Depois de se tornar mãe e enfrentar a morte misteriosa do próprio marido, a agente Barbara Hawkins começa a sofrer de amnésia dissociativa enquanto precisa investigar uma série de desaparecimentos que assolam a sua cidade e, mais tarde, seu país. No...
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sete anos atrás extremo leste de fort collins
— Mark! Diz que tem uma vaga para mim na voltinha de hoje? — falei enquanto andava pelo solo de areia e pedrinhas até o homem de cavanhaque branco que estava atrás da bancada anotando o nome dos corredores.
— Hawkins, olha só você! — Sorriu. — Claro que tem, chega aí!
Inclinei meu corpo na parte que ele estava usando para apoiar a ficha, vendo que escreveu meu sobrenome no seu rascunho. Peguei gentilmente a caneta preta de seus dedos e consertei a escrita:
— É Callahan agora.
Quando sua expressão demonstrou curiosidade, virei para apontar para o Zayn que estava um pouco mais distante, encostado no capô do meu carro. O sol se pondo e batendo contra suas costas depois de atravessar as altas árvores o deixou ainda mais bonito. Ele esticou o braço para responder ao aceno do Mark.
— Ah, então você trouxe seu garoto. — Assenti. — E já se casaram? Eu nem fui convidado.
— Fizemos uma comemoração simples a dois. — Dei um sorriso mais largo, em seguida voltei a falar da corrida: — Vai me desejar sorte, hm?
— Sempre. Você é minha favorita, sabe disso.
Antes de me afastar do guichê, fiz um toquinho de punhos com ele. Voltei para perto do meu marido que descruzou os braços para abraçar minha cintura e aconchegar-me entre as suas pernas.
— Estamos inscritos. — Passei os braços pelos ombros dele. Virei o rosto para observar ao redor. Zayn encostou os lábios na minha têmpora.
Estávamos no extremo leste, nas pistas de corrida não asfaltadas. Ali era o ponto de partida. Assim que todos os corredores chegassem, a competição teria início. Enquanto isso, a plateia aproveitava as barracas de comida, bebida e a música que tocava pela caixa de som — estavam felizes, sorrindo; alguns abraçavam os mais próximos, beijavam.
Olhei o Zayn. Ele me olhou de volta e afastou meus cabelos da frente de um dos ombros, colocando para trás e deixando minha clavícula descoberta mais visível.
— Eu te amo — sussurrei.
A mão direita dele acariciou minha bochecha a qual o mesmo havia deixado livre dos fios de cabelo.
— Amo você... Babz. — Usou o nome gravado no carro de corrida que eu pilotaria, deixou um peteleco fraco na minha tiara e recebi um beijo demorado nos lábios. A melhor parte de beijá-lo era sentir o cheiro da sua pele.
— Não acredito! — A voz da Daphne invadiu os meus ouvidos e irritou meus tímpanos assim que soou. Paramos para observá-la dentro de seu carro agora estacionado ao lado do meu. Zayn não a conhecia, por isso tinha o cenho levemente franzido. — Você finalmente trouxe o seu chaveirinho para te ver comer poeira, Hawkins?!
O espaço entre nós três foi preenchido pelas risadinhas exageradas que ela deu. Seu cabelo loiro estava dividido ao meio e as duas mechas estavam presas, uma de cada lado da cabeça; algumas eram coloridas de vermelho, combinando com parte da sua blusa de frio das mangas dessa mesma cor.
— Isso vai ser fantástico! - continuou. Sorri de lado.
— Não esquece de pisar no acelerador quando enxergar o Babz na minha traseira. — Pisquei. A garota riu fraco e deu partida.
— Chaveirinho? — Zayn achou engraçado.
— Acho que era para ser uma ofensa.
— Achei apropriado, eu gosto te seguir para onde quer que vá. — Sorriu.
