23 | Faz de conta

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Barb! — Tyler levantou do sofá e veio em minha direção pouco tempo depois que percebeu que eu estava acordada. — Meu Deus, finalmente!

Minha visão foi ficando cem por cento aos poucos até que enxerguei meu irmão completamente, perto de mim, ansioso por uma reação. Senti sua mão se entrelaçar com a minha, porém me afastei devagar, encostando mais na cama. Minhas costas doeram, assim como alguns membros.

— Você está bem? — quis saber. Não respondi. Minha cabeça estava doendo. Eu o olhava buscando uma justificativa para ter mentido para mim durante todos esses anos. — Vou chamar a enfermeira.

— Não.

Ele parou no meio do caminho conforme neguei, então voltou para perto com uma expressão confusa no rosto.

— O que foi? Não está se sentindo bem?

Senti um aperto no garganta e logo meus olhos começaram a encher d'água. Tyler me observava sem pesar algum, como se não tivesse feito nada errado e fosse o irmão mais cuidadoso e preocupado que alguém poderia ter.

Memórias que recuperei do dia que ele me contou o que havia acontecido vieram à minha mente outra vez, sua voz ecoava nítida, quase audível:

Acharam o corpo dele, Barbara. Eu sinto muito.

A forma como me debrucei sobre meus próprios joelhos em frente à lápide do meu marido naquele dia, a forma como chorei como nunca, me neguei a dizer adeus a ele, e todos os anos de dor, terapia e consultas com o psiquiatra que vieram depois, as pressões que passei no trabalho, tudo isso por causa de uma mentira.

— Como você pôde? — minha voz saiu trêmula devido às lágrimas que já escorriam.

— Do que está falando?

— Como? — disse mais alto. — Como você pôde dizer que ele tinha morrido? Como pôde mentir assim?

Tyler deu um passo para trás como se minhas palavras o tivessem atingido no peito. O seu rosto perdeu a cor e ele ficou sem reação.

— Você organizou o enterro dele, Tyler! — fui falando à medida que escorregava para a ponta da cama para levantar. — Você estava lá nas minhas crises, marcou meus médicos, viu tudo o que eu passei todos os dias! Tudo!

Alguns soluços atrapalhavam-me de ter a firmeza que eu queria. Em pé, encarei meu irmão de perto.

— Barbara, você precisa se deitar. — Tentou me guiar para o colchão novamente, no entanto tirei sua mão do meu braço.

— Para com isso! — Ele ficou em silêncio. — A Emily e a Hailey, elas sabiam?

Não tive resposta. Seu olhar desviou do meu.

— Elas sabiam que o Zayn estava vivo? — perguntei outra vez, mas Tyler hesitou. — Responde!

— Sim. — Fechou os olhos, suspirando. — Sim, elas sabiam, Barbara.

Após soluçar uma vez, tampei a boca com uma mão e me permiti chorar igual a uma criança. Meu irmão empurrou meus ombros levemente para que eu sentasse. Não relutei, eu não tive força para isso. Meu corpo inteiro tremia.

— Agora você vai deitar e escutar o que eu tenho para dizer antes que entre em choque de novo — falou calmamente. — Por favor.

Submersos: Ecos da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora