the loneliest time ✦ chuuves

parte XIV

Jiwoo

Caindo como uma luva, Jungeun recebeu a sexta-feira de folga. Acho que querem demiti-la e estão gastando todas as suas horas extras em folga para não precisarem pagar em dinheiro na recisão. Um ponto negativo era que Jungeun brigou com a namorada - esta que era um mistério para mim - e não estava a fim de ficar em casa, rapidamente se apresentando para ficar na minha quando eu disse que sairia para jantar com Ha Sooyoung.

Algo que era horrível para mim era Hyeju ficar com Jungeun. Não que ela tratasse minha filha mal, mas era porque elas se davam muito bem, e com isso, quero dizer que as duas se voltavam contra mim e passavam muito tempo sendo odiosas a me criticar. Eu sempre deixava um cronograma para Jungeun seguir e era incrível como ela NUNCA fazia o que eu pedia.

Sei que elas virarão a noite comendo pipoca e assistindo documentários, algo que Jungeun adora e prende a atenção de Hyeju. Talvez, elas também façam disputas de joguinhos ou destruam a minha cozinha. Todos os meus pensamentos me levam a crer que terei muita dor de cabeça quando retornar, pois terei de aturar as provocações de Ha Sooyoung e o caos dentro da minha casa.

Aproveito que Hyeju está atenta no programa de televisão e me tranco no banheiro. Fico confusa sobre o que vestir, não quero ir desleixada, como também não quero que Sooyoung pense que me arrumei por ela. Para um todo, decido tomar um banho após voltar do trabalho e perco um pouco do meu tempo a passar o barbeador nas pernas. Pela primeira vez em dias, não me causo ferimentos com as lâminas afiadas!

O cabelo lavado é secado na temperatura máxima do secador, ganhando leveza por tamanha oleosidade que se encontrava. Ponho as lentes de contato antes de ajustar a franja, esta que cobre minhas sobrancelhas e anuncia que preciso aparar com muita rapidez, mas não agora. Faço uma maquiagem leve, apenas para esconder minhas olheiras, alongar meus cílios e corar minhas bochechas, dando uma impressão de saúde. Ouço a campainha e Hyeju grita eufórica "eu atendo", contudo, eu tomo a frente da situação e a seguro pelo topo da cabeça, a impedindo de correr.

Ela rosna para mim e recua quando eu respondo com um rosnado também. Olho pelo olho-mágico e rio quando Jungeun acena do outro lado. Ela sabe que eu adoro observar pessoas pelo olho-mágico, é sempre divertido ver como ficam com cabeças enormes e corpinhos pequenos. Destranco a porta e a abro, abrindo passagem para ela entrar. Jungeun deixa os sapatos na porta e dá dois tapinhas no meu ombro.

- Animada para transar?!

- JUNGEUN! - grito quando Hyeju se aproxima dela e vasculha suas sacolas.

- Oops! - ela bagunça os cabelos negros de Hyeju. - Ei, baixinha!

- O que trouxe para mim?! - pergunta Hyeju sem rodeios.

- Muitas coisas para aproveitarmos a noite sem a chata da sua mãe!

- OBA!! - ela estende os bracinhos em pura animação, retornando para o sofá e quase me fazendo ter um infarto.

Ao invés de se sentar normalmente, Hyeju escala as costas do sofá e se joga, tendo a queda amortecida pela espuma do móvel.

- Não está atrasada?! - Jungeun olha seu relógio de pulso à medida que deixa suas sacolas sobre a bancada da cozinha americana.

- Não sei o que vestir - ela sorri maliciosa -, para! Não faz essa cara. Não sei o que vestir porque ela é a porra da minha chefe.

- Ela te chamou de pobre na sua cara, não precisa de muita formalidade, ela já sabe que você não tem grana.

- Se você falar mais alguma coisa, te darei um soco - Jungeun ri, tirando uma garrafa de refrigerante de cola da sacola. - Não dê refrigerante de cola para Hye.

- Por quê?!

- Porque ela fica agitada e vai dar trabalho para dormir.