No telão, aparecia o ranking com a posição atual dos competidores e sua pontuação. Eu e meu irmão sempre competíamos na mesma equipe, a Hawkins, que, por acaso, estava ocupando o primeiro lugar já fazia algumas longas semanas; esse era o maior orgulho do Tyler. Essa corrida valia bastante, mas hoje eu competiria como Callahan, não Hawkins. E é por isso que escolhi o dia em que o Tyler não estaria por aqui - o que é raro -, ele odeia o fato da minha "mudança" de sobrenome que, na verdade, não excluiu o nome antigo, apenas acrescentou o do meu marido, no entanto meu irmão não suporta que eu use em vez do nosso; para ele, é quase um abandono, já que sempre aparecíamos como uma dupla. Sempre. Apesar de apreciar isso, hoje eu queria que a vitória fosse minha e do Zayn, queria que ele tivesse parte nisso, queria guardar essa memória sobre nós dois, como algo simbólico.
Eu tinha certeza que ganharia. Pela primeira vez, eu ansiava, verdadeiramente, aquela taça de doces. Não tirei os olhos da moça que daria a largada.
Enquanto tentava ocupar espaço entre dois competidores na pista à minha frente, o corredor que encostou ao lado chamou a nossa atenção: era Travis. Como sempre, vestia seus óculos escuros, embora fosse noite, e prendia o canudo do pirulito entre os dentes. Ele abaixou o vidro e jogou um beijo, tentando ultrapassar a minha Porsche. Chegou a ralar na minha lateral.
— Vou bater na porta da sua avó para cobrar a pintura! - disse alto.
— Qual é a dos óculos escuros desse cara? — Zayn perguntou, olhando para frente em seguida. — E lá vem a curva!
Eu também estava de olho nela. Ao me aproximar o suficiente, tirei o pé descalço do acelerador com rapidez e virei o volante, fazendo o carro derrapar na pista de terra durante alguns segundos. Conseguimos despistar o Travis que girou mais atrás.
— Se segura! — avisei. A Porsche não fazia tanto barulho com o motor como os outros carros da competição e esse era meu detalhe favorito nela, podia chegar sem ser notada.
Acelerei para poder trocar a marcha e ganhar mais velocidade ainda. Agora estávamos no reto e só havia mais um carro na frente, o qual havia aberto espaço devido a má finalização na curva. Estreitei os olhos e percebi de quem era o carro em primeiro.
Daphne.
Desviei os olhos para Zayn que tinha a cintura mais jogada para frente no banco, uma das mãos agarrada na lateral do banco e a outra na porta; graças às janelas abertas, ele conseguiu se segurar bem forte ali. Gargalhei de seus olhos arregalados. Ele riu junto comigo, tomando um banho de ânimo ao notar que estávamos emparelhando com a loira de chiquinhas.
— Pega ela, Barb! — vibrou, ajeitando a postura quase que instantaneamente.
— Pode deixar.
Assim que ela nos viu, acenamos entre risos — sua indignação se tornou palpável. Fechei as janelas, me concentrei em tampar as possíveis passagens dela e, olhando para frente, sugeri:
— Escolhe a nossa música da vitória no rádio.
A música Highway to Hell da AC/DC começou a tocar bem alto em pouquíssimo tempo. Uma das suas bandas favoritas. Ótima escolha. Passamos pela linha de chegada ouvindo o refrão. Zayn comemorou muito, me beijando na bochecha repetidas vezes enquanto eu terminava o percurso, sorridente.
— Você é a número um! É a número um! — dizia ele.
Ainda que nossa equipe não tivesse alcançado uma posição alta no ranking, essa havia sido uma das vitórias mais memorável de todas as competições que participei. Mark ficou mais do que feliz, Daphne também no fim das contas — mas ela nunca admitiria.
— Hora do cinecar! — Travis gritou assustando as pessoas ao redor e com duas garrafas de bebida em cada mão na festa após a corrida. Dei risada ao ver as meninas que se assustaram passarem dizendo que ele era louco. Conforme olhei, avistei o Zayn enchendo minha taça de campeã com outra rodada de balas Fini, ele está até olhando para os lados para checar se alguém percebeu sua mão generosa. Mark chegou perto e o assustou. Ri de novo, sozinha.