Cap 31: Eu te amo

85 27 5
                                    

— Há uma enorme diferença entre ser covarde e ter bom senso.

  — Uma porta mais forte é ter bom senso. 0 resto é..

  Uma parte de Mew estava feliz por vê-lo disposto a argumentar, mas a outra estava lutando desesperadamente para não perder a paciência.

  — Se continuar discutindo comigo, levo-o até a delegacia e o manterei em prisão preventiva.

Gulf franziu o cenho.

  — Muito sentimental, mas tecnicamente não estou certo se pode
fazer isso.

  Mew olhou para o teto como se pedisse orientação aos céus. Quando tornou a encará-lo, notou que ele estava com aquele semblante prepotente que por vezes adotava.

Transtornado, deixou escapar a primeira coisa que lhe veio à mente:

  — Eu te amo, mas você está me enlouquecendo.

  Gulf não tinha muito o que argumentar depois disso. Na verdade ficara literalmente sem palavras.

Fiat havia desaparecido. Gulf não sabia se sentia alívio ou preocupação pela possibilidade de estar escondido arquitetando algum plano para virar sua vida de cabeça para baixo.

  O mandado de proteção pessoal expedido por Mew não o fazia sentir-se mais seguro, visto que seu ex-marido não demonstrava muito respeito pela lei.

  Na semana seguinte ao acontecido, dedicou-se a refazer seu planejamento da melhor forma possível, baseada nos compromissos de rotina e na agenda de Thanya, mas ainda assim restaram muitas
lacunas.

  A única compensação era o fato de ter um computador novo. Com a conexão da internet restabelecida, preenchia os horários em que não estava certa se havia marcado algum cliente com visitas
aos sites de compras de sapatos.

  Mew buscava-o diariamente e passavam todas as noites na fazenda. Mas desde aquele dia nunca mais repetira que o amava.

  Enquanto esperava, esforçava-se para fazer o papel de homem que pode se relacionar com um chefe de políicia sem levá-lo à loucura. Comprou sapatos elegantes e sofisticados. Um tanto enfado-
nhos para seu gosto, mas iriam ajudar a compor a nova imagem que estava construindo. Havia removido o azul dos
cabelos também, embora Mew lhe dissesse que sentira falta.

  Naquela noite, esforçando-se para levantar seu astral, Mild veio até o salão ajudá-lo a pintar duas mesas com detalhes de floresta na Sala Eden. Uma delas já estava pintada quando acabou
a tinta laranja.

  Enquanto o amigo voltou ao seu estúdio para buscar outra lata, Gulf distraiu-se pintando nomes sob as figuras dos animais da floresta. Mew era leão, Mild um antilope e Fiat a cobra, claro.

  Naquele momento ouviu o repique dos sinos na porta da frente.

  — Nossa, como foi rápido! — murmurou. Mas passados alguns minutos Mild não apareceu.

  — Não é justo ficar descansando sem mim - gritou sem ouvir resposta. Pousou o pincel que estava usando e limpou as mãos na calça jeans já manchada de tinta. Dirigiu-se à sala principal e estacou no corredor ao avistar Fiat diante de um espelho com um de seus pares de tesouras na mão.

  — O que está fazendo aqui? — perguntou, tentando manter o tom de voz natural.

  Ele deu de ombros.

  — Verificando algumas coisas — respondeu, pousando a tesoura.

  —:É melhor ir embora.

  Ao invés disso, Fiat sentou-se pousando os pés sobre o balcão em frente. Gulf observou seu rosto através do espelho. O charme costumeiro havia desaparecido e o olhar estava gélido.

  — Me fez fazer papel de palhaço na frente de todo mundo na semana passada.

  — Você mesmo o fez — rebateu, arrependendo-se em seguida. Mais uma vez tentou o tom conciliatório: —
Fiat, não vejo motivo para ficarmos discutindo isto.

  — Você o ama?

Gulf não pretendia fingir.

  — Sim.

   Ele se levantou e varreu com o braço o balcão fazendo voar potes e vasilhas. Seus passos oscilavam sem chegar a cambalear.

  Gulf percebeu que Fiat estava fora de si. Olhou para o telefone e ele seguiu o movimento. Com apenas três passadas, alcançou o aparelho e arrancou o fio da parede.

  — Está pensando que facilitarei as coisas para você depois de me desmoralizar na frente da nata da sociedade de Mai Kao Beach?

  Gulf estava realmente assustado

  — Estou cansado de esperar. Você devia precisar de mim. Implorar que eu voltasse — gritou irritado.

  Em de seguida, chutou o carrinho de manicure espalhando os vidros de esmalte pelo da chão.

  Como podia ter pensado que amara aquele homem um dia? Durante todo aquele tempo, atentado por atentado, vinha tentando destruir tudo o que ele havia construído na vida. Sem pensar nas
consequências atirou-se em suas costas. Os dois caíram no chão, lançando uma das cadeiras da recepção contra a porta da frente.

    Ignorando a dor que sentia no joelho esquerdo, Gulf respirou com dificuldade.

  — Como pôde arruinar a minha vida deste jeito? — berrou descontrolado.

  Fiat conseguira se levantar e chutou violentamente o porta-revistas, fazendo-o voar, passando por Gulf e indo parar na cadeira. Levantou-o, puxando-o pela camisa.

  — Você me abandonou.

  Gulf jogava o corpo para trás, tentando afastar-se.

  — Você estava dormindo com outro homem! — Fechou as mãos sobre as dele. — Me solta.

  — Não até que escute tudo que tenho a dizer.

  Gulf mordeu-lhe o braço com força.

   Fiat o jogou de volta ao chão. Gulf arrastou-se em direção à porta vislumbrando uma rápida escapulida e imaginando onde Mild poderia estar. Mas antes que alcançasse o seu intento, ele o
pegou pela cintura, arrastando-o até o espelho.

  — Olhe para a gente. Formamos um casal perfeito. Perfeito!

  Gulf observou a imagem que formavam. Ele estava apavorado e furioso. Fiat era um completo estranho. Nem sombra do homem alegre com quem havia se casado. Parecia possuído por algo que
não conseguia entender.

  Tratou de reavivar-lhe a memória lentamente:

  — Você me traiu. Nós nos divorciamos Nunca mais voltaremos a ficar juntos.

  Fiat afundou os dedos em seus ombros com tanta força que Gulf teve que lutar para não gritar de dor.

Um garoto rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora