Cap 4: Indiferente

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Mew empurrou o copo de cerveja para o lado e girou o seu banco em direção ao saguão. Podia apostar que Gulf estava ali com Mild e que só estiveram esperando que ele chegasse. Explorou as mesas em busca de Gulf e do irmão bisbilhoteiro, mas não encontrou.

   Observou os casais que estavam na pista na hipótese de Mild ter arrastado Champ para dançar, mas também não achou ninguém. Olhou na direção oposta a sua para verificar a porta de saída e depois voltou a fitar a pista de dança. Estava prestes a pensar que imaginará a risada de Gulf, quando o localizou. Imaginou como pudera não pelo visto na primeira tentativa.

    O terno colorido que usava era incrivelmente sensual, mesmo sem deixar o corpo à mostra. O modo como ele se movia dava a impressão de ser dono daquele lugar. Deveria agradecer a Mild por aquela oportunidade, pelo menos enquanto estava sob o efeito do álcool, parecia ali uma possibilidade. Nunca namorará Gulf, mas não lhe era indiferente. Mai Kao Beach tinha muitos homens atraentes, mas nenhum tão exótico ou com tamanho potencial para tirá-lo do sério quanto o senhor Gulf kanawut.

    Deteve-se pensando o que faria. Deveria esperar que ele viesse até si? Naquele momento, um homem de cabelos grisalhos para perto dele e Gulf sorriu para ele. O sorriso de Mew esvaiu-se lentamente até fornecer os lábios. Sentindo-se como uma criança, cujo presente de Natal lhe fora arrancado das mãos, sentou-se e observou o Gulf deslizar pela pista de dança. Seu par aparentava idade suficiente para ser seu pai. Ou avô. Mas, a julgar pela maneira como envolvia a cintura delgada, era evidente que não se tratava de nenhum parente.

  Seria algum encontro de negócios? Observou quando o homem puxou a cadeira para que ele sentasse a uma mesa já ocupada por quatro outros senhores. Teria de descartar o encontro de negócios. Nenhum deles aparentava ser estilista ou cabeleireiro. Mas pareciam deslumbrados com sua presença.

   Curioso inclinou-se para tentar ouvir o que diziam. Mas sua tentativa foi frustrada pela distância em que se encontravam. Não conseguia captar nada, a não ser a risada cativante de Gulf. Nunca fora capaz de fazê-lo rir, a não ser dele mesmo.

    Virou-se para o balcão do bar e terminou sua bebida. A atitude mais sensata seria pagar a conta e dar à noite por encerrada, ignorando Gulf. O que nunca fora capaz de fazer.

   Não depois que retornou a mais Mai Kao Beach casado com Fiat, o rei dos vadios. E muito menos depois que se divorciara.

   Gulf era 8 anos mais novo que ele, tinha a mesma idade de seu irmão caçula. Mas, ao contrário de Mild, nunca fora infantil. Possuía uma alma amadurecida, como se já conhecesse a vida. Sempre teve raciocínio rápido e uma tendência a arrumar confusão.

   No tempo em que cursava o colegial, Mew fazia parte do que chamavam de força policial de Mai Kao Beach, composta por apenas seis homens. Não demorou muito para descobrir que onde houvesse uma agitação na praia, com menores consumindo bebidas alcoólicas e casais aproveitando as vantagens da privacidade das Dunas, lá estaria Gulf. O mais curioso era o fato de nunca ter o flagrado bebendo ou com nenhum homem, embora sempre estivesse envolvido.

   Voltou-se para fitá-lo outra vez. Aquela noite não era exceção. Gulf Kanawut era o centro das atenções e parecia estar gostando daquilo. Exibia um sorriso radiante e os seus olhos brilhavam maliciosos. Os admiradores riam por qualquer coisa que ele dissesse.

   Enquanto o observava, tentou definir a origem da ansiedade que se apossava dele. Estaria sendo impulsivo? Negativo. Bons policiais nunca agiam por impulso. Ao contrário, eram movidos pelo bom senso e equilíbrio. Mas naquele momento não era o policial responsável, disse a si mesmo. Poderia ser o conterrâneo Mew, distante dos olhares especulativos de Mai Kao Beach.

   O sorriso de Gulf o capturava como o feitiço de uma sereia sobre um homem do mar. Dançar e conversar um pouco com ele por certo o libertaria daquela obsessão. No dia seguinte, atribuiria a cerveja e ao cansaço o fato de ter feito o que há muito tinha vontade, mas não tinha coragem de pôr em prática. Deixaria o arrependimento de ter se rendido aquele desejo ardente para o dia seguinte. Observou os homens que o acompanhavam erguerem as taças num brinde. Aquilo o exasperou. Pensar que estava totalmente indiferente a sua presença, enquanto todos os seus pensamentos giravam em torno dele!

  Mew pediu a conta e trocou algumas palavras com a balconista que se esforçava em saber se estaria de volta na noite seguinte. Pelo menos alguém naquele lugar o achará interessante. Seguiu na direção dele. Naquele momento a banda recomeçou a tocar.

   — Visitando a Metrópole?

    Diante da Inesperada voz masculina, Gulf, que estava levando o copo de Martini seco a boca, derrubou o líquido transparente sobre a toalha da mesa.

    Com a mão trêmula, pousou o copo e disfarçou a surpresa com uma expressão indiferente. Virou-se na cadeira de couro, embora não precisasse fazê-lo, para saber quem estava parado ao seu lado esquerdo. Fazia muitos anos que conhecia aquele homem, E durante metade de todo esse tempo o tinha fantasiado sem roupas, embora só tivesse conseguido desfrutar de sua companhia em uma ou duas ocasiões.

  O choque de revê-lo de maneira tão inesperada fez seu coração disparar.

  — Olá, Mew. Parece... —" lindo como sempre", pensou.— ...Bem disposto — continuou em voz alta. — O que está fazendo aqui?

  — Vamos dançar e explicarei.

   Gulf imaginou se aquele tom de voz não seria o mesmo que usava para dar voz de prisão a um bandido. Curvou os lábios num doce sorriso.

  — Não deixa de ser um convite tentador.

  — Então venha... Por favor. — A expressão no rosto dele era mais intimidadora do que cordial.

— Bem, já que está sendo tão gentil... — Com os olhos fixos dele, Gulf levou os dedos aos lábios e lambeu um de cada vez, sorvendo o martini que entornará sobre eles. Os frios olhos de Mew escureceram. Não por desejo, estava certo, mas com a óbvia raiva costumeira. Gulf sorrio, inclinando a cabeça para seus companheiros de mesa.

  — Cavalheiros, se não se importam...

Um garoto rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora