Os olhos clarinhos do bebê em meu colo agora estavam em mim; seus cabelos cheios possuíam um tom de castanho claro, quase como os de Zoe, e ele mexia as mãos pequeninas sem muita coordenação — eu acreditava que tinha por volta de dois meses pelo tamanho.— Shhh! Tudo bem. Calma. O que é que você tem, bebezinha? — Eu tentava fazer Zoe parar de chorar escandalosamente, porém não estava conseguindo: ela se debatia em meus braços e já ficava vermelha por causa do esforço que fazia para berrar bem alto. — O que é que há? Hm?
Quatro meses. Quatro meses desde o nascimento dela em dezesseis de julho de dois mil e vinte um. Seu pai foi encontrado morto antes que completasse dois. Desde então, minha mãe, Tyler, Allison e Hailey revezam para cuidar da Zoe mesmo quando estou por perto. Tenho certeza que eles tem receio de que eu surte próxima ao bebê como aconteceu no momento em que acordei no hospital sem lembrar do meu nome - não estão errados, eu sei, estão prezando pelo bem estar da Zoe e isso seria menos difícil de engolir se a "ameaça" não fosse sua própria mãe, se a ameaça de quem a protegem não fosse eu.
Todas as vezes em que ela chora, que precisa se alimentar, ser trocada, tomar banho, sempre há alguém ao meu lado, me ajudando a ser a mãe da minha filha e me dizendo exatamente como fazer isso.
Após quase dois meses desse jeito, posso dizer que estou a ponto de enlouquecer.
A parte mais difícil não era receber essas instruções para tudo e em todo momento, a pior parte era olhar para o rostinho da Zoe e não lembrar dela. A última memória que tenho é do instante em que chegamos em casa, depois de eu receber alta, quando fomos apresentadas.
Essa é a primeira vez em muito tempo que a Emily me permite ficar sozinha em casa com a bebê. Ela foi ao mercado para reabastecer a dispensa - eu estava responsável por isso antes, mas hoje decidi pedir para trocarmos, então minha mãe sairia e eu ficaria com Zoe.
Um desastre. Provavelmente é o que Emily pensará assim que passar pela porta de entrada e perceber o estado da sua neta que chora descontroladamente e quase sem fôlego, então nunca mais ficarei sozinha com ela outra vez. Eu já havia tentando de tudo: não era fome, nem a fralda, nem calor ou frio; tentei massagear suas costas e depois a barriga, caso estivesse perturbada por alguma cólica, e também não funcionou.
— Calma, meu amor. O que você tem? — Ajustei o sutiã uma segunda vez ao conferir se realmente não era fome. Foi difícil amamentar nos primeiros meses de alta sob tanta pressão e estresse, no entanto eu estava levemente contente por conseguir alimentá-la sem tanta dificuldade como antes. Meus olhos já estavam quase transbordando de desespero enquanto eu a balançava devagar e dava beijos castos em sua cabeça. — Vamos, colabora com a mamãe e se acalma um pouquinho. Eu estou aqui, estou aqui com você.
Por vezes ela respirava por pouco tempo, depois voltava a chorar. Desisti de falar, pois seu choro cobria o som da minha voz e possivelmente a atordoava mais; decidi ficar observando-a ao passo que pensava em como ajudá-la. Deitei seu pequeno corpo de lado no sofá (bem encostado entre o apoio das costas e o assento), enrolado na manta de maneira confortável, em seguida ajoelhei no tapete, apoiando o antebraço no estofado e o queixo neste último. Dedilhei sua bochecha avermelhada com a ponta do meu indicador depois de apagar a luz.
— Você está com saudade, não é? — sussurrei, sentindo minhas lágrimas escorrerem aos poucos conforme eu falava: — Consegue sentir que não sou a mesma de antes, não consegue?
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Submersos: Ecos da Verdade
Bilim KurguDepois de se tornar mãe e enfrentar a morte misteriosa do próprio marido, a agente Barbara Hawkins começa a sofrer de amnésia dissociativa enquanto precisa investigar uma série de desaparecimentos que assolam a sua cidade e, mais tarde, seu país. No...