- Ei, relaxa - Jungeun apoia a mão no meu ombro, me dando nervoso por deixar a minha geladeira aberta por muito tempo. - Não precisa se preocupar, eu adoro ficar com Hyeju, ela é como uma pilha Duracell com vida prolongada, sempre fico mais em forma quando cuido dela!

- Jungeun...

- Olha, não se preocupe, vai se arrumar para o seu encontro.

- Não é um encontro...

- Mamãe tem encontro?! - Hyeju espia do sofá.

- Tem sim! - Jungeun estende os polegares para cima em sinal positivo.

- Não é um encontro! - repito ao bater os pés no chão. - É apenas uma conversa com a mãe da gêmeas que estudam com você.

Hyeju não esboça nenhuma reação, ela apenas volta a assistir televisão como se nada fosse dito.

- Não sei o que vestir.

- Não vá de calça jeans, só isso que peço.

- Mas eu fico bem de jeans - digo relutante.

- Sei que valoriza sua bunda, mas não está indo jogar boliche, Jiwoo - Jungeun enfim coloca o refrigerante na geladeira e fecha a porta, apoiando as mãos nos meus ombros e me empurrando para o meu quarto. - Vamos ver o que você tem...

Jungeun abre o meu armário e, sem muita demora, retira um vestido preto de alcinhas com a parte inferior levemente plissada e um blazer justo de mesma cor. Para os pés, ela recolhe um sapato branco-perolado de salto médio e frente quadrada, este que possui uma tira nos tornozelos. Ela me entrega um colar de pérolas, um brinco de mesmo material e uma pulseira que se mistura entre dourada e perolada. Para bolsa, ela me dá uma pequena que não uso há anos, bem, depois que virei mãe, dispensei as bolsas minúsculas e só utilizo aquelas que caibam minimamente metade das coisas da minha filha.

- Pronto, agora é só vestir... E vê se não usa calcinha bege!

- Jungeun?!

- Melhor, vai sem calcinha!

- Pare de ser tão pervertida - resmungo e me sento na ponta da cama. - Posso te fazer uma pergunta?!

- Sou todo ouvidos!

- Acha que estou fazendo algo de errado?! - Jungeun franze o cenho e apoia o joelho na cama. - Digo... É tão recente...

- Está falando de Chan?! - afirmo sem querer encará-la. - Jiwoo...

- Ai, eu sei o que vai dizer, mas...

- Olha, eu, como aquariana...

- Ah, não...

Jungeun ama falar de signos e a atual namorada dela - ainda misteriosa, mas sagitariana, pelo que sei - também ama, esse foi um dos pontos que as fez unir as escovas de dentes antes da fatídica briga do dia.

- Eu lido melhor com essas questões, mas dispensando signos... Quero dizer que você tem que acreditar nessa historinha que inventou, você realmente não acredita que seja um encontro?! Então não é. O principal foco para esse jantar é acabar com as divergências que vocês duas possuem, isso para que suas filhas sejam beneficiadas, então pare de levar tudo a sério, e mesmo que fosse um encontro, o que é que tem?!

- Sinto que estaria o traindo...

- Você conhecia Bang Chan desde os seus 17 anos, como pode falar algo desse tipo?!

- Não é sobre o que ele pensaria, é sobre o que eu sinto... Ainda está... Muito...

- Recente?! Jiwoo, já faz seis meses, fora que cada pessoa lida com o luto de uma forma.

- Sinto que não lidei corretamente...

- Então imponha limites se aquela vadia gostosa quiser ultrapassá-los - ela me faz rir, como sempre, agindo como uma boa e paciente amiga, mesmo que seja um sacrifício para Jungeun ser paciente. - Você é livre, Jiwoo, pare de se martirizar por algo que só existe na sua cabeça.

Sinto vontade de chorar, mas isso estragaria a minha maquiagem, então afirmo e aperto as duas mãos de Jungeun.

- Agora vai se vestir bem rapidinho e vai mostrar para aquela riquinha o quão gostosa e foda você é!