A Academia onde Joseph estava estudando não era tão distante de onde ele e Mera moravam, mas o rapaz sempre chegava exausto, e por essa razão pararam de se ver com tanta frequência.
Ele a ligou quando conseguiu seu primeiro papel para uma minissérie televisiva e londrina, para contá-la de sua maravilhosa conquista.
– Que incrível! – A moça vibrou do outro lado do telefone, sentada em sua velha poltrona bege. Do outro lado, em outra casa, a apenas alguns metros de distância, Joe estava deitado na cama com um caderno na mão, desenhando enquanto conversava com a amiga. – E onde vai passar?
– Na CBBC, dá para acreditar? – Ele responde, muito animado. Está tão sorridente que o sorriso mal cabe em seu rosto, entre aquelas bochechas redondas e dentro daqueles lábios rosados.
– Terei um amigo famoso, finalmente?
– Bom... se não levar em consideração que vou aparecer só no primeiro episódio. – Joe responde, rindo.
– Já está bem melhor que eu, que não vou aparecer em nenhum.
– Você é cantora, Mera.
A menina revira os olhos. – Não sou.
– Mas é baterista, guitarrista, e se vira com qualquer instrumento que colocarem em suas mãos...
Joe consegue ouvir a risada baixinha de Mera do outro lado da linha, abafada. Sente vontade de levantar-se e ir vê-la rir pessoalmente, mas já passam das dez da noite e está cansado. Resolve continuar:
– Logo será famosa também.
– Difícil.
– Por quê? – Ele franze o cenho como se ela fosse capaz de enxergar sua expressão. Mera não vê, mas conhece o loiro tão bem que sabe que cara ele está fazendo nesse exato momento. – Já deu o primeiro passo: postar no Youtube.
No ano em que Joe deu seu primeiro grande passo para a carreira de ator, Mera deu seu primeiro grande para – seja lá o que fosse – a sua carreira. Ela adorava cantar, mas não era o seu foco ao produzir os vídeos tocando os vários instrumentos, misturando e conseguindo demonstrar seu enorme talento ao deixar os covers parecidos ao máximo com as músicas originais. Queria que as pessoas soubessem o quão talentosa ela podia ser com as mãos naqueles instrumentos, o quão perspicaz conseguia ser quando queria – e tocar tudo o que quisesse.
Gravava vídeos separados e depois juntava tudo, passando horas em frente ao computador aprendendo a editar e fazendo tudo perfeito. Até o momento, ainda não havia conseguido muitas visualizações. Então era ela de um lado em frente ao computador, e Joseph do outro em frente aos livros e roteiros para as encenações, além dos próprios estudos que a Academia exigia.
Eles passaram todo o ano de 2011 vendo-se poucas vezes, mas conversando majoritariamente por ligações, no caso de contar alguma novidade. Assim foi em novembro, quando durante uma ligação, Joseph diz:
– Tenho algo para contar.
– Diga. – Mera responde, distraidamente pintando as unhas dos pés enquanto segura o telefone com o ombro. Ela não esperava por nenhuma notícia que fosse tirá-la o ar. Joe fica um tempo mudo, mas Mera ouve sua respiração. – O que foi?
– Acho que estou namorando.
Aquela frase faz o coração de Mera palpitar como nunca mais havia palpitado, de uma forma que ela duvidava que seria possível. Havia certo tempo desde que se sentiu daquele jeito – sua barriga revirava, seus olhos paralisavam na parede, as mãos paravam de pintar, sua mão gelava. A Sra. Jones, que estava sentada no sofá a tricotar e assistir, nota o silêncio repentino da filha após uma frase suspeita, e desvia o olhar da pequena tv para Mera, a flagrando um pouco em choque.
– O que houve? – Ela sussurra.
Mera pisca os olhos rapidamente e balança a cabeça negativamente, querendo dizer que não houve nada. A mais velha e experiente claramente não acredita, mas deixa estar, enquanto a mais nova vai recobrando consciência para poder responder ao amigo.
– Porque você "acha", e não tem certeza?
– Ainda não a pedi em namoro. Estamos saindo.
Mera lentamente fecha o esmalte e o coloca em cima da bancada onde fica o telefone, sentindo muita vontade de apenas desligar. Mas sabe que deve ouvi-lo – eles já não estão tão próximos quanto antes, não quer perdê-lo por completo.
– E por qual motivo ainda não pediu?
Joe respira fundo, ela escuta. Mera começa a segurar o telefone com a mão, sentindo-se tensa, os dedos ficando brancos de tão forte que está pegando no aparelho.
– Não criei coragem.
Sem saber o motivo, e momentaneamente despreocupada dele, Mera pensa "espero que nunca crie".
Mas responde, tentando manter o humor para que Joe não desconfie dos seus batimentos cardíacos acelerados sem motivo aparente: – Tudo bem. Quem é a azarada?
Joe ri pelo nariz. Está distraído, rabiscando com uma caneta preta em um caderno velho, pensando.
– Chama-se Elizabeth.
– Em homenagem à rainha?
– É. Estranho, não é?
– Um pouco.
– Mas a chamo de Liz.
Mera assente, sem lembrar de que ele não a enxerga. Liz, a garota repete em pensamento. Não sente muita vontade de responder, nesse momento só quer se deitar e pensar – para tentar entender o que é que está sentindo. Pensar e pensar.
– A conhecerei em sua festa de aniversário? – Mera sugere com o tom da voz baixo.
A festa de Joe está marcada para dali a dois meses, na casa dos Quinn.
– Talvez no Natal.
Mera se sente ficar tonta e acaba por encostar a cabeça na poltrona, então a Sra. Jones se levanta e fica de pé em sua frente, observando atenta e curiosa, largando o tricô.
– Vejo que é sério mesmo. – Ela murmura.
Joe ri, Mera não.
– Talvez. – Os dois ficam em silêncio por um longo tempo. A menina está tentando manter a calma, mas tudo ao seu redor parece esvair sua paciência. Não está ficando irritada, mas triste, o que a deixa ainda mais inquieta.
Então Joe boceja. – Veja, pequena Mera, vou dormir. Estou cansado. Depois nos falamos?
– Ok.
– Boa noite.
Eles desligam, e é quando Mera olha diretamente nos olhos da mãe, preocupados e prestativos, que se permite chorar pela primeira vez. Mais tarde, a menina vai culpar aquelas lágrimas nos hormônios da menstruação que estava por vir, mas o íntimo de seu coração sabe o verdadeiro motivo. A Sra. Jones também sabe.
A garota não quis explicar, mas a mãe entendeu tudo quando, no Natal, viu Joe de mãos dadas com uma garota de sua idade, cabelos castanhos escuros, magra, um pouco pálida e bastante sorridente. Descobriu que ela também era atriz e que haviam se conhecido na Academia.
Mera só ficou sabendo de tudo isso algum tempo depois, pois não foi à festa de Natal.
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only friend i need || joseph quinn
FanfictionMera e Joseph são melhores amigos desde o nascimento. O tempo mostra que não se trata de apenas uma simples amizade. Mera é a primeira a sentir os indícios do amor, mesmo que não entenda; Joseph sente, mas não percebe; e ambos crescem com isso. Mais...