Cap 10: Fiat

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Na manhã de domingo o Mew estava se sentindo como um hóspede em sua própria casa. O acidente não tivera maiores consequências. Apenas a quebra do volante, o que tornou impossível dirigir o Land Rover. Sendo assim, deixara-o numa oficina e seu irmão Thorn fora buscá-lo.

    Fora os ferimentos causados por Gulf, sentia-se muito bem. Com uma xícara de café na mão, parou no meio do pátio da fazenda e teve-se algum tempo decidindo por qual dos carros disponíveis optaria. Sem muita escolha, pois os demais estavam em mal estado de conservação, decidiu pelo Dodge cinza modelo 84. Para sua sorte o motor pegou na primeira tentativa.

    Quando estava abrindo o portão de saída, ouviu um assovio alto vindo da varanda. Sabia que se tratava de Thorn, portanto não se incomodou em responder. Por certo o chamava para tratar de algum assunto de trabalho, já que também fazia parte da força policial de Mai Kao Beach.

  — Ei! Está surdo? — Gritou o irmão.

   Meio a contra gosto, Mew voltou-se para atendê-lo.

   — O que você quer?

  — A esposa de Max vai dar a luz.

  — E daí?

  — Ele disse que você está escalado para substituí-lo.

   Mew estremeceu ao ouvir aquelas palavras.

    Thorn alcançou-o.

  — Ele disse que a bolsa de Lita estourou. Fim de linha... O dever o chama.

   De fato ganhará aquela obrigação num jogo de cara ou coroa com os membros do Departamento de Polícia. Poderia arranjar uma desculpa, mas isso não fazia parte de seu caráter. Deixaria o Chalé para outra ocasião. Estacionou o carro no lugar de onde havia tirado e trancou a porta. Teve vontade de se fechar lá dentro e fugir do mundo.

  A voz de Thorn interrompeu seus pensamentos:

  — Tem sorte por que hoje estou generoso. Vou lhe dar uma carona até a cidade.

   Mew sorriu e sacudiu a cabeça, dispensando o mau humor. Era uma sorte amar tanto Irmão quanto o seu trabalho.

    Amanhã de domingo nasceu ensolarada e Gulf estava bem de perto para testemunha-la. Durante as poucas horas em que conseguirá pegar no sono, tivera pesadelos terríveis.

   Enquanto tomava o café da manhã considerou a possibilidade de ligar para o senhor Park Bogum e pedir que adiasse sua mudança para Mai Kao Beach. Mas depois concluiu que não adiantaria protelar o inevitável. Alguns meses a mais não mudariam o fato de que teria de começar de novo. Mais uma vez.

   Às 7 horas da manhã já havia feito 10 dos 100 exercícios abdominais diários que nunca conseguia completar, tomado um iogurte dietético e vestido sua roupa surrada. Portanto estava mais do que preparado para trabalhar no kanawut Secrets.

    Poderia liberar sua agressividade na parede que tinha de derrubar para compor o local que se chamaria cantinho de Athenas. Uma sala de massagem terapêutica. Como de costume, caminhou os cinco quarteirões que separavam sua casa do salão.

    Com as mãos enfiadas nos bolsos do agasalho e a cabeça baixa para evitar o vento, Gulf tentava enumerar as coisas boas de sua vida.

   "Um: Tenho um amigo que faria tudo por mim. Dois: Tenho saúde. Três: Tenho o meu trabalho", pensou.

   Gulf sorriu de satisfação. Sabia que ser apaixonado por sua profissão não preenchia o vazio dentro dele, mas era muito gratificante.

    Tinha dado uma guinada em sua vida e triunfará. Não importava o que acontecesse. Sempre poderia olhar para o kanawut Secrets e se orgulhar de quão longe chegará, mesmo sendo considerado a ovelha negra de Mai Kao Beach.

Um garoto rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora