Cap 12: Aprendiz de canalha

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Às 8:30 da manhã de terça-feira, Gulf estava sentado em frente à mesa de Mwtawin, o advogado que cuidava da parte jurídica do salão de beleza e que havia homologado seu divórcio.

  Tomou um gole de café que lhe fora servido e, nervoso, observou Metawin ler a notificação que o senhor Park Bogum lhe enviará.

  — Me explique isso direito — solicitou quando ele concluiu a leitura. — Ele tem esse direito?

  — Você parece uma criança quando se trata de lei, sabia?

— É tão ruim assim?

  O advogado se recostou na cadeira.

— Não existe um contrato de aluguel. Do contrário, teríamos subsídios para lutar contra ele. Mas como consta aqui, você paga seu aluguel todo mês. Portanto, tudo que o senhor Park Bogum lhe deve é um mês de aviso prévio para o despejo.

  Poderia ser pior, pensou Gulf me meneando de leve a cabeça. Levantou-se, cumprimentando Metawin.

  — Mais uma vez, muito obrigado.

  Quando chegou a calçada, descobriu que estava certo quanto ao seu pensamento. Fiat acabará de virar a esquina. Pensou em caminhar na direção oposta, mesmo sendo o caminho mais longo para o salão, mas decidiu que não daria esse gosto ao ex-marido.

   — Nada é capaz de detê-lo. Nem a chuva, nem a neve ou mesmo a escuridão da noite — Gulf o desafiou.

— O que quer dizer com isso? Estamos em plena luz do dia — respondeu ironico, fitando o céu.

   Colocou a mão sobre o braço de Gulf, que prontamente se desvencilhou.

   Analisou-o por alguns instantes. Fiat era um homem belo a sua maneira. Com cabelos de um tom escuro e dentes tão alvos e bem tratados que chegavam a brilhar.

  — O que você quer?

— Porque está perguntando isso? Um homem não pode se preocupar com o ex-marido?

   Talvez qualquer outro homem, exceto ele.

  — E por que isso agora? 

— Gulf não gosto de vê-lo tão amargurado. O que veio fazer no escritório de Metawin? Tem a ver o que aconteceu no salão?

  — Como ficou sabendo do ocorrido?

  Notou o modo como Fiat piscou, desviando o olhar em seguida.

— Por aí. É só parar para tomar um café. Parece que todos os moradores da cidade foram bisbilhotar enquanto retirava o lixo e limpava o local.  — Gulf não estranhava não ter notado. Havia ignorado todos eles, inclusive o telefone. — Então, o que veio fazer aqui? — Insistiu Fiat. — Posso ajudá-lo em alguma coisa? Eu avisei que seria difícil tomar conta do salão sozinho.

   De fato, o ex-marido o alertará quando pleiteou sociedade no estabelecimento, com a condição de não colocar um centavo no negócio. Achava uma proposta justa, pois alegava que o tinha ajudado no início do empreendimento.

— Quer me ajudar? Como fez quando me traiu? Ou talvez quando acabou com as minhas economias em Bangkok nos obrigando a retornar a Mai Kao Beach? Já me ajudou bastante, obrigado.

  Fiat permaneceu impassível, exibindo o mesmo sorriso. Era como se ignorasse o que Gulf acabará de dizer.

— Vamos, deixe-me pagar-lhe um café da manhã. Ovos mexidos com bacon. Seu favorito. Estou pensando em entrar em um novo ramo eu gostaria que me desse sua opinião sobre o assunto. Acho que será muito bom para nós.

   Dizendo isso, levou a mão ao rosto de Gulf, que já sabia qual seria seu próximo gesto. Colocaria um dedo na ponta do seu nariz como sempre fazia. Outra hora, Gulf havia achado aquele gesto encantador. Mas isso fora há muito tempo atrás. Fechou a mão em torno do pulso do ex-marido com força que ignorava possuir.

— Será que você não entendeu? Não existe nem um nós. Estamos divorciados. Seja qual for esse seu novo negócio, não estou interessado. O meu dia já está bastante difícil. Portanto, se tem amor a sua vida, é melhor tomar o seu caminho — gritou, soltando-lhe o punho.

   Fiat deu uma batida de leve no alto da cabeça dele.

   Por alguns segundos Gulf considerou a possibilidade de cumprir a ameaça que acabará de fazer. Fiat pareceu reconhecer o perigo que corria. Consultou o relógio.

— É melhor eu me apressar.

   Assim que ele tomou a direção oposta, Gulf rumou para o salão.

  — Poderia ser pior — murmurou. Desta vez estava certo do que dizia. Afinal, poderia estar casado com ele ainda.

    A medida que se aproximava do salão, sua disposição aumentava. Toda terça-feira, seu primeiro dia do trabalho na semana, significava o início de algo novo e gratificante.

    Assim que chegou a porta dos fundos encontrou o Becky, a maquiadora, parada ao lado de fora com os braços cruzados, tentando proteger-se do frio.

— Porque se atrasou tanto? Se demorasse mais um pouco me encontraria congelada.

— Desculpe-me. Estou tendo uma semana difícil — disse Gulf, procurando as chaves no bolso da jaqueta.

  — O divertimento em Bangkok foi estenuante? — Brincou a colega.

  Engraçado como a palavra Bangkok passará a significar Mew" ao invés de uma cidade. Abaixou a cabeça e fechou os olhos por alguns segundos, enquanto tentava apagar da memória a sensação deliciosa de tê-lo dentro dele. Suas mãos tremeram de leve ao colocar a chave na fechadura.

  — A viagem foi ótima. — Sim, magnífica e terrível ao mesmo tempo, pensou. E não poderia ser repetida. Não se sentia preparado para alguém tão intenso quanto o MewSuppasit. Resolveu abordar um assunto que poderia comentar com a colega de trabalho.

  Becky ficou chocada com os fatos relatados, mas não se mostrou surpresa com a suspeita de Gulf.

— Faz sentido — concordou, brincando com cacho da cabelos. — Para um homem patético como ele... — Calou-se constrangida. — Não estou te julgando patético por ter se casado com Fiat.

  Gulf sorriu diante do arrependimento da maquiadora.

  — Não me ofendi. Ele era apenas um aprendiz de canalha quando o conheci. — Ou talvez ele que fosse muito infantil para ter percebido, pensou.

Um garoto rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora