XII

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Você diz que eu sou como o gelo, eu congelo.

Minha visão acompanhava o movimento rápido que as casas faziam em relação à velocidade do carro em que estávamos.
Mas meus pensamentos... ultrapassavam qualquer janela que poderia tentar conte-los como uma jaula. A chuva fazia questão de continuar a cair, e talvez fosse por ela que o tempo parecia desacelerar de propósito.

Ghost dirigia quieto, sem muitas palavras como sempre, às vezes chegava a procurar meus olhos no retrovisor, mas logo depois ele os desviava para a estrada.

Alejandro, sentando no banco do lado, tentava distrair a mente enquanto conversava com Soap sobre a influência do exército em suas vidas.

Eles estavam felizes... tinham destruído um míssil como a missão informava, estavam vivos e só aguardavam o caminho para ir para casa.

Não sei nem como consegui ficar em silêncio. Tinha tanta coisa dentro de mim. Por que eu também não estava feliz?

Eu não contei nada para nenhum deles, porque não tinha noção do quanto meus pensamentos eram realmente verdade. E se eu dissesse isso e a equipe inteira se virasse uma contra outra só por uma coincidência que fazia sentido na minha cabeça?

Na verdade, nada fazia sentido.
Qual era a razão do container possuir uma bandeira pequena de tecido, como aquelas no uniforme dos militares dos Estados Unidos? Talvez Hassan e Valeria queriam incriminar falsamente alguém no intuito de nos deixar com eliminatórias? Ou será que aquilo era uma pista deixada pelo próprio responsável da carga?

—— Mas que merda tá acontecendo? - o Coronel diz olhando para frente no mesmo tempo que Ghost desacelera o carro.

Lá, precisamente na direita, um soldado levanta sua mão com pressa, como um sinal de pare.
Quase que imediatamente, Graves abre a porta do carro em que estava, e sai lentamente acompanhado de três homens da Shadow Company, antes mesmo de passarmos as catracas para a base dos Los Vaqueros.

Eles estavam armados dos dentes aos pés.

Todos olham a atividade de dentro do carro, confusos, até que Alejandro é o primeiro a sair do veículo e depois nos motiva a fazer o mesmo. O carro de trás contava com Farah, Rodolfo e dois outros homens da companhia de Graves, que também haviam descido.

—— O que é isso? - a sombra de Alejandro cobria meu rosto, por estar logo atrás dele, mas sua voz diz sem muita paciência, o fazendo levantar uma das mãos.

—— Isso é o futuro imediato. Deem um passo para trás do portão - o Comandante responde, encarando visivelmente o meu rosto e o de Alejandro.

Com um relance atrás do meu ombro, eu vejo uma sombra se mexendo. Mais um homem de Graves, armado, se colocando atrás de mim.

—— O que?! - a indignação de Soap sobressai a constatação do que realmente estava acontecendo ali.

Puta merda.

—— Você me ouviu - as sobrancelhas do americano se arqueiam, como quase que em ordem.

—— Você é louco? Essa é minha base.

—— Não é beeeem uma base, mas um esconderijo fortificado, que eu admiro... - ele olha ao redor - Então vou pegar.

Minhas mãos correm diretamente para o meu bolso. A bandeira americana molhada estampava uma falsa esperança que eu escolhi acreditar e fui traída.

Graves não era capaz disso, certo?

—— Estão dispensados, obrigado pelo serviço.

—— Não, não, não... eu não recebo ordens de você.

𝐔𝐥𝐭𝐫𝐚𝐯𝐢𝐨𝐥𝐞𝐧𝐜𝐞, 𝗌𝗂𝗆𝗈𝗇 𝗀𝗁𝗈𝗌𝗍 𝗋𝗂𝗅𝖾𝗒.Onde histórias criam vida. Descubra agora