the loneliest time ✦ chuuves

parte III

Sooyoung

Morar na Ilha de Jeju é como um sonho. Imagine estar de férias para sempre, num lugar com muito sol, mas que também enfrenta neves e temperaturas negativas no inverno?! Jeju é assim.

É sempre uma grande comemoração, tudo funciona muito bem por aqui, principalmente no verão e eu daria tudo para que estivéssemos nesta estação, já que é muito melhor para os meus negócios. Estamos entrando de cabeça no inverno, ele chega em algumas semanas e isso significa que minhas filhas estarão de férias. Não que eu não goste, muito pelo contrário, mas isso significa diminuir a frequência do trabalho e deixar que minha assistente me ajude a tomar decisões difíceis. Há muitas atividades por aqui, mas não tão divertidas para crianças.

Oh, você deve querer saber um pouco mais de mim, certo?! Eu poderia te responder o mesmo que costumo dizer à imprensa, "sou uma mulher reservada", "prefiro não comentar", "não tenho nada a declarar", "abstenho", mas estamos apenas eu e você, então te darei o gostinho de saber um pouco mais de mim.

Não tenho muitas histórias emocionantes para contar além de que meu pai ganhou uma bolada ainda quando eu tinha 13 anos e decidiu se mudar para Jeju. Na época, ele conseguiu contratar uma boa pessoa, que o auxiliou corretamente e o fez um grande administrador de sua riqueza. Não éramos pobres antes disso, levávamos uma vida confortável, éramos ele, eu e a minha mãe, e tudo ia na mais perfeita tranquilidade.

Eu frequentava uma boa escola, fazia atividades de informática e conhecia um pouco mais sobre administração com o meu pai. A minha mãe era mais caseira, se dedicava ao nosso lar, mas tinha um imenso sonho de ser chef de cozinha. O meu pai era um pouco ranzinza e avarento, sempre dizia "já viu algum chef rico?!". Por sorte, mamãe tinha a mim, que sempre a motivou a seguir seus sonhos.

Quando nos mudamos para a Ilha de Jeju, mamãe viu nisso a oportunidade de dar sequência ao seu sonho. Ela iniciou a faculdade de gastronomia e eu era a sua cobaia, experimentando seus pratos deliciosos e dignos de um cardápio vendido a preço alto. Sempre pensei um pouco parecido com o papai e queria que mamãe investisse para que tivéssemos retorno financeiro. Como disse, vivíamos uma vida confortável antes da fortuna ganhada por meu pai, mas eu queria mais.

Quando a minha mãe se formou, ela começou a procurar emprego e isso irritou o meu pai. Estávamos ricos, morávamos num grande hotel de Jeju, o que mais ela queria?! Por mais que eu entendesse o ponto do meu pai, eu sabia o que mamãe pensava. Ela vinha do interior, teve uma infância sofrida e nunca fugiu de trabalho. Para ela, era realmente difícil entender que não precisava trabalhar, que agora, as pessoas trabalhavam para ela.

Foi então que papai comprou o primeiro hotel. Ficava perto da praia e recebia grandes estrelas do pop coreano da época. Para que mamãe não caísse em tristeza, ele a deixou administrar a cozinha. Estava tudo perfeito, mamãe feliz, papai nadando em dinheiro e eu bem ali no meio, sendo o centro de tudo e de nada ao mesmo tempo. Não me leve a mal, meus pais eram ótimos, eles só não eram tão amorosos quanto eu gostaria. Vivíamos bem e em harmonia, mas com pouco carinho envolvido.

Não os culpo por isso. Essa relação me ajudou a ser quem sou atualmente, um coração de muralha que nunca cede. Eu cresci e amadureci sozinha, isso inclui me conhecer e me entender perfeitamente bem desde sempre. Alguns amigos da escola me diziam que eu não precisava contar exatamente tudo para os meus pais e eu levei isso a sério, porque eles nunca desconfiaram que eu era lésbica, nem quando foram notificados pela escola sobre uma "infestação de maus hábitos".

Se eu aproveitei o ensino médio?! Sim, bastante.

Entenda que Jeju é uma ilha e não tem muito para onde ir, sempre fui convicta da minha sexualidade e muito segura sobre isso, então não me importava em ser a experiência de uma ou outra curiosa por aí, meus pais eram ricos e isso me fazia crer que eu podia fazer tudo... Tudo até o último ano do ensino médio sênior, quando fui expulsa por fazer sexo no vestuário feminino.