VIII

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Está tudo acabado agora.

A lua ainda brilhava no céu como se aquele fosse um dia ensolarado.

Nós quatro, agora cinco com Hassan, estávamos no meio do nada. Em praticamente um deserto.
Era possível ouvir os barulhos dos grilos e dos outros animais que estavam atentos em qualquer erro que cometeríamos. Uma verdadeira cadeira alimentar em ação.

Nós esperávamos, naquele inferno, a vinda de Graves para realizar o interrogatório com o fugitivo.
Afinal, Laswell e Shepherd assistiriam o transcurso inteiro por uma transmissão de vídeo, então não tínhamos como agilizar o procedimento sem os três superiores aqui.
Pois é, era doloroso chamar Graves de meu superior, mas não que eu pudesse fazer muita coisa sobre isso.

No meio tempo da espera, eu desço da moto de Alejandro que me locomoveu por longos quilômetros que a fazenda estava desse lugar abandonado. Eu a encosto poucos metros deles e vejo que a porta do passageiro do carro abre com força, e dela, a figura de Ghost aparece na minha frente, vindo em minha direção sem dó.

—— Você ficou louca de vez? - ele fala bem mais alto do que o normal - O que você tava pensando, porra!?

Aquela foi a primeira vez que o vi bravo de verdade.
Não me leve a mal, ele sempre foi um pouco marrento, mas aquilo? Aquilo era diferente.

—— Se estivesse no meu lugar teria feito a mesma coisa - meus olhos não conseguem fixar por muito tempo nele.

—— Pare de trabalhar com ações hipotética, estava claro o que você deveria fazer.

—— Você queria que eu fizesse nada! - eu praticamente grito.

—— Não era tão difícil, era?!

O jeito descompensado que sua voz saía toda vez que ele falava comigo era simplesmente amedrontador. Ele estava mais enfurecido do que nunca.

—— Você podia ter morrido nessa merda - ele parece ainda pior.

—— Eu não me importo com o que aconteça comigo - dou de ombros.

—— Mas eu me importo. Como acha que diria para Shepherd que você morreu?

—— Shepherd está pouco se fodendo para como eu estou.

Eu sabia levar broncas, mas não tinha uma paciência grande o suficiente para aceita-las sem rebater.

—— Tudo bem, então como acha que eu diria isso para Farah?

E como se tocasse em uma ferida aberta, ele me cala.

—— E se um de nós pensasse que você fosse o inimigo e atirasse, hein? - ele joga a cabeça para o lado - Acha que alguém iria querer viver com esse peso nas costas?

Eu olho para os lados antes de voltar a prestar atenção na conversa.

O pior de tudo era admitir que ele estava certo. Ele estava certo em estar assim e aquilo me fez ficar relutante pelos motivos que me levaram a fazer tudo o que fiz.

—— Eu capturei Hassan.

—— Você desobedeceu minhas ordens.

Naquele segundo eu queria não estar mais aqui.
O modo que ele me olhava tinha sido diferente dessa vez. Era perdido, até decepcionado. Eles não condiziam nem um pouco com sua maneira de falar.

—— Talvez estivesse certo em não confiar em você.

—— Se ficou decepcionado agora é porque um dia você confiou - falo enquanto vejo ele dar as costas.

𝐔𝐥𝐭𝐫𝐚𝐯𝐢𝐨𝐥𝐞𝐧𝐜𝐞, 𝗌𝗂𝗆𝗈𝗇 𝗀𝗁𝗈𝗌𝗍 𝗋𝗂𝗅𝖾𝗒.Onde histórias criam vida. Descubra agora