Sooyoung
A sexta-feira foi quente durante o dia e estava um vento gostoso à noite. Pela manhã, Kahei e eu ficamos investigando alguns convênios para que firmássemos uma parceria. Ficamos em dúvida entre três, isso porque a maior parte não se encaixava no que eu tinha em mente e, após as duas reuniões que fiz com os funcionários, estava mais que certa em querer que todos tivessem acesso à saúde de qualidade.
Além disso, também procuramos consultórios independentes que quisessem filiação em atendimento psicológico, esse foi até mais fácil do que imaginei. Eu gostei de dois e provavelmente, seguirei o conselho de Kahei em aceitar a proposta do segundo que contactamos. Quero acreditar que ela me propôs essa clínica porque sentiu confiança e não porque achou a principal psicóloga e dona muito bonita.
Eu comentei superficialmente com Kahei sobre Jiwoo, ela meio que já sabia de sua existência devido ao atrito que tivemos no dia em que a Kim descobriu que eu seria sua chefe e depois, com o banho de limonada. Para Wong, a história estava se repetindo porque, admito, tenho tendências a me atrair por mulheres que desenvolvam algum tipo de atrito comigo, mas definitivamente Jiwoo não está em meu radar para esse tipo de situação.
Digo, não estou julgando antecipadamente que ela seja heterossexual só porque enviuvou de um homem, e ela ser mãe não é empecilho algum que me faça recuar, é só que eu realmente não acho que combinamos. Por isso, descartei qualquer possibilidade que minha mente possa criar e me certifiquei de que teríamos um jantar agradável para discutir nossas diferenças e verificarmos a melhor forma de interação para nossas filhas.
Hayi se disponibilizou para cuidar das gêmeas, o que era ótimo porque eu poderia aproveitar a noite sem pressa. Não escolhi nada muito casual ou arrumado, também porque estava ventando de modo agradável mas não tanto para sair de shortinho. Prefiro me portar com um vestido curto e preto repleto de botões em ouro velho que ia do busto à barra. Ele possui mangas bufantes e curtas, com elásticos para ficarem bem presos aos braços.
Por causa do frio, recolho meu sobretudo cor grafite com leves fios brilhantes, este que é um dos meus favoritos devido aos seus dois bolsos enormes nas laterais. Aos pés, opto por uma sandália também preta de salto agulha dos mais altos que encontro em meu closet, portando poucas joias para evitar distrações e motivos para Jiwoo me julgar. Não que eu me importe com o que ela pensa, mas me irrita em como sua língua afiada e seu cérebro ágil trabalham muito bem juntos.
Uma vez, li num artigo sobre os pontos afrodisíacos mais importantes para passar perfume, e estavam entre eles a nuca, a região atrás das orelhas, o ventre e nas faces posteriores dos joelhos. Novamente, não que eu queira seduzir Kim Jiwoo, porém sempre fui conhecida por ser uma mulher cheirosa, e quero que ela seja mais uma das que concordam com essa afirmação.
Ao invés de bolsa, escolho uma carteira grande o suficiente para caber meu cartão, o cartão de acesso ao meu quarto e o celular, tal qual combine com a minha roupa. Meus cabelos se encontram desbotados no momento, mas esta é uma cor agradável para mim. A ideia foi de Yeojin e eu achei ótima, me adaptei com rapidez e combinou comigo. Para maquiagem, evito me precipitar, penteando os cílios e as sobrancelhas como rímel incolor e usando um gloss com forte pigmento rosa.
Paro em frente à porta que divide nossos quartos do hall de entrada da suíte, onde Yerim está deitada na cama acolchoada com um pequeno livro no colo enquanto Yeojin desliza o indicador sobre o iPad em algum jogo interativo. Hayi está sentada no chão ao lado de Yeojin mexendo em seu celular e, quando me vê, tenta o esconder. Apesar de já ter dito que não ligo que use o celular em serviço - desde que não interfira nos cuidados com as meninas -, Hayi continua agindo como se fosse um grande pecado e que reclamarei em algum momento.
- Estou saindo - informo para que elas desviem a atenção de suas atividades.
- Onde vai?! - Yerim ajoelha na cama para se aproximar da ponta.
- Terei uma pequena... Reunião. Jantarei com a mãe de Hyeju.
