IV

7.3K 720 181
                                    

Casimira, colônia e o brilho branco do Sol.

O vento do lado de fora decidiu aparecer para acordar os fios dos meus cabelos com um barulho alto e irritante. A partir daqui eu não tinha muitas escolhas, o que significava que a hora de acordar relutava contra a dificuldade de abrir meus olhos preguiçosos por causa da luz. 

Mesmo assim, as batidas agressivas na porta que Ghost fez questão de fazer, me indicava que o dia seria cheio. Afinal, partiríamos hoje à tarde para Las Almas e como medida de preocupação, a inesperada reunião na sala do General Shepherd estava prestes acontecer.

—— Pensei que tinha morrido dentro desse quarto - a voz harmoniosa de Ghost soou pelos meus ouvidos alegrando minha manhã.

—— Quem dera - digo, fazendo questão de encara-lo com um olhar cansado.

Ele simplesmente não reage ao que acabo de dizer e apenas pede licença para entrar na sala do General Shepherd.

—— Ice, Ghost! Entrem, podem se sentar.

Eu não era tão conhecida do General, mas uma das coisas óbvias sobre seu comportamento era que seu padrão de interações se limitava ao básico "bom dia" e "tchau", e presenciar sua voz mudar levemente para querer nos agradar me deixou inquieta.

Um dos motivos plausíveis da cena, talvez fosse para mostrar que ele era uma pessoa carismática para a mulher que estava em pé do seu lado. Ela era bem jovem e bonita, tinha traços delicados e olhos ferozes. Ela exalava ser forte. Seu nome? Farah Karim.

Enquanto para mim ela fosse uma desconhecida, para Ghost ela era uma verdadeira amiga.

—— Farah! Faz tempo, hein - ele cumprimenta ela com um aperto de mão.

Meus olhos se refiram mentalmente. Como ele conseguia ser legal com qualquer outro ser humano vivo que não fosse eu?

—— Algumas coisas nunca mudam - o dedo dela aponta para a máscara dele - Aliás, gostei dos reparos que deu nela - eles riram.

Por que do nada eu rezei para desaparecer do mundo? Ou apenas sumir daquele cômodo.

—— Bom, sei que você ainda não conhece a outra Tenente. Ela é a Ice, lutou no Afeganistão para impedir o sequestro de uma ativista pelo grupo jihadista que te disse sobre. Ice, essa é a Farah, uma das melhores soldados que temos no Urziquistão - até o sotaque britânico dele pareceu se acalmar.

—— Prazer em te conhecer - digo ao apertar a mão dela.

—— Igualmente, você é ainda mais maneira pessoalmente - arqueio a sobrancelha para sua resposta - Ah, foi o Soap que não parava de contar histórias sobre você. É uma verdadeira lenda para ele.

Eu sorrio sem graça.
Ela sabia elogiar os outros sem parecer puxar o saco.

Era bem legal.

—— Necessitei de qualquer ajuda que pude para salientar nossas intenções contra Hassan - Shepherd direciona minha atenção a ele - Farah havia encontrado ele em Al Mazrah, entretanto, conseguiu fugir.

—— Meus homens e eu encontramos um míssil em um dos galpões que ficavam do lado de onde ele se escondeu.

—— Um míssil? - a voz de Ghost exalta surpresa, até uma pitada de dúvida na fala anterior.

Como iríamos parar a porra de um míssil?

Ele obviamente tinha mais deles, porque não simplesmente largaria isso no meio do deserto para trazer prejuízos para si mesmo. Ele queria nos causar medo.

—— Nós pensamos que o segundo míssil esteja em Las Almas. Vocês irão hoje para lá com Farah até o fim dessa missão. Acho que também será uma companhia mais relacionável para você, Ice - o General ri, não arrancando nenhuma reação de ninguém.

—— Por que o Capitão e o Coronel não estão aqui? - Ghost pergunta sério.

—— Eles já partiram. Vocês tem duas horas antes de decolarem, então se apressem.

Eu avisto os olhos de Farah e Ghost sobre mim e afirmo com a cabeça como um sinal de apressarmos as preparações para entrar em campo.

Seguindo o caminho dos quartos, eu mostro à Farah seu novo "lar" e a ajudo com a mala. Ghost nos alcança, fechando a porta atrás dele.

—— Qual era a nacionalidade do míssil? - ele pergunta assustado, deixando o contexto todo estranho.

—— Como assim? - ela responde.

—— Tinha alguma bandeira de onde ele foi fabricado?

—— Nada. Era uma arma nuclear em construção. Nem finalizada estava.

—— Por que a pergunta? - eu pergunto logo em cima.

—— Por que ele chamou Price e Alejandro antes de nós? Por que não mandar todos juntos?

—— Talvez seja pelos homens de Alejandro. Eles estavam à espera do sinal de Shepherd - a mulher do meu lado tenta acalmar a situação - John deve ter sugerido para atuar o mais rápido possível... você o conhece.

Analisando a linguagem corporal de Ghost, ele parecia aceitar a análise feita por ela, mas ainda seguia relutante. Era possível ver dúvida em seus olhos. Ele me analisa antes de dizer que estava indo se aprontar para nos encontrar em alguns minutos.

—— Já trabalharam juntos antes? - Farah rompe o silêncio do quarto.

—— Não. Na verdade eu cheguei a poucos dias aqui.

—— Ele é o Tenente da missão? - afirmo com a cabeça - Estamos fodidas então - me surpreendendo com seu vocabulário e solto uma risada - É sério! Ele é meticuloso. Não aceita nenhum erro.

—— Você já cometeu algum? Digo com ele.

—— Obviamente. Não que eu queria, mas às vezes as coisas acontecem por acontecer - suas sábias palavras me fazem sorrir - Erros são feitos para conquistar vitórias.

Justamente, eu estava certa. Ela era muito legal e foi super gentil comigo. Afinal, foram raríssimas as vezes que eu trabalhei com outras mulheres em campo, mas algo que as diferenciava dela era o egoísmo.

Entendo que quando se trabalha aqui você acaba desenvolvendo esse lado bloqueado para não acabar ferida, mas a educação não se pode misturar dentro disso.

Farah Karim era uma das amizades que eu queria levar para o resto da vida mesmo a conhecendo em poucos minutos. Nós conversamos sobre como as ramificações das histórias de todos que haviam se cruzado por aqui e algumas de suas peculiaridades. E a partir disso, os minutos passaram voando e se não fosse por Ghost nos olhando feio para irmos embora, provavelmente ficaríamos ali conversando pelo resto do dia.

Era bom ter alguém para distrair do caos que as situações lá fora nos faziam passar.

Entrando no avião, Soap se junta a nós e não parava de falar em espanhol para aprender perfeitamente o idioma, muito provável por ser influenciado pelo sotaque do Coronel, enquanto eu e Farah riamos o apoiando a continuar a nos alienar nas suas idiotices.
Do outro lado estava Ghost e Gaz discutindo sobre a trajetória da missão. Bom, se tinha uma das coisas que estava batendo bem rápido, era o meu coração.
Essa seria a primeira vez depois de tudo o que aconteceu e eu não iria foder com tudo.

Nenhum de nós iria.

𝐔𝐥𝐭𝐫𝐚𝐯𝐢𝐨𝐥𝐞𝐧𝐜𝐞, 𝗌𝗂𝗆𝗈𝗇 𝗀𝗁𝗈𝗌𝗍 𝗋𝗂𝗅𝖾𝗒.Onde histórias criam vida. Descubra agora