At Home - 2°

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O teto já não fazia sentido do tanto que eu encarava, e a esse ponto sentia que me faltava liquido no corpo para chorar. Depois da discurssão com a mãe dele, eu e Sunny fomos ao quarto dele e nós jogamos na cama, e tentei o consolar com abraços e selinhos, mas ele ainda estava calado, queria poder tirar toda a sensação ruim que ele sentia se fosse possível

- Quer conversar? - Pergunto cortando o silencio enquanto passava as pontas dos dedos pelo cabelo dele

- Não - Ele responde curto e se ajeita na cama colocando o rosto contra meu pescoço, enquanto envolvia minha cintura em um abraço

- Eu sei que não era isso e ela é sua mãe... - Tento organizar alguma frase que faça sentido em minha cabeça

- Agora não - Decido ficar calado, eu não entendia como ele se sentia, como ajudaria?

A tarde demora passar e só percebo que ele dormiu quando sua respiração fica pesada e arrepia a pele do meu pescoço. Levanto devagar para não o acordar, ele precisava dormir, a cabeça dele devia o estar matando depois de tudo

Eu estava com receio de sair do quarto, afinal, eu seria a última pessoa que a senhora Park queria naquele quarto, caminho olhando as prateleiras do cômodo vendo os livros e antigos brinquedos do Sunny. No canto do quarto tinha o violino, ele havia me contado que voltou a tocar quando veio para Tonear e que não odiava tanto, ele lidava bem com a música, eu já a temia, cada fio que eu encostava o dedo sentido a textura me causava calafrios, eu lembrava da escada, dos gritos

Balanço a cabeça tentando afastar todas aquelas lembranças e suspiro saindo do quarto até o banheiro ao lado, eu precisava lavar o rosto. Algo sobre traumas que nunca comentam, você aprende a lidar, você até chega a esquece-los, mas no final eles sempre estão com você, esperando um pequeno sinal para voltar em cheio na sua mente

Lavo o rosto algumas vezes tentando acordar, tentando voltar para minha realidade. Eu era Basil, não o pequeno, não o medroso; eu era o Basil que tem amigos, que está bem, que não tem medo

Assusto com algo no espelho quase gritando me virando e acalmo vendo Sunny coçando os olhos sonolento

- Você quase me matou - passo a mão em meu próprio peito

- está tudo bem? - A voz dele saia desregulada pelo sono e o mesmo me abraça. Grudo nele, tanto por ele estar fofo assim, quanto por cortar a adrenalina que eu estava sentindo alguns segundos atrás

- Está - passo as mãos pelas costas dele em carinho - está tudo bem com você aqui comigo. Você não dormiu quase nada

- não estou com sono, só estava cansado pelo choro - sorrio sentindo a ponta do nariz dele passando por minha bochecha enquanto ele falava e subo uma das minhas mãos até sua bochecha e roubo um selinho que passa a dois, três e logo estávamos entre selinhos lentos

- Melhor irmos para o seu quarto, sua mãe não ficaria contente de nós pegar no banheiro mesmo que entre selinhos

- Não acredito que ela vá sair do quarto hoje - eu ia pedir desculpas de novo por tudo, mas ele praticamente lê minha mente e coloca a mão sobre meus lábios - não é sua culpa. Eu não pensei que ela reagiria assim, mas não tem a ver com você ou eu, as coisas são complicadas, ela ainda tem muito medo de me perder e você só foi alguém que ela encontrou para culpar

Tiro a mão dele devagar

- Ela não devia falar assim com você e muito menos te bater

- Ela é minha mãe, Basil

- Isso não justifica - insisto, eu não sabia nada de como era ser um pai, mas os meus me deram um bom exemplo, mesmo que tivessem que trabalhar muito

- Não vamos falar sobre isso - ele vai saindo do banheiro e o acompanho - está com fome?

𝒬𝓊𝒶𝓃𝒹𝓸 𝓮𝓵𝓮   𝒗𝒐𝒍𝒕𝒂𝒓 - OMORI Onde histórias criam vida. Descubra agora