✠°•°CAP |14|°•°✠

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Chegando em casa, Shouto se surpreendeu ao ver sua mãe junto com Fuyumi, sua irmã mais velha, juntas na sala conversando. Caminhando até elas, se curvou respeitoso para ambas antes de falar.

— Que bom ver as duas em casa hoje.

— Bem vindo de volta querido. Como foi a escola? - perguntou sua mãe batendo ao seu lado no sofá indicando que sentasse.

— A entrevista de carreira foi hoje, os professores me apoiaram com a minha decisão. - informou.

— Que bom. - disse Fuyumi orgulhosa. — E teve mais alguma coisa boa? - insistiu ela ajeitando seus óculos. Os cabelos longos e brancos da irmã, eram lindos, ainda mais devido as mechas vermelhas.

— Passei um tempo com Bakugo. Ele me deixou motivado para estudar ainda mais. - declarou emocionado.

— Séria muito bom se chamasse ele para vir jantar conosco na sexta, Natsuo vai estar aqui. Também queremos conhecer o Kazinho. - sugeriu Rei com um sorriso meigo.

Shouto ficou receoso. Não sabia se o loiro iria aceitar ir jantar em sua casa. E provavelmente não iria gostar de descobrir que sua família lhe chamava de Kazinho. Todos acreditavam que Katsuki era um ômega pequeno e fofo, então lhe deram aquele apelido.

— Vou convidar. – prometeu



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Hitoshi se sentia preso dentro do apartamento. Não podia sair sozinho, Inko dormia durante o dia e trabalhava pela noite. Izuku estudava durante o dia e lhe ignorava a noite. Os finais de semana o alfa passava trancado no quarto, ou saia com os amigos.

Não sabia como contornar a situação, não queria pedir desculpas, mas já haviam se passado duas semanas daquele jeito e era muito desconfortável. Hitoshi não aguentava mais ficar assim, era torturante. Inko tirou seu gesso e ficou feliz por finalmente mover sua mão livremente. Aquele foi o único dia em que Izuku esboçou alguma reação, o alfa de cabelos verdes ficou feliz e até lhe perguntou se estava bem. Depois voltou a lhe ignorar.

Ouvindo passos do lado de fora do quarto, Hitoshi ficou quieto esperando Izuku fechar a porta do outro quarto. Só então podia sair sem dar de cara com o alfa. Hitoshi foi até a cozinha pegar um copo com água e alguns salgadinhos para comer escondido.

Antes de voltar, ouviu o som da TV ligada e se desesperou. Izuku estava na sala. Agora teria que passar por ele para poder ir até o quarto. De mansinho, Hitoshi deu uma olhada para a sala confirmando que Izuku estava sentado no sofá.

— Isso é muito infantil. - falou a si mesmo cansado de tudo isso.

Deixou os salgadinhos de lado e decidiu enfrentar aquele problema de frente e resolver logo. Precisavam resolver tudo como adultos e parar com aquela palhaçada. Caminhou com confiança até a sala e parou ao lado do alfa. Izuku o ignorou completamente e continuou assistindo um programa qualquer.

— Precisamos conversar. - declarou firme.

Em resposta, Izuku aumentou o volume da TV no máximo fazendo com que o barulho tirasse a paciência do ômega. Estava ali tentando falar com ele e finalmente acabar com todo aquele incômodo entre eles, para então ser tratado daquela forma? Inaceitável.

Hitoshi foi até a TV e puxou o cabo da tomada surpreendendo o alfa.

— Porra Hitoshi, eu não quero falar com você. Que merda! - esbravejou Izuku jogando o controle de lado e levantando do sofá bufando de raiva.

— Eu não ligo, já chega disso. Não somos mais crianças, ficar nessa situação é cansativo. - proferiu controlado. Não queria começar a gritar com raiva, isso não ajudaria em nada e era melhor do que isso.

— Tem razão. Você estava certo, eu nunca vou ter um ômega e vou morrer solteiro. Satisfeito? - depois disso, Izuku se dirigiu até o quarto, mas foi impedido pelo ômega que se colocou a sua frente.

— Não. Vamos fazer isso direito. Eu sei que passei dos limites e peço desculpas, mas a culpa não é só minha. - apontou tentando parecer sério. Izuku tentou se desviar para ir embora, mas Hitoshi se manteve impedindo sua fuga. — Todos os dias você me machucava, sempre me criticando e me humilhando por cada coisinha que eu fazia, fiquei cansado e quis revidar. Mas eu não imaginei que você ficaria tão chateado.

Suspirando cansado, Izuku parou de tentar escapar e ficou encarando o ômega de forma nada contente.

— Me desculpe Hito. Eu sou muito babaca e sei disso. Eu não sabia como me aproximar de você como antes e fiquei te zoando. Adquiri esse péssimo hábito. - confessou a contragosto. — O que você falou era verdade, eu não vou ter um relacionamento que vingue e muito menos construir uma família, fiquei com raiva por ter jogado isso na minha cara.

O silêncio se instalou entre eles enquanto Hitoshi tentava achar o que dizer. Pelo visto, suas palavras haviam ferido o alfa mais do que havia imaginado e tinha que concertar isso.

