Parte IX

98 23 6
                                    

Jiwoo

Eu serei demitida.

Antes, eu tinha dúvidas, mas agora, tenho certeza. Não tenho desculpas, eu realmente derrubei aquela jarra sobre a cabeça da minha chefe, mas não, não foi intencional... Digo, eu pensei em jogar aquela jarra na cabeça dela sim quando ela me deu aquelas ordens com aquele tom esnobe só para se exibir para a mulher com quem negociava, mas acho que pensei forte demais porque realmente aconteceu.

Foi a coisa mais idiota que eu poderia ter feito, porém não carregarei essa culpa totalmente sozinha. Se não tivesse dado um banho de limonada em Ha Sooyoung, teria machucado suas filhas e, claro, essa não era a minha intenção. Eu poderia ter pisado nelas e as machucado de verdade, fora que a jarra de vidro poderia ter caído no chão e causado um acidente muito pior.

Apenas agi por impulso e deixei a jarra virar na bandeja, esta que desequilibrou bem na cabeça de Ha Sooyoung. Eu até consegui segurar a jarra, mas o conteúdo dentro dela caiu inteiramente sobre a minha chefe. Era o nosso terceiro embate em menos de uma semana, eu contei demais com a sorte e agora, se não fizesse nada, poderia perder o emprego e isso estava fora de cogitação.

Deixo a minha bandeja sobre o balcão e tiro o avental, saindo do bar e indo em direção ao sanitário. Quando passo por Chaewon, ela move a boca, me perguntando "o que foi que você fez?!". Passo o polegar por minha garganta em sinal de desespero, informando que fiz merda e a deixando totalmente preocupada.

O barulho dos meus saltos causam eco pelo corredor e eu adianto o passo, empurrando a grande porta do banheiro branco com detalhes florais azuis, dando de cara com uma mulher alta passando papel-toalha pelos braços e exalando forte cheiro de limonada pelo ambiente. Sooyoung me olha pelo reflexo do espelho e suas orbes cor de ébano quase saltam:

- Sooyoung, eu...

- Não chegue perto de mim! - ela se vira e aponta para a porta. - Vai embora!

- Me desculpe, não queria fazer isso.

- Não mesmo?! - ela ri com escárnio.

- Eu juro, juro mesmo, não queria fazer isso, eu me desequilibrei. Se não tivesse desviado, teria machucado as suas filhas.

- Agora é culpa das minhas filhas?! Bom, para você, deve ser fácil sempre culpar crianças, não é?!

- Ei, eu não estou inventando! - cerro os punhos ao lado do corpo quando a raiva me toma. - Estou falando sério, eu não queria derrubar suco em você.

- Acredite em mim, reconheço quando uma ação é premeditada - ela me julga como se me conhece há anos.

Isso me incomoda muito. Não gosto de ser julgada dessa forma, ainda mais quando se trata de uma ação involuntária e totalmente sem querer. Por favor, se eu quisesse me vingar, nunca jogaria suco em Sooyoung, eu seria mais eficaz e precisa! Respiro fundo algumas vezes, aspirando o cheiro bom de lavanda e macadâmia do sanitário limpo. Entro e tranco a porta com a chave que se encontra na parte de dentro, assustando Sooyoung com a minha ação.

- Abra a porta! - ela ordena e, em resposta, tiro a chave da fechadura. - Eu mandei abrir a porta!

- Vai baixando a bola porque você pode ser minha chefe, mas não é minha dona, então cala essa boca antes que eu abra a porta pra enfiá-la na sua goela! - Sooyoung não recua, na verdade, ela se aproxima bem e quando está bem perto, seu cheiro forte de limão ensopando os cabelos claros fazem meus olhos arderem.

- Tenta, só tenta - ela rosna de um jeito tão intimidante que dessa vez, quem recua sou eu.

Deixo meus ombros caírem por cima do meu corpo e me recosto na divisão de mármore branco entre as cabines, cruzando os braços abaixo dos seios.

- Olha, me desculpe mais uma vez. Sei que fui uma vadia naquela hora, desde o pedido da limonada, até a diminuição da temperatura, mas não queria te dar um banho de suco. Realmente teria machucado suas filhas se não tivesse desviado e eu não queria borrar toda a sua maquiagem e acabar com o seu cabelo.

A carranca de Sooyoung se desmanchou e, mesmo com os cabelos molhados e os olhos meio borrados, ela parecia deslumbrante. Como consegue?! Pois é, eu também não sei, se fosse eu, estaria destruída!

- Acho que começamos com o pé direito - diz Sooyoung.

- Pé esquerdo.

- Oi?!

- A expressão sobre azar é pé esquerdo, começamos com pé esquerdo.

- Claro, claro... - foi a primeira vez que a vi serena e calma, talvez disposta a me ouvir. - Me desculpe, eu não deveria ter agido como se você fosse minha empregada, sei que não foi culpa sua, foi realmente um acidente, só me senti patética estando desse jeito na frente de uma investidora que fará muito bem ao hotel...

- Não fazia ideia que ela era tão importante...

- Você não precisa saber, eu que estava errada em fazer uma reunião fora do meu escritório...

Ficamos em silêncio por trinta segundos a contar os azulejos do banheiro até eu quebrar o silêncio:

- Então... Ainda tenho o meu emprego?!

- Sim, claro que sim - ela revira os olhos e se volta para o espelho.

- Olha, eu acho que... Essas nossas desavenças têm que acabar, isso já chegou em nossas filhas e não podemos fomentar uma birra idiota por uma discordância tola de reunião de escola. Nossas filhas vão estudar juntas por mais algum tempo e temos que mostrar para elas que somos maduras.

- E o que você propõe?! - ela me pergunta, fitando-me pelo espelho.

- Vamos... Recomeçar, vamos jantar aqui no hotel. Você, eu e nossas filhas, para mostrar que não há motivos para brigas, que elas podem ser amigas e se ajudarem sempre que precisarem... E se não forem amigas, pelo menos aprenderão a se respeitar.

Ela se vira mais uma vez e apoia as mãos atrás do corpo, no mármore da pia.

- Acho uma excelente ideia. Qual dia você tem disponibilidade?! - ela fala como se todos os meus afazeres fossem assinar papéis e fazer peeling facial.

- Qualquer dia depois das oito da noite.

- Que tal amanhã?!

Uau, ela realmente quer isso!

- Claro, seria ótimo! - estendo a mão para cumprimentá-la.

Fico um pouco envergonhada quando minha mão entra em contato com a dela. Seus dedos finos são cobertos de anéis de ouro e ela é tão macia que parece que tem a pele enluvada com pêssego. Minha mão é totalmente desidratada e com alguns calos, ela parece que nunca trabalhou pesado na vida, e eu sei o que disse anteriormente, odeio pré-julgamentos, mas também não os posso evitar.

- Amanhã, às nove. Pode ser?!

- Sim, combinado. Agora acho melhor eu ir, agora que sei que ainda tenho emprego - ouço-a rir nasalada e logo recuperar a postura séria, como se não quisesse me dar ousadia e provar que viu graça no que digo.

- Ei, posso pedir algo?! - faço que sim com a cabeça. - Será que você pode realizar alguma outra atividade até eu terminar de negociar com Minji, só por precaução, por favor?!

the loneliest time ✦ chuuvesOnde histórias criam vida. Descubra agora