34 | Planeta Atlas

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    Vi muita coisa espalhada pelo chão ao conseguir abrir os olhos. Aquele local parecia com uma sala de hospital — seringas, bisturis, tesouras e esparadrapos estavam espalhados aos pés de um armário. Imaginei que fosse por causa da queda.

Lembro-me de ver sentir o chão da garagem tremer, Neal gritar para proteger o bebê, Zayn correndo em minha direção, então tudo girou por algum tempo e apaguei. Ao acordar pela primeira vez, eu estava nos braços de um robô de cabeça quadrada. Ele dava passos lentos e espaçados, me balançando a cada um deles. Vi tudo de ponta cabeça. Meu estômago embrulhou e eu apaguei outra vez.

Agora meus braços estavam presos junto ao meu corpo na maca. A luz do teto piscava. Olhei para os lados, segurando o suspiro de susto ao ver Thomas arrumando o cabelo na frente de um espelho parcialmente quebrado na parede. Seus olhos me encontraram através dele sem que eu dissesse alguma palavra.

— Tive um Déjà Vu. — Aproximou-se despreocupadamente. — Já estivemos nessa posição. Mas em condições melhores, é claro.

— Onde estão eles? — Não precisei fazer esforço para vê-lo a essa distância, a maca era inclinada na vertical.

— Estão bem, eu garanto. — Sentou-se na ponta da cama, desviando os olhos de mim para a parede a alguns metros em sua frente. — Só não posso afirmar que continuarão assim por muito tempo.

Percebi um corte na parte superior da sua bochecha. Sua roupa estava úmida, suja. Havia um barulho insistente lá fora, ele lembrava o da água corrente de uma cachoeira, água caindo de algum lugar.

— O que você quer de nós?

Enquanto seus olhos não estavam em mim, eu aproveitava para checar o material dos elásticos que me prendiam na maca; eu queria ver se eram realmente resistentes. Se eu pudesse alcançar o homem ali, sentado, nada me faria largá-lo até tudo isso chegar ao fim.

— Eu não quero nada de vocês, Barbara — ele esclareceu. — Eu queria algo de você.

Fiquei em silêncio.

— Eu quero — corrigiu.

— O que você quer? — Minha mente me fez lembrar de Dakota e de suas últimas palavras antes de morrer. Caine a queria lá, queria que ela dissesse aquelas palavras para mim, que eu soubesse que toda aquela movimentação, todas aquelas mortes e todo aquele cenário foi montado para mim; era por minha causa. Mas eu não entendia o que eu tinha a ver com isso. Não é como se ele tivesse sido muito claro.

Ele mata por sua causa.

Por que eu? Por que o meu marido? A minha família? Eu nunca pude ter mais do que apenas especulações sobre essas questões durante tempo suficiente. Talvez agora eu saiba a verdadeira razão.

Thomas se agachou. Levantando, trouxe o refletor que Neal havia me dado nas mãos e manuseou o objeto como quem nada espera.

— Você reconhece isto? — Não respondi. O homem sorriu levemente. — É claro que reconhece.

Apesar de não parecer que tínhamos muito tempo para enrolar pela conversa, Thomas agia e falava com calma, plenamente despreocupado.

— O que achou do que viu aqui dentro, Barbara?

Dessa vez me olhou.

— Por que está fazendo isso? — Esquivei-me de seu questionamento. — Você enviou Dakota para a Unidade para deixar suas motivações bem claras antes de matá-la. Por que eu sou o motivo do assassinato dessas pessoas?

Ele continuou me observando com um semblante sério que se tornou risonho em poucos segundos. Thomas começou a rir até perder o fôlego, até seu rosto ficar avermelhado, suas mãos massagearem sua própria barriga, então as risadas cessaram aos poucos.

Submersos: Ecos da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora