the loneliest time ✦ chuuves

Parte XVI

Sooyoung

Está sendo um dos jantares mais constrangedores que já tive na minha vida.

Minha percepção inicial de Kim Jiwoo é que ela tem a mesma mania que eu: a de honrar compromissos exatamente na hora em que foram marcados. Isso é um pouco triste porque normalmente, pessoas que amam se atrasar e amam se intitular de atrasados usam e abusam dessa "boa vontade" - que deveria ser no mínimo uma questão de senso - para sempre se atrasarem. Acredito que prensamos igual, porque exatamente às 8:58 da noite, ela adentrou ao restaurante e estava a três clientes de distância.

Quando eu disse "uma mesa para duas", a hostess me guiou para um local reservado, com uma luz central bem baixa que aquecia o local. Ela me ajudou a retirar o sobretudo e eu o deixei na cadeira, solicitando de imediato a carta de vinhos. No mesmo instante, Jiwoo apareceu em minha frente e, de um jeito esquisito, senti uma pontada no peito. Ela sorria timidamente e, da mesma forma, seu sorriso gengival era extenso.

Foi esquisito quando tentamos nos cumprimentar, então optamos por não o fazer. Ela apenas retirou o blazer que usava e copiou a minha ação, o colocando na cadeira. Jiwoo tinha belos ombros largos e clavículas bem marcadas, os pelos claros de seus braços subiam quando ela se arrepiava de frio e eu podia ver a penugem em seu rosto limpo feito pêssego. Ela estava muito bonita, tenho de admitir.

Me dei ao luxo de pedir o vinho, um ótimo fermentado peruano que já conhecia ser a especialidade do BellaDonna. Jiwoo não negou o pedido, mas ficou desconfiada quando o garçom serviu um copo de água com gás ao lado do vinho. Pensei muito se deveria explicar que a água com gás amenizava a embriaguez e acentuava o sabor da bebida, contudo, imaginei que ela me entenderia como esnobe, e vai que ela já sabia e só não gostava de água com gás?!

Preferi me calar e seguir com o jantar.

Enquanto eu lia o cardápio, notei o desconforto de Jiwoo e entendi que era pelos preços. Foi precipitado da minha parte ter escolhido o BellaDonna, Jiwoo era uma pessoa que estava quase como um zumbi, trabalhava mais que aguentava e não era para pagar luxos, era por necessidade. Por isso, decidi que estaria disposta a pagar a conta por inteiro e, se ela quisesse reclamar, a deixaria falando sozinha.

Dei a sugestão de ceviche para a entrada e, para o principal, segui com um rocoto relleno com bastante batata. Ao entregar o cardápio, Jiwoo pareceu confusa com a minha escolha, mas optou pelo mesmo. Durante o prato de entrada, falamos o básico, como coisas do hotel e a oscilação repentina de tempo em Jeju. Estávamos a passos do inverno e ainda assim, os dias eram quentes.

Durante o prato principal, ficamos em completo silêncio e isso foi constrangedor. Comecei a crer que aquele jantar era realmente uma má ideia, como se não tivéssemos intenção de conversar ou encontrar pontos em comum. Tudo o que eu queria era retornar para o hotel e ter seguido com o meu plano de deixar Jiwoo esperando como fizera comigo, no entanto, tentei me manter otimista quando Jiwoo finalizou o seu prato.

Ela parecia tão perdida com todos aqueles talheres, não senti pena, mas novamente, imaginei que fosse uma tremenda de uma ideia idiota tê-la convidado para aquele restaurante extravagante, quando poderíamos ter decidido juntas um local muito mais confortável e prático para nós duas.

Ao pedir uma terceira taça de vinho, Jiwoo se recosta na cadeira, expressando nada mais que uma feição de estar procurando boas palavras para desenvolver nossa conversa. Os pares ao nosso redor possuem muita interação e nós parecemos um casal prestes a se divorciar forçando um jantar para salvar o casamento pelos filhos, era essa energia que passávamos.

- Então... - ela passa a ponta do indicador ao redor da taça de água. - Como estão Yeojin e Yerim?!

- Ótimas, antes de sair do hotel, Yerim estava lendo e Yeojin, jogando com a babá. - Jiwoo me dá um sorriso afetando sem realmente se importar. - Sem querer ser indiscreta, mas com quem deixou Hyeju?!