Cap 5: Interrogatório

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Depois do consentimento de todos, Gulf ergueu-se. Não se considerava abaixo, porém, Mew parecia agigantar-se acima dele. Passou rente a ele, mantendo em seguida uma distância segura.

  — Pronto? — Perguntou o Mew.

  Gulf assentiu com um gesto afirmativo de cabeça. Porque aquele homem sempre parecia irritado quando se dirigia a ele? Não se lembrava de ter feito nada de mal contra Mew. A não ser rir dele quando Mew ainda era um recruta e ele um adolescente rebelde. Talvez o rancor houvesse se originado daqueles meses de verão em que para quebrar a monotonia dos longos dias em Mai Kao Beach, Gulf se mascarava de monstro, pintava os cabelos de vermelho e colocava um batom preto para correr atrás dele fingindo ser sua sombra. Mas havia se passado muito tempo desde então. O suficiente para fazê-lo esquecer essas brincadeiras. Fitou-o observando a expressão impassível do belo rosto másculo.

   Quando alcançaram a pista de dança, Mew puxou-o para si com destreza, envolvendo-o possessivamente nos braços. Por alguma razão, os pés de Gulf pareciam não lhe obedecer. Sendo assim pisou no pé dele assim que começaram a se movimentar. Desculpou-se constrangido, tentando prestar mais atenção a música e menos a atração que aquele homem exercia sobre ele. Mas ao invés disso, sua mente vagou, lembrando-se de uma camiseta que, certa vez, vira em uma loja de Mai Kao Beach. Nela estava escrito: " Um martini, dois martinis, três martinis... Chão". Na ocasião, achará engraçado, mas como nunca havia provado a bebida, não podia imaginar o quanto a mensagem era verdadeira. Naquele momento, porém, depois de dois drinques e meio, compreenderá literalmente o significado dos dizeres estampados.

   Nunca estivera tão próximo de Mew. Até mesmo no casamento de Mild, do qual fora padrinho e ele também, dera um jeito de correr para o banheiro quando o chamaram para dançar a valsa. O amigo ficou furioso e chamou-o de covarde. Preferia pensar que fora por puro instinto de sobrevivência.

  Até então tinha agido de maneira certa e se possuísse um mínimo de bom senso, sairia correndo dali naquele instante. Mew o fazia ainda mais ciente da carência que sentia. Uma carência que nem todo o martini do mundo seria capaz de abrandar. Sentia o tecido macio e de boa qualidade do Blazer azul marinho de Mew sobre o toque de suas mãos. A roupa caia-lhe com perfeição, embora o tornasse um tanto parecido com a burguesia de Mai Kao Beach para o seu gosto. Sentiu o cheiro de cigarro que emanava dele. Tal Pai, tal filho, supôs.

   Tal semelhança com o pai era um dos motivos pelos quais Mew tanto o assustava. Não era mais o adolescente rebelde que vivia se metendo em confusão, mas ainda cultivava a aversão pela autoridade policial. E isso incluía os policiais altos e musculosos que poderiam conquistar o coração de qualquer homem ou mulher. Inclusive o dele.

  Mew clareou a garganta.

  — Você tem uma voz incrível.

  — Obrigado.

  — Muito sexy.

   Gulf sorrio.

— Já me disseram isso.

   Após alguns instantes Mew voltou a falar.

  — Então... conhece esses cavalheiros com quem está sentado?

  Gulf deu de ombros. O simples movimento fez com que roçasse de leve na parede rígida do tórax largo, fazendo-o prender a respiração e recuar alguns milímetros. Como alguém tão indiferente a ele podia causar-lhe tal reação?

  — Conheci-os há pouco — respondeu em tom casual. — Fizeram faculdade de farmácia juntos nos anos 60 e uma vez por ano se encontram em Bangkok. — Mew puxou-o mas para perto. Gulf sabia que podia afastar-se a qualquer momento, mas faltava-lhe forças para fazê-lo.

  Fechou os olhos, enquanto se permitia pensar sobre Mew. Seu desejo aumentava a medida que imaginava sentir as mãos fortes e másculas deslizando por sua pele macia e suada até lhe apertar as nádegas com força, ao mesmo tempo em que o erguia no colo e...

   "Pare com esses pensamentos perigosos", advertiu a si mesmo.

  — São farmacêuticos? — Inquiriu Mew, interrompendo os lassivos devaneios de sua mente.

  Gulf ficou várias vezes, tentando recordar o tema da conversa e respondeu-lhe imediatamente antes que parecesse um idiota:

   — Sim, são. Porque? Algum problema? Acha que vão colocar alguma coisa na minha bebida e me raptar?

— Duvido muito — retrucou, num tom que o fez pensar que aquilo era realmente o que desejava que lhe acontecesse.

   Gulf só queria sair dali ou, talvez, desintegrar-se. Os pensamentos ousados continuavam a povoar-lhe a mente.

  Começou a enumerar as razões pela quais Mew não seria apropriado para uma noite de sexo casual.

  Era um policial. Aquela era a razão principal, pois não queria fazer sexo com um deles.

   Era irmão de seu melhor amigo.

   Era... dono da mão que deslizava por suas costas até ficar a milímetros de suas nádegas.

   A pressão dos dedos longos aumentou e Gulf fitou-o diretamente nos olhos. A expressão de Mew era calma, quase impassível. Gulf franziu o cenho com o rosto colado ao pescoço largo e continuaram dançando em silêncio.

  Gulf nunca estivera tão consciente de cada centímetro do seu corpo. O modo como o tecido do Terno roçava-lhe a pele, o calor do corpo masculino pressionado contra o dele. E o fogo queimando no lugar onde poucos minutos antes só havia o vazio. Lutou de modo desesperado para não deixar escapar uma proposta indecorosa, da qual mais tarde se arrependeria. Céus! O modo como aquele homem se movia...

  — Está sozinho na cidade?

  O som da voz máscula vibrava em seus ouvidos. Estava tão tentado... A dizer-lhe como se sentia cansado de estar sozinho.

   Não que Mew se importasse ou mesmo compreendesse. Parecia que todos os homens de Mai Kao Beach aos seus pés. Pelo menos já havia namorado uma boa parte deles. Exceto ele.

   — Sim.

  — Tinha planos de encontrar algum conhecido?

   Gulf inclinou a cabeça até seu olhar encontrar o dele. A expressão de Mew permanecia indiferente.

  — Isso é um interrogatório?

   Foi a vez de Mew dar de ombros.

  — É apenas curiosidade pelo motivo que o trouxe até aqui.

   Curiosidade era o que sentia naquele momento. Qual seria a sensação daquela boca cobrindo a sua? Como Mew reagiria Se o convidasse para uma noite de sexo selvagem em seu quarto?

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