— Não exagere, você vai sim casar e ter filhos. Só precisa melhorar esse temperamento. - falou com um sorriso confiante. Só de falar algo assim, podia sentir seu coração acelerar.

— Você é um ômega, se imaginaria casando comigo? - questionou fazendo Hito ficar tenso. — Foi o que eu pensei. Se nem mesmo você que me conhece melhor que ninguém cogita essa possibilidade. Então já sei que não vou. - respondeu com mais firmeza fazendo Hitoshi ficar quieto. — Nunca vou poder fazer um ômega feliz, mesmo sem querer vou acabar por machuca-lo. Tenho problemas sérios e acho perigoso me envolver com ômegas. Realmente sinto muito por ter sido um escroto com você. - ele estava sendo sincero e tinha um sorriso triste no rosto.

Sem ação, Hitoshi ficou parado olhando Izuku voltar a caminhar para o quarto. O alfa estava triste por outra coisa e não sabia como resolver. Mas não queria que Izuku pensasse daquela forma, pois havia sim um ômega que era apaixonado por ele e faria de tudo para que desse certo.

Ajudaria Izuku de todas as formas e o amaria incondicionalmente, mas o alfa não sabia disso. Sentia no fundo do coração que se não impedisse Izuku naquele momento, o alfa nunca mais se abriria assim com ele.

— Quer saber a verdade por eu não aceitar nenhum dos pedidos de namoro dos outros alfas? - perguntou.

— Na verdade, não quero. Você é bom demais para qualquer um deles. - respondeu abrindo a porta do quarto.

— É porque eu amo outro alfa e já faz doze anos. Ele é infantil, idiota, atrapalhado, burro, gentil, protetor, forte, e mesmo me irritando o tempo inteiro, no fim ele sofre por mim e se arrisca pela minha segurança. - confessou colocando tudo para fora.

Ficou encarando as costas do alfa que havia parado de frente para o quarto, então decidiu continuar.

— Quando eu tinha cinco anos, descobri meu segundo gênero na escola. Fiquei com medo por descobrir que era um ômega, achava que não poderia mais brincar com você por conta disso. Eu era tão ingênuo que achava que as classes não se misturavam. Chorei muito quando voltei para casa e meu pai me levou até você. Lembra o que eu disse naquele dia? - perguntou Hito já respirando com dificuldade, suas mãos tremiam.

— Você falou que alfas não gostavam de ômegas como você. - respondeu ainda de costas para o amigo.

— E você me prometeu que seria meu amigo para sempre, que se eu nunca me apaixonasse, iria casar comigo e me faria muito feliz. - lembrou. Um sorriso bobo se abriu em seu rosto ao lembrar daquilo. Eram duas crianças, mas Hitoshi nunca esqueceu e carregava aquela promessa por todos aqueles anos.

Izuku agora sabia a verdade, Hitoshi era apaixonado pelo alfa há anos e escondia esse amor por medo de acabar com a amizade que tinham, mas agora isso não tinha mais importância, a amizade deles não estava indo bem. Hitoshi sabia que aqueles sentimentos podiam não ser recíprocos, mas não sabia por quanto tempo mais poderia esconder aquilo. Ainda mais vivendo sobre o mesmo teto que seu amado alfa.

Izuku virou-se e encarou Hito. Não podia dizer o que o alfa achava daquilo, ele tinha uma expressão neutra e se aproximava devagar. Quando estava frente a frente com o ômega, cruzou os braços parecendo sério.

— Eu sabia que você estava interessado no meu corpo nu. - respondeu por fim.

Hitoshi corou violentamente e encarou o alfa diretamente em seus olhos vendo um brilho de diversão. Depois de se declarar e se expor daquela maneira, Izuku ainda faria piada disso?

— É tudo o que vai dizer? Vai brincar até com meus sentimentos? Aceito ser rejeitado, mas não quero que faça pouco do meu amor por você, seu alfa... - estava tão irritado que começou a brigar com Izuku.

Mas parou ao ver o sorriso largo no rosto do maior. Ele estava feliz ao ponto de corar. Hitoshi explodiu e tentou estapear Izuku, aquele alfa era mesmo impossível, como foi se apaixonar por ele e continuar assim por tanto tempo?

— Desculpa. Eu adoro ver você irritado. - explicou Izuku segurando o pulso do ômega com facilidade.

— Você é horrível. - ralhou Hito querendo chorar. Tentou bater em Izuku outra vez, mas o alfa apenas o segurou em um abraço forte e apertado.

— Eu sei, sou um desgraçado por isso. Mas você fica muito lindo irritado. - declarou antes de se inclinar e beijar Hitoshi.

Sua primeira reação foi ficar imóvel feito uma estátua. Era a primeira vez que beijava alguém e sentia seu coração bater na garganta. Izuku apenas descansou os lábios sobre os seus de forma terna. Se afastou para olhar a expressão de Hito e tudo que viu foi o ômega vermelho feito um tomate.