- E por que você vai assim?! - Yeojin ergue a sobrancelha esquerda ao me olhar de cima para baixo.
- Assim como?!
- Sei lá, despojada.
- Despojada?! - rio nasalada. - Onde aprendeu essa palavra?!
- Vimos um reality de moda com a Hayi, a estilista dava dicas de looks despojados - Yerim fica de pé na cama e estala os dedos, o que me faz olhar para Hayi e cair na gargalhada com ela.
- Esse não é um look despojado, só é... Mais informal - respondo no momento que percebo que Yerim pulará da cama.
Em um rápido reflexo, adentro o quarto e a pego no ar, carregando-a em meu colo e passando suas pernas por minha cintura.
- Ela está cheirosa - disse Yerim ao passar seu narizinho por meu pescoço.
- Ué?! Sempre estou...
- Mas não tanto como agora - diz Yeojin ao se levantar e se aproximar, abrindo e fechando as mãos para que eu a carregue.
Com um pouco de esforço, estendo o braço e Yeojin o escala, fincando-se ao lado direito do meu corpo. Ela segura-me pelo pescoço e eu percebo o quão pesadas estão.
- Eu preciso ir, por favor, se comportem, não quero nenhuma queixa de Hayi quando eu chegar, certo?! - as duas afirmam com a cabeça. - Agora um beijo na mamãe - cada uma da um beijo estalado na bochecha que lhe está livre e eu jogo a cabeça para trás para mostrar que gostei.
Yerim é a primeira a descer, retornando para a sua cama e cobrindo-se até a cintura, Yeojin volta para o chão, retornando toda a sua atenção para o jogo antes pausado. Hayi se levanta e me acompanha até a porta, como costuma fazer todas as vezes que preciso sair:
- Estarei com o celular ligado, qualquer coisa, me ligue. Yeojin está espirrando um pouco, acredito que seja porque Yerim encontrou um esqueleto articulado de madeira e estava muito empoeirado. Eu até limpei, só q...
- Ei! Não é a primeira vez que cuido delas, esqueceu?! - Hayi me tranquiliza em tom de brincadeira. - Nada vai acontecer, pode ir para o seu jantar e, se precisar ficar fora, não tem problema!
O tom de intimidade que Hayi se comunica comigo me faz querer ter Kahei por todo tempo ao meu lado. Eu nunca fui de muitos amigos e, nesse momento, gostaria mesmo de ter alguém me dizendo que eu conseguiria não me estressar com Kim Jiwoo a ponto de passar a noite inteira sem querer enroscar minhas mãos em seu pescoço por sua língua afiada me chicotear em críticas.
- Não ficarei a noite toda. Voltarei, no máximo, à meia-noite - percebo que meu tom é um pouco rude porque o sorriso de Hayi se desfaz.
- Tudo bem, da mesma forma, estarei aqui!
- Obrigada... Mais uma vez - respondo um pouco envergonhada, achando desestimulante o silêncio que se forma entre nós.
Aceno com a cabeça para Hayi e me retiro da suíte, caminho pelo longo corredor e paro no hall, apertando o botão do elevador. Não me sinto nervosa, mas a sensação de precisar mostrar para Jiwoo o quanto eu era uma boa mãe me consome por inteiro. Ela era alguém desafiadora, suponho que nunca precisei lidar diretamente com uma pessoa assim, ela é reativa, agressiva e age como uma leoa quando se fala qualquer coisa de sua filha.
Jiwoo não me intimida, ela apenas sabe como me tirar dos eixos e algo que eu odeio é perder o controle, isso ela já percebeu. Tenho receio de não conseguirmos dar passos adiante e isso prejudicar Yerim e Yeojin. A espera do elevador me faz cogitar voltar para o quarto e retribuir a falta que ela cometeu em nosso outro encontro, mas diferente de Jiwoo, eu não teria uma desculpa coerente, seria apenas uma vingança boba.
Por sorte, o elevador abre as portas e eu sou brevemente salva por aquele que será o início de uma longa noite.
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the loneliest time ✦ chuuves
FanficTHE LONELIEST TIME | Kim Jiwoo + Ha Sooyoung = chuuves | Romance, drama, natalino Após ficar viúva, Kim Jiwoo decide interromper seu sonho de ser cantora para virar barista em um hotel. Mãe de Hyeju, uma extrovertida e indomável criança de seis anos...