Capítulo 2 - Memories

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Sofia Grando
24 de agosto de 2015
(FLASHBACK)
Massachusetts, Boston.

Sorrio ao ler o prontuário do próximo paciente.

Noah Willer
2 anos e meio.
Homem.
Sangue A+

Caminho até a ala de pediatria e aceno para as crianças comportadinhas enquanto assistem Bob esponja na televisão no centro da sala.

— Oi, campeão! — Me aproximo do garotinho de olhos brilhantes e rosto branquelo. — Não vai falar com a tia hoje? — Pergunto fazendo um bico dramático e esticando minha mão para ele tocar.

Vejo um sorrisinho de dente de leite surgir e sorrio de volta.

— Agora sim! — Ajudo a descer da cama baixinha e caminhamos até minha sala para ele não se constranger ou se incomodar com os olhares dos amiguinhos.

Pego-o no colo e o coloco na maca coberta com um papel.

— Seu cabelo...

Escuto a vozinha baixinha e puxo meu rabo de cavalo longo procurando por algo.

— Parece fogo! — Sorrio ao ouvi-lo terminar a frase e vejo um sorriso também.

— O seu parece sorvete de chocolate. — Ele gargalha levemente.

— Vamos ver se está tudo bem com você, super-herói? — Assente e eu peço licença pra levantar sua blusa.

Observo os hematomas e dou uma apertadinha bem leve pra procurar qualquer sinal de dor.

— Você tá forte em!

— Eu tô comendo muito papa. Feijão e tomate é uma delícia!

Termino os emaxes de todos os dias e voltamos de mãos dadas para a sala de pedriatria.

— Obrigado, tia! Minha barriga não dói mais. — Ele abraça minhas pernas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Retribuo o afeto com minha mão em sua costa e ele corre de volta pra sua cama me olhando curioso.

...

Mexo no feijão do meu prato enquanto reuno coragem para dizer o que queria aos meus pais.

— Lembram do Noah? O garoto que tava ao lado da mãe morta?! — Vejo meu pai baixar o jornal e assentir e minha mãe beber um longo gole de suco. — Ele teve um avanço enorme no peso. Ganhou cerca de 2kg em uma semana. Ainda tá magricela, mas já não consigo ver as costelas aparentes como antes.

-— Que ótimo, filha!

— Você é uma ótima médica, tenho certeza que quando completar pediatria você vai ser uma das melhores do país! — Minha mãe diz e eu concordo com a cabeça encostada na mão.

— Ele vai pro abrigo assim que ganhar mais uns quilinhos.

— Vai ser bom pra ele. — O senhor com os óculos na ponta do nariz se pronuncia.

— Bom? Provalmente vai passar a infância e adolescência inteirinha esperando por um dia que vai ser adotado. No fim quando completar 18 sai do orfanato e como a maioria vai morar na rua virando mais um por aí. — Respondo rapidamente e engulo o bolo que se forma em minha garganta. — Ele só tem dois anos, pai! Não merece uma vida de merda assim.

— E o que você quer que a gente faça, Sofia? Não podemos abrigar todas as crianças em qual você sofre quando vê no hospital.

— Eu queria que vocês me dissessem o que fazer, sabe? Faz a coisa que a maioria dos pais fariam. Tentar ajudar de algum jeito. — Subo meu tom de voz e abaixo logo que percebemo os olhos arregalados de minha mãe.

— Deixe o garoto ter o futuro que merece. Não podemos fazer nada! — Meu coração dispara com as palavras sem coração de me pai.

— Vocês podem, mas não querem. Eu posso e quero.

— Vai adota-lo? — Escuto a risada sarcástica de minha mãe. — Você é uma adolescente, acha que alguém vai confiar uma criança a você?

Vai estar acabando com sua carreira. Filho se torna um fardo quando você não tem noção de como administrar tudo. Você tem 25 anos, filha. Deve pensar melhor...

— Só vou saber se tentar. Boa noite! — Empurro a cadeira e puxo meu casaco enfio a mão em meus bolsos a procura da chave do meu carro. Saio pela porta principal e entro no carro vermelho escarlate e logo saio dali indo para meu apartamento.

...

Minha assinatura brilhava no papel branco em que passava o Noah ao meu nome e agora ele pertencia a mim.

Meu filhinho.

Consegui mexer com os papéis antes que ele se recuperasse, não queria que ele passasse pelo abrigo.

Josh, meu amigo advogado me ajudou alegando que estava totalmente pronta pra ter uma criança e mostrou todos meus extratos bancários exibindo as entradas e saídas de dinheiro.

Mercado, farmácia e shopping. Nada de mais.

Ser uma mulher adulta e com boa condição foi um dos motivos de eu conseguir a guarda facilmente.

Sendo real, eu achei que seria mais difícil.

Assistente social foi até meu apartamento no início do processo.

Querendo ou não, eu era uma santa. Não tinha passagem pela polícia, nem uma sequer multa de trânsito, meu primeiro carro foi um Honda Civic que ganhei de aniversário de 16 anos e só troquei pois queria um carro vermelho, todas as parcelas foram pagas corretamente pelos meus pais. Nada de contas pendentes... Nada mesmo!

Os pais são o motivo do meu surto

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Os pais são o motivo do meu surto.

Bjao!

my son's teacher - Chris EvansOnde histórias criam vida. Descubra agora