parte XVIII

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Jiwoo

É um dia mais corrido do que o planejado. Logo no primeiro horário da manhã, notifico à escola de Hyeju que ela faltará a aula para realizar alguns exames. A minha sorte é que a conversa que tenho é diretamente com Tiffany e, após solicitar a minha presença em dias atrás, ela está ciente de quais profissionais atenderão a minha filha naquele dia.

A primeira consulta que a levo é na oftalmológica. Algo que aprendi muito cedo foi que quando estamos de acompanhante de um paciente, precisamos deixá-lo falar e só intervir quando necessário, mesmo se tratando de uma criança. Somos as primeiras a chegar na clínica e, com o horário marcado, somos atendidas de imediato por um ótimo profissional.

Ele faz algumas perguntas para Hyeju e ela, como gosta de conversar, não se sente acanhada em nenhuma delas. Algo formidável no teor da conversa é a linguagem que ele utiliza e em como ela se dá bem nas respostas, mostrando a desenvoltura e eloquência que até hoje me deixam assustada para a sua idade.

Hyeju não se queixa de nenhuma dificuldade visual ou dores de cabeça. Ele solicita que suas pupilas sejam dilatadas e nos pede para retornar ao consultório em quinze minutos, o que nos faz sair para a sala de espera. Hyeju se senta ao meu lado e, de acordo com suas pernas balançando no ar e sua inquietação, sei que virá perguntas:

- O que é dilatar pupila?!

- É uma coisinha que o médico faz para poder checar seu olho.

- Por quê?!

- Porque ele precisa descartar possíveis problemas de visão.

- Por que tem que colocar remédio?!

- Porque para realizar esse exame, o médico precisa que sua pupila fique constantemente grande, então esse remédio ajuda nisso.

Hyeju fica em silêncio, ainda balançando as pernas. Não tarda e um profissional se aproxima com o colírio, as luvas bem esticadas nas mãos e o sorriso que noto elevar suas bochechas por trás da máscara.

- Bom dia! Como faremos?! Você a segurará?! - ele me pergunta.

A sua pergunta é carregada de más experiências com crianças que normalmente não o deixam finalizar e trabalho, mas Hyeju se mostra complacente e arregala os olhos para o ajudar.

- Quer segurar a minha mão?! - ela afirma com a cabeça e aperta a minha destra.

O profissional ergue sua cabeça e pinga uma gota de colírio em cada olho, fazendo-a abaixar o rosto com rapidez e as pálpebras extremamente cerradas. Dou um riso nasalado por sua incansável tentativa de me mostrar que a ardência não lhe abate, mas é impossível não notar seu corpo petrificado e sem saber qual reação ter. As pessoas ao nosso redor a acham fofa e fazem alguns comentários agradáveis, sorrindo para mim com a reação da minha filha.

Sinto pena quando Hyeju me olha e começa a chorar, não por birra, mas pela ardência ser algo que ela realmente não sabe controlar.

- Não precisa ficar com os olhos abertos, pode piscar - Hyeju suspira e pisca uma porção de vezes, me fazendo rir.

Enquanto esperamos, decido puxar assunto com ela para nos distrairmos.

- Você gostou do piquenique?! - Hyeju afirma com a cabeça. - Acha que agora pode ser amiga de Yerim e Yeojin?!

- Sim - responde com segurança.

- Que bom, fico feliz com isso.

- Por que estou fazendo exames?!

Penso um pouco antes de responder. Nunca fui de muitos rodeios com Hyeju, apesar de escolher melhor as palavras com as quais devo lhe repassar informações, opto por sempre lhe dizer a verdade.

the loneliest time ✦ chuuvesOnde histórias criam vida. Descubra agora