O alfa sorriu antes de se inclinar outra vez e pegar o lábio inferior do menor entre os dentes para brincar um pouco. Podia sentir Hitoshi relaxar e finalmente entreabrir os lábios. E com uma calma invejável, Izuku beijou o ômega lentamente mostrando cada passo para que ganhasse mais confiança.

Hitoshi agarrou os braços fortes do alfa e começou a se deixar levar pelo ritmo devagar e sensual que ditou Izuku. Sua respiração ficou presa quando sentiu a língua dele entrar na sua boca. Borboletas surgiram em seu estômago e suas pernas ficaram dormentes ameaçando ceder, mas o aperto firme daquele alfa lhe mantinha de pé.

Aos poucos tomou coragem para mover sua própria língua com a dele de forma tímida. Suspiros eram dados em meio ao beijo e já estava sentindo um estranho calor subir pelo corpo começando entre as suas coxas. Não conseguia mais parar, não queria. Sempre sonhou em beijar Izuku, mas a imaginação nem se comparava com a realidade.

Aquele beijo era simplesmente perfeito. Infelizmente, Izuku o encerrou puxando sua boca devagar para aumentar a distância entre eles. Hitoshi demorou para abrir os olhos, estava vendo estrelas, mas quando os abriu se assustou. Esperou ver inúmeras expressões no rosto do alfa, mas aquela que via agora nem passou por sua cabeça. Ele parecia assustado.

— Izuku? - chamou preocupado.

O alfa o soltou como se sentisse dor e deu alguns passos para trás. Tentou se aproximar dele, Izuku havia ficado pálido.

— Não se aproxime, por favor.- pediu alarmado erguendo a mão o impedindo.

— O que foi? Fiz algo errado? - perguntou aflito ao ver Izuku daquele jeito.

— Hito me perdoa, a culpa não é sua. - falou se mantendo distante. — Eu não posso ficar perto de você agora.

Izuku saiu apressado e se trancou no quarto. Hitoshi foi atrás dele sem entender nada, bateu na porta querendo respostas.

— O que está acontecendo Izuku? Está me deixando muito preocupado. - bateu na porta mais algumas vezes insistentemente.

— Eu não quero machucar você. Fica longe da porta, por favor. - implorou falando alto para que o menor escutasse.

— Me diz o que houve, por favor. - não obteve resposta então voltou a bater na porta. — Izuku me responde. Você está doente?

— Hito sai de perto da porta, é perigoso! - esbravejou parecendo perder a paciência.

Sem saber o que fazer, Hito fez como foi pedido e se distanciou da porta indo sentar no sofá. Esperou por quase uma hora até ver Izuku abrindo a porta outra vez. Ele parecia cansado e abatido.

— Você está bem? - perguntou receoso.

— Sim. Eu não queria ter assustado você. - confessou puxando o menor para um abraço.

— Me conta o que houve, fiquei assustado.

Para Hitoshi, Izuku parecia trêmulo e foi com ele sentar no sofá. Insistiu por muito tempo até que o alfa contou sobre seus feromônios. Hitoshi cobriu a boca espantado com a notícia.

— Eu fui tomar um supressor, fiquei com medo de machucar você. Entende agora o motivo de eu não querer sair com nenhum ômega? - indagou cansado.

— Eu não sou como os outros ômegas. - rebateu agarrando a mão do maior e o pegando de surpresa. — Sabe muito bem disso, também tenho problemas com meus feromônios.

— Para Hito. - pediu. — Eu fico muito feliz de saber sobre seus sentimentos por mim, mas mesmo que eu queira retribuir, não posso ficar ao seu lado. - explicou chateado.

— Pare de lamentar e faça algo a respeito. - ralhou o menor. — E se eu não ficar mal com os seus feromônios? Cada um reage de uma maneira diferente. - falou tentando fazer a cabeça do alfa.

— Nem fodendo que vou testar essa teoria maluca. - avisou. Estava pasmo com a ideia de Hitoshi.

— Escuta aqui, eu fiquei apavorado quando estava me confessando para você. Eu não joguei doze anos no lixo para ser impedido de ficar com o alfa que eu amo por conta de feromônios. Se você não tem medo dos meus feromônios, então eu não deveria ter dos seus. Seja homem uma vez na vida. -  declarou puxando Izuku até o quarto do alfa.

— Hito, isso é diferente. - falou se irritando. O ômega se recusava a escutar. Eles entraram no quarto e o menor bateu a porta com força. — O que está fazendo? - perguntou confuso. Então ouviu o som da chave girando e se desesperou. — Não, não, não. Abre essa porta. - pediu nervoso.

— Você continua sendo um medroso. - acusou colocando a chave no bolso da calça que usava.

— Para de ser teimoso, eu posso machucar você seriamente. - insistiu tentando pegar as chaves, mas o ômega se afastou.

— Só um pouco. Libere um pouco dos seus feromônios e se eu me sentir mal, você para e eu me dou por vencido. - propôs.

— Não, já chega disso. - se recusou veemente cruzando os braços.

Hitoshi inflou as bochechas com um bico nos lábios, estava fazendo birra para que o alfa mudasse de ideia.

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