18 | Bifurcação

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Dias antes, Nevada

Até esse momento, tudo o que Blair estava me contando parecia fazer sentido quando eu olhava para as informações descritas no diário que a minha esposa deixou. É a única coisa que eu tenho dela, a única forma que eu tenho de ouvir sua voz, saber sua opinião.

Não comentei do diário com a moça ruiva, tampouco trouxe para a viagem rápida que fizemos. Essa era uma maneira de testar a veracidade do que ela me dizia. Mas sempre que eu pensava nisso, outro pensamento me surgia na mente:

Por que ela mentiria?

A razão pela qual não quero acreditar em suas palavras é porque terei que desacreditar nas poucas memórias e certezas que tenho ou dei duro para construir; é como jogar fora os meses que passei com a Barbara, jogar fora o seu trabalho e descreditar todas as nossas hipóteses, admitir que estávamos errados.

Eu nem sei como contar para ela e, ainda assim, estou aqui, checando o celular toda vez que a Blair se vira, na esperança de que exista uma mensagem sua ali, dizendo que encontrou uma resposta. Não sei como parar de fazer isso.

— Sei que já disse isso milhares de vezes, mas estou feliz por ter voltado comigo, Zayn.

— Sim, minha intenção é colaborar, e é por isso que eu vim, Blair... mas não vou ficar aqui. Pelo menos não por enquanto — expliquei.

Ela assentiu, derrotada, em seguida tirou alguns papéis que estavam dentro de uma pasta em seu armário.

— Esse é o seu diagnóstico. Pode dar uma olhada.

Molhei os lábios ao começar a ler as anotações do doutor responsável por mim que diziam sobre o tipo de amnésia que eu tive, a amnésia traumática. Segundo o escrito, eu havia sofrido um acidente de carro, estava sozinho quando aconteceu e o meu cérebro teria se chocado contra meu crânio devido o impacto da batida.

— Você entrou em coma nesta data aqui. — Blair apontou para uma certa parte da folha.

Lembrei de já ter visto essa data antes — estava anotada no início do diário da minha esposa, no momento em que começou a escrever todos os seus pensamentos, cerca de três anos atrás.

— Eu demorei para te encontrar porque, infelizmente, você não estava com os documentos no carro e te encaminharam para um hospital muito longe da nossa casa, então, até descobrirmos que havia acontecido um acidente, achamos que você tinha...

— Sumido? — completei, olhando-a. A mulher fez um movimento com a cabeça.

Estamos aqui há mais de vinte e quatro horas, na casa da Blair que fica praticamente no centro da cidade, e, desde então, tenho tentado fazer com ela cite o diário ou algo que estava escrito nele que seja específico, exatamente como eu li. Isso não aconteceu até agora apesar de suas informações não o contradizerem.

Ao mesmo tempo que esperava ansiosamente que essa palavra saísse por sua boca, não queria que a dissesse; talvez porque eu não quisesse estar errado.

— O que é isso?

— Ah, isso é... — Ela esticou a mão para pegar a folha de mim, no entanto voltou atrás e me deixou ver.

Eram exames realizados no mesmo centro hospitalar de onde vinha meu diagnóstico, mas parecia ser em outro endereço e especializado em natalidade, não em psiquiatria e psicologia. Esperei uma explicação do que aquilo significava de sua parte.

Submersos: Ecos da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora