28 | A mão de um velho amigo

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Eu posso apresentar minha lista de soníferos para administrar de forma intravenosa ou oral, é só me pedir usando uma frase de comando. — Escutei a voz da assistente virtual soar pelo quarto pela terceira vez naquela noite.

— Não quero nenhum remédio, Max, obrigada.

Virei de barriga para cima na cama. O edredom estava mal ajustado no meu corpo, agora enroscado em minhas pernas, visto que nunca tinha me revirado tanto no colchão como naquela noite — a não ser pela noite anterior e a anterior dessa última.

Thomas sumiu há mais de dois dias desde o acontecido no refeitório quando perguntei quais eram suas intenções me mantendo aqui. Havia uma, claramente, mas eu não sabia qual. Talvez só estivesse esperando Zayn vir atrás de mim para matar a nós dois, porque é óbvio que ele viria. Inicialmente, imaginei que fosse ter minha memória apagada e fosse servir de cobaia como as outras pessoas que Caine mantém aqui, no entanto o que parece é que ele está esperando alguma coisa, que está em silêncio de propósito, e essa postura combina mais com o perfil que eu montei dele até o momento.

— A média do seu tempo de sono é três horas desde o dia em que chegou. Como posso ajudá-la a dormir melhor? — Max chamou minha atenção. Ergui o tronco, sentando na cama, e observei que o número que ela havia mencionado estava marcado na parede à minha frente junto aos gráficos coloridos.

— Dizendo como tudo isso vai acabar. — Cocei minha cabeça de olhos fechados, sabendo que a assistente não responderia essa pergunta de maneira útil.

— Posso ler para você artigos verificados pela NASA com o tema fim do mundo. Gostaria?

— Não. — Suspirei. — Não foi isso que eu quis dizer. Você pode abrir as persianas?

— Sim, eu posso.

As telas que cobriam os vidros servindo de parede no meu quarto foram suspensas, então pude enxergar as águas levemente escuras ao meu redor.

— Max? — Levantei, caminhei até o vidro e sentei com pernas cruzadas em frente ele.

— Estou aqui.

— O quão profundo estamos em relação à superfície?

— Essa resposta não está disponível para compartilhamento, Barbara.

Outro suspiro cansado deixou meus lábios.

— É claro que não — disse baixo. — Você já disse isso milhares de vezes.

Colei a mão no vidro. Imaginei do que era feito. Não podíamos estar tão no fundo assim, afinal as águas eram relativamente claras de manhã. Se estivéssemos a níveis muito baixos, duvido que isso aconteceria.

Algo brilhante passou rapidamente por perto de onde a minha mão estava apoiada e puxei o ar para dentro dos pulmões, me afastando. Apesar da velocidade, consegui ver que o corpo do peixe era comprido como o de uma cobra.

— Max, fecha as cortinas, fecha! — Mantive-me longe das paredes assim que a assistente obedeceu.

— Aumento dos batimentos cardíacos detectado. Precisa da minha ajuda?

— Não. — Passei minhas unhas entre meus fios de cabelo. — Eu vou tomar água.

As portas duplas abriram, passei por elas e virei a direita no corredor. O tremor do susto já havia passado, porém eu tinha certeza que ia ser mil vezes mais difícil voltar a dormir agora.

Durante esse tempo que o Thomas ficou fora, andei pelos diversos corredores que têm aqui durante a madrugada para não acabar trombando com ninguém. Por algum motivo, sempre que eu tentava iniciar uma conversa com alguém daqui, eu era ignorada. Entre eles mesmos as coisas pareciam ser diferentes, o que me faz pensar que isso é pessoal.

Submersos: Ecos da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora