cap 1 - destinos cruzados

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Em maio de 1993, quando a Sra. Quinn finalmente descobre a gravidez, a Sra. Jones é a primeira pessoa em quem ela pensa para contar. Isso, em respeito à quando, lá em 1990, a Sra. Quinn foi a primeiríssima a saber que a Sra. Jones ia se casar. 

A amizade que a as duas levavam era leal, íntima e de teor familiar. Como se houvesse ali um laço atado que não seria fácil de destruir – desde o dia em que se conheceram na vizinhança do antigo bairro onde moravam quando pequenas.

Por coincidência, cerca de um mês depois, a Sra. Jones entra, aos prantos, na casa dos Quinn a dentro. Ambas se encararam assustadas, quando se foi dito que a Sra. Jones também estava grávida.

Não foi planejado, e pelo acaso – como uma delas cria –, ou pelos planos de Deus – como a outra acreditava –, passaram toda a gestação juntas e unidas. Tricotavam, costuravam, riam, compravam enxovais, comiam todas as espécies de refeições mais estranhas, compartilhavam segredos e pensamentos deprimidos, alegres; sempre juntas.

Certo dia, os hormônios à flor da pele jamais explicariam, pois era de coração e fruto de longos pensamentos, a Sra. Quinn comentou, como que distraidamente, enquanto cozia o almoço e a Sra. Jones balançava-se em uma cadeira:

— Decidi o nome do meu menino.

Foi dito com uma calma tão complacente, que a Sra. Jones não entendeu se havia escutado corretamente, visto que ela mesma quase cai da cadeira.

— O quê?

A Sra. Quinn riu brevemente, modesta, observando-a por trás do ombro e mexendo a colher no ensopado.

— Eu decidi o nome do menino!

Os olhos da Sra. Jones brilharam genuinamente, um sorriso nasceu ali como um neném, e ela levantou-se com a dificuldade dos oito meses de gestação, caminhando vagarosa e dolorosamente até a amiga para observá-la falar. Parecia que a compreendia melhor quando a visualizava diretamente. Nos olhos de botão de chocolate.

— E qual vai ser?

— Joseph.

— É um nome lindo — a Sra. Jones responde, tocando o ombro da amiga com singelo carinho.

Mas a Sra. Quinn ainda não acabou. 

— Sabe por quê?

— Não — Jones a encara confusa —, por quê?

Agora são os olhos da amiga que brilham. 

— Quis que o nome dele fizesse referência ao seu sobrenome.

A Sra. Jones ficou tão emocionada que a abraçou ali mesmo, as cabeças uma ao lado da outra, o resto do corpo impedido pelas barrigas enormes, o ensopado quase queimando, as lágrimas recíprocas descendo. Nada ao redor delas importava além da conexão real da qual desfrutavam naquele instante.

Em 26 de janeiro de 1994, nasce Joseph Quinn. E como que por inveja, mas na verdade, por coincidência, em 26 de fevereiro de 1994, nasce Quimera Jones, filha da melhor amiga da mãe de Joseph. Só quando a Sra. Quinn vai visitar a amiga no puerpério, é que ela confessa que também batizou a filha com um nome da inicial de seu sobrenome.

A Sra. Quinn ficou confusa, risonha. — E que nome conseguiu encontrar com Q?

— Quimera — respondeu ela, afagando as ondas de cabelo curtas e claras da garotinha em seu colo. — Significa esperança.

Apesar disso, o fato é que a garota cresceu odiando seu próprio nome.

Não era para menos, afinal, na escola era provocada pelos outros significados da palavra: tubarão – entre as mais criativas espécies de peixes –, de besta, de fera. Então sempre se apresentava como Kim, ou mesmo como Mera, que era, particularmente, o seu preferido. Todos que não queriam irritá-la concordavam em chamá-la de Kim; já Joe, gostava mesmo era de chamá-la de Mera.

— Você precisa entender, meu amor — sua mãe tentava explicar —, você deveria ter orgulho do seu nome. Foi uma linda homenagem entre mim e a Sra. Quinn.

— Não seja por isso, eu entendo, mamãe — a garota respondia, braços cruzados, bochechas rechonchudas e um bico irritadiço nos pequenos lábios infantis. — Os babacas da escola é que não entendem. Continuam com essa palhaçada de me chamar de besta.

— Olha o palavreado, filha — como sempre costuma, sua mãe a repreende. Depois suspira, sentando-se em sua frente e pegando-lhe as mãos com ternura. — Significa esperança.

A menina relaxa os ombros ao olhar nos brilhantes olhos da mãe. Ela entende. Nunca odiou seu nome até a fazerem odiá-lo.

— Tudo bem. Mas Kim tem quase o mesmo som que Quinn. Pode ser?

A mãe ri nasalmente, voltando aos seus afazeres e desistindo da teimosia da filha, aceitando por ora.

Ela sabia que aquela personalidade forte, ousada, porém compreensiva, vinha diretamente do Sr. Jones. Ele adoraria ver uma mini versão sua tão linda quanto Mera, se ainda estivesse aqui. Cresceria tão forte quanto ele foi.

only friend i need || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora