parte XXIX

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Jiwoo

- Acho que estou namorando - digo ao encarar o teto enquanto estou bem acomodada no divã.

Meus pés calçados apenas pelas meias recebem o ar frio do ambiente e eu passo bastante tempo em silêncio aguardando alguma posição de Siyeon. Quando viro o rosto, ela está de sobrancelhas erguidas, talvez me esperando entrar em detalhes ou escolhendo palavras para o que digo.

- Ouviu o que eu disse?! - pergunto para ter certeza de que estou sendo ouvida pela minha psicóloga.

Minha psicóloga... Cheguei na fase em que posso ter a posse de uma profissional que me atenda com a excelência a qual Lee Siyeon executa. Depois que entendi que o tratamento psicológico não é uma dependência e sim, uma solução, as coisas começaram a fluir um pouco melhores para mim. Se me dissessem antes que eu estaria agora, deitada no divã de Siyeon e falando com mais fluidez sobre a minha vida, eu desacreditaria, com certeza.

No entanto, cá estou eu, aguardando alguma resposta sobre o que acabo de dizer para ela.

- Sim, escutei Jiwoo.

- E o que acha?!

- Como você se sente sobre isso?!

- Eu perguntei primeiro!

- Não fui eu quem iniciou um relacionamento - ela diz calmamente, mas sinto a alfinetada aguda em seu comentário.

- Justo! - sento-me e enfio os pés no tapete felpudo, que abraça os meus pés. - Neste momento, sinto que fui impulsiva.

- Quer me contar como isso aconteceu?!

- Sim - afirmo com a cabeça. - Sooyoung e eu saímos para jantar com nossas filhas. Desde então, eu senti como se fosse o primeiro jantar em família, fiquei intimidada com as filhas dela, elas são meio... Adultas demais para a idade, mas acredito também que fiquei intimidada porque sou acostumada com a minha dinâmica com Hyeju, e eu estava ali para mostrar por que sou a pessoa certa para estar com a mãe delas.

- Pensa que elas têm discernimento para entender isso com seis anos de idade?!

- Você realmente não conhece aquelas crianças! - Siyeon acha graça do meu comentário. - Eu tentei me incluir, tentei mostrar que sou legal, mas elas possuem uma barreira muito grande que não me deixam ultrapassar.

- Você acha que isso é resultado do antigo relacionamento de Sooyoung?!

- Não, não. Pelo que sei, elas não chegaram a conhecer a outra mãe, não sei se sabem que ela existe, na verdade, acho que a todo tempo, elas acreditam que só têm a Sooyoung e por isso, agem tão duramente com quem se aproxima... Enfim, eu estava constrangida de todas as formas, pelo jantar, pelo local, por quem nos cercava. Eu a convidei para jantar e ela sugeriu o restaurante do hotel, aquele que trabalho e ela é dona. Acho que na hora, eu estava meio... Hum... Imersa nela e esqueci de sugerir um outro local, tínhamos acabado de ter um pequeno atrito, fui mal interpretada.

- Em que sentido?!

- Os dias foram corridos para mim e não consegui lhe dar atenção, por isso, Sooyoung achou que eu a estava ignorando. Eu fiquei nervosa e acabei aceitando a primeira sugestão sem nem pensar direito. Durante o jantar, eu percebia meus colegas de trabalho me encarando e comecei a fazer deduções na minha cabeça, coisas do tipo "ela está se aproveitando da chefe", "ela é uma infiltrada, não fofocaremos mais perto dela pois com certeza vai levar as informações para ela", "ela nem esperou o corpo do marido esfriar" - faço aspas com os dedos.

- Opa! - Siyeon arregala os olhos e deixa de lado o seu bloco de anotações. - Em algum momento, alguma dessas sentenças foram verbalizadas?!

- Não... - minhas bochechas ficam rubras quando admito.

the loneliest time ✦ chuuvesOnde histórias criam vida. Descubra agora