, sua mão gelava. A Sra. Jones, que estava sentada no sofá a tricotar e assistir, nota o silêncio repentino da filha após uma frase suspeita, e desvia o olhar da pequena tv para Mera, a flagrando um pouco em choque.

– O que houve? – Ela sussurra.

Mera pisca os olhos rapidamente e balança a cabeça negativamente, querendo dizer que não houve nada. A mais velha e experiente claramente não acredita, mas deixa estar, enquanto a mais nova vai recobrando consciência para poder responder ao amigo.

– Porque você "acha", e não tem certeza?

– Ainda não a pedi em namoro. Estamos saindo.

Mera lentamente fecha o esmalte e o coloca em cima da bancada onde fica o telefone, sentindo muita vontade de apenas desligar. Mas sabe que deve ouvi-lo – eles já não estão tão próximos quanto antes, não quer perdê-lo por completo.

– E por qual motivo ainda não pediu?

Joe respira fundo, ela escuta. Mera começa a segurar o telefone com a mão, sentindo-se tensa, os dedos ficando brancos de tão forte que está pegando no aparelho.

– Não criei coragem.

Sem saber o motivo, e momentaneamente despreocupada dele, Mera pensa "espero que nunca crie".

Mas responde, tentando manter o humor para que Joe não desconfie dos seus batimentos cardíacos acelerados sem motivo aparente: – Tudo bem. Quem é a azarada?

Joe ri pelo nariz. Está distraído, rabiscando com uma caneta preta em um caderno velho, pensando.

– Chama-se Elizabeth.

– Em homenagem à rainha?

– É. Estranho, não é?

– Um pouco.

– Mas a chamo de Liz.

Mera assente, sem lembrar de que ele não a enxerga. Liz, a garota repete em pensamento. Não sente muita vontade de responder, nesse momento só quer se deitar e pensar – para tentar entender o que é que está sentindo. Pensar e pensar.

– A conhecerei em sua festa de aniversário? – Mera sugere com o tom da voz baixo.

A festa de Joe está marcada para dali a dois meses, na casa dos Quinn.

– Talvez no Natal.

Mera se sente ficar tonta e acaba por encostar a cabeça na poltrona, então a Sra. Jones se levanta e fica de pé em sua frente, observando atenta e curiosa, largando o tricô.

– Vejo que é sério mesmo. – Ela murmura.

Joe ri, Mera não.

– Talvez. – Os dois ficam em silêncio por um longo tempo. A menina está tentando manter a calma, mas tudo ao seu redor parece esvair sua paciência. Não está ficando irritada, mas triste, o que a deixa ainda mais inquieta.

Então Joe boceja. – Veja, pequena Mera, vou dormir. Estou cansado. Depois nos falamos?

– Ok.

– Boa noite.

Eles desligam, e é quando Mera olha diretamente nos olhos da mãe, preocupados e prestativos, que se permite chorar pela primeira vez. Mais tarde, a menina vai culpar aquelas lágrimas nos hormônios da menstruação que estava por vir, mas o íntimo de seu coração sabe o verdadeiro motivo. A Sra. Jones também sabe.

A garota não quis explicar, mas a mãe entendeu tudo quando, no Natal, viu Joe de mãos dadas com uma garota de sua idade, cabelos castanhos escuros, magra, um pouco pálida e bastante sorridente. Descobriu que ela também era atriz e que haviam se conhecido na Academia.

Mera só ficou sabendo de tudo isso algum tempo depois, pois não foi à festa de Natal.

only friend i need || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora