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Eu pensei em entrar pela janela ou sei lá, apenas subir correndo as escadas. O sol já havia se posto quando cheguei na frente da casa dos hunter's, eu teria feito qualquer loucura para vê-lo apenas para um tchau, todavia o universo ria de mim bem alto. O carro deles nem ao menos estava lá, eles já haviam ido ao ponto de ônibus

Eu podia me jogar na grama e chorar ou tentar correr até a rodoviária que ficava a 10 quadras, como já imaginam corri destrambelhado rua a cima passando por poucos faróis de carros que ainda transitavam o nosso calmo bairro

- Onde? Onde? Onde? - Corro meu olhar entre as pessoas que arrastavam suas malas barulhentas para lá e para cá quando vejo Kel e sorrio animado cruzando nossos olhos - Kel! Kel! Eu consegui! - corro até ele

E meu sorriso vai se desfazendo em pedaços, ele não precisou dizer nada, nem ao menos um gesto. Ele estava parado e senhora Hunter estava um pouco mais distante com cara de pouco amigos, mas ele... Quem me fez correr quadras sem o menor porte físico, fugir de casa não uma, mas duas vezes, o garoto que me deixa em turbilhão de sensações apenas não estava lá. Eu fui lento demais, indeciso demais e agora a frustração me abatia

- Ba, ele...

- Eu sei - sento no chão sem ânimo - Ele disse algo?

- Ele não parava de te caçar no meio da gente que andava para lá e para cá - Ele senta do meu lado olhando o mesmo ponto vazio - Vocês vão se ver logo, não se preocupem

- A mãe dele me odeia e ele mora a quase 10000 km de mim. "Logo" - Eu respondi rude, mas não era ele que estava me deixando assim - desculpa, eu só estou... Nem sei dizer

- Tudo bem - sinto a cabeça dele tombar sobre meu ombro - vocês até que eram bonitinhos se pegando enquanto todos dormiam

Rio fraco incrédulo que ele pensava nisso essas horas e deito de lado minha cabeça sobre a sua

- mera coincidência vocês estarem dormindo - Brinco mesmo sem humor - Eu só queria dizer tchau - Soluço sentindo as palavras me deixarem a mercê de explodir em choro - Isso é tão injusto

- Ah, Ba - Ganho um abraço dele e caio no choro

Alguns segundos se passam e a senhora Hunter faz barulho com a garganta

- Está ficando tarde, levantem. Eu te deixo em casa, Menshyer - Ela diz nem um pouco empática. Na verdade, ela não entenderia, duvido que saiba sobre mim e Sunny. Adultos tendem a ver só o que querem

Kel me puxa junto a ele, nós fazendo andar ainda grudados até o carro da família. Eu queria dizer que mudou algo, que mantive o relacionamento a distância, que o visitei algum dia. Mas eu não queria prolongar minha dor, e pelo jeito ele também não, porque ambos não ligamos um para o outro. Meses se passaram, vi Kel ganhar o campeonato de inverno, ele e Aubrey assumirem o relacionamento para família; Então os meses viraram ano e poucas vezes Aubrey me contava sobre o que soube de Sunny, a família dele havia se mudado novamente e o contato com ele era raro.

Quando a formatura chegou eu já era um novo eu, não que tenha o esquecido, porque era impossível, mas se tornou suportável saber que nem sempre quem amamos pode ficar ao nosso lado, bem, foi o que eu me ensinei a pensar

- olha isso! Olha isso, gay! - Kel na sua crise de felicidade pulava na minha cama com sua carta de aceitação em Anothercity, Aubrey havia passado para a mesma e lá tinha basquete, era tudo que aquele idiota mais queria. Sorrio para ele sem tirar meus olhos do romance que eu estava lendo, ler sobre o amor perfeito dos outros é minha tortura rotineira - qual é, Ba? Cadê meu parabéns e beijo

- Parabéns - finjo jogar um beijo para ele que me mostra o dedo do meio. Hormônios nós deixaram bem babacas, desculpa

- falta de sexo te deixa assim - Ele se joga sobre mim - O lance com o tenista não deu certo?

Sim, eu saí com alguns garotos no último ano de escola, mas eu sempre era insuficiente ou talvez o que eu me acusava para fugir da relação

- Estamos falando sobre sua admissão na faculdade dos sonhos, não mude de assunto - Bato o livro no braço dele tentando escapar

- Qual foi dessa vez? Ele era alto demais? Insensível? Incomodo ou você só não gostou? Sua seletividade tá dando roleta russa nos gays da cidade

- Não fale como se eu fosse um prostituto - Faço careta para ele que deita ao meu lado rindo - Não tenho sorte como você que achou o amor da sua vida na primeira namorada

- Nossa, sim. Aubrey é com total certeza meu maior lance - Referência a basquete ou algo assim, eu apenas finjo entender - e sobre Bmed, até agora nenhuma ligação ou carta?

- Ah, é. Eu passei. Ligaram ontem, mas você chegou tão louco que esqueci de falar - Um silêncio perigoso nós rodeia antes daquele imbecil subir em cima de mim me esmagando entre abraço e beijo (não na boca, pervertidos)

- Keeeeel - Grito entre risos pelas cócegas, ele conseguia ser insuportavelmente um bom amigo grudento

- Se forem me trair assim, poderiam ao menos me deixar assistir? - Levantamos o rosto vendo a nossa miss rosa entrando no meu quarto carregando uma fatia de bolo, o que é sinal de Polly preparando o abençoado lanche da tarde

- Jogadores não é meu tipo

- Falou o cara que pegou um gay em cada esporte - Kel retruca e o derrubo da cama com a força do ódio, pq nossa diferença de peso não me daria tal feito

- E o tenista? - Aubrey tanto quanto Kel sabia mais quem eu estava saindo do que eu mesmo

- Furada, ficava me chamando de "brother", preferi sair fora

- Credo, Ba, nem rolou nada na "brotheragem" - os olhos insinuosos dela me fizeram revirar os meus

- rolou eu inventando que precisava regar minhas margaridas e escapando - Bocejo alto tentando parecer mais tedioso do que já estava - Já arrumou suas coisas?

- Já! Senhora Hunter vai nós deixar no aereoporto amanhã cedo. Posso te levar na mala?

- Queria. Como vou viver sem você me apresentando homem?

Sorrio, mas realmente me sentia horrível perdendo os dois. Ambos iriam para uma faculdade a 2 horas da minha, nós veríamos com menos frequência o que já é muito para mim, porque aprendi a amar esse casal idiota vivendo no meu quarto

- Fim de semana juntos, promessa, em? - Aubrey diz esticando o mindinho

- Promessa - Junto nossos mindinhos com Kel se intrometendo colocando o pé sobre

Se eu soubesse tudo que rolaria não teria prometido...

𝒬𝓊𝒶𝓃𝒹𝓸 𝓮𝓵𝓮   𝒗𝒐𝒍𝒕𝒂𝒓 - OMORI Onde histórias criam vida. Descubra agora