Cap 05 - Noite de balada.

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Pov: Maraisa

— O que pensa que está fazendo, sua louca? — senti a mão de Maiara me segurar assim que entrei no quarto.

— O que foi? — perguntei me soltando da sua mão.

— Você sabe bem o que foi. Se Lauana visse, colocaria Marília na rua no mesmo instante.

Bufei irritada.

— Fui eu quem dei um beijo nela, se você estava espionando deveria ter feito isso melhor.

— Maraisa, venha aqui. — ela me seguia enquanto eu ia pro banheiro. Não estava a fim de iniciar uma discussão com Maiara.

— Maiara, para! — pedi. — Foi apenas um beijo no rosto. Há tempos eu não me senti tão relaxada assim e olha que eu estou cansada pra caralho.

Eu sei que minha amiga não fazia por mal e que no fundo sua única preocupação era cuidar de mim.

— Metade, eu não me importo com nada disso, mas você sabe como Lauana pega no meu pé. Você está afim da Marília?

Franzi as sobrancelhas. E se eu estivesse?

— Ela é bonita — dei de ombros pegando minha escova de dentes.

— Sabe que não foi isso que eu perguntei. — Maiara cruzou os braços e me encarou séria.

— Maiara, eu vou dormir está bem? — cortei o assunto quando comecei a escovar os dentes. — Vá também, você deve estar exausta.

A ruiva nada me respondeu, apenas saiu do meu quarto batendo a porta.

Acho que realmente me deixei levar pela emoção. Se Lauana me visse numa intimidade tão grande com Marília, a coitada infelizmente não duraria uma semana na minha equipe. Eu não poderia fazer isso com a mesma, afinal eu via em seus olhos o quanto ela precisava desse trabalho. Fora que ela deve ter me achado uma assediadora depois daquele beijo e na real eu nem sei o que me levou a fazer aquilo.

∙∙∙

Estava correndo na esteira da academia de minha cobertura, ao som de Take On Me observando Marília que estava parada na porta cumprindo seu trabalho. Ela parecia pensativa e agora estou me perguntando se foi pelo o que aconteceu ontem. O pouco que a mesma falou sobre ela não me deixou saber se tinha um relacionamento com alguém e agora só consigo relembrar o que eu ouvi enquanto voltava para o camarim. Uma Marília completamente carinhosa falando amorosamente com alguém do outro lado da linha. Ela parecia ter pedido um pouco mais de sua cor quando me viu. Talvez fosse apenas sua irmã, afinal... Mas não sei, a forma era carinhosa demais para isso.

A música foi interrompida pelo toque do meu celular. Desacelerei a esteira e atendi a ligação de um número que não estava salvo em minha agenda.

— Alô? — atendi desconfiada. Quase ninguém tinha meu número pessoal.

Sua pequena piranha, por que não me disse que estava na Califórnia? — Gabriela Martins, a menina que conheci na festa do pt.

— Bom dia para você também, Gabi. — brinquei. — Como você está?

Entediada. E você? Está bem depois daquela noite

Aquela noite...

— Sim, agora estou bem melhor. — a informei um tanto ofegante por conta da caminhada. — E o que devo a honra de sua ligação?

Te liguei para irmos a uma festa e definitivamente não aceito não como resposta.

Gabi era jovem socialite herdeira única de uma famosa marca de maquiagens. Onde a mulher pisava crescia dinheiro. Ela também era muito influente, e igualmente polemica pois vivia metida em alguns escândalos como prisão por porte de maconha em estados que era considerado ilegal, por exemplo. Mas era uma boa pessoa. Eu só a conhecia por sites de fofocas, até que nos esbarramos na boate àquela noite.

— Impossível, Gabi. — me lamentei já esperando uma chuva de palavrões. — Eu tenho um pocket show beneficente às cinco horas.

Eu não estou te chamando para o chá da tarde na casa da minha avó, Pereira. — ri com sua provocação. Será que Gabi e Maiara não eram irmãs separadas? — É uma festa privada na Teracious. Vai começar por volta da meia noite, dá tempo o suficiente de você ir.

Festa é uma coisa que eu nunca rejeito, mas ter Lauana no meu pé o tempo todo falando como isso destruía minha imagem pela maioria do meu público ser adolescente já me fazia querer desistir. Mordi os lábios pronta para aceitar a proposta quando me lembrei do pequeno detalhe.

— Vai ficar meio difícil. A gestão da gravadora resolveu contratar uma segurança particular pra mim. — falar isso em voz alta tornava a situação ridícula.

Pude ouvir Gabi rosnar do outro lado da linha.

Maraisa, quantos anos você tem mesmo? Não sei como você aceitou isso.

Não havia nada que eu podia fazer.

— É complicado, Gabi. — tomei um pouco d'água. — Não quero que Lauana contrate mais uma.

Essa porra de Lauana não tem ninguém pra trepar? Que inferno. — eu também me fazia a mesma pergunta todos os dias. — Você promete tentar fazer um esforço, pelo menos? A festa vai ser privada, então vai ser tranquilo.

— Prometo, Gabi! — sorri. Eu queria ir, afinal. Era o último show da semana, então nada melhor do que fechar com uma comemoração.

Desliguei a esteira me secando com a toalha que estava em meu pescoço. Por mais que eu odiasse fazer esses exercícios contra minha vontade, reconhecia que me dava mais disposição para encarar a agenda e mais resistência para cantar. Não era nem meio dia ainda e tudo o que eu queria era uma fatia de pizza com bastante queijo.

— Eu terminei aqui. — informei a Marília que não sabia onde por os olhos. — Podemos subir?

A loira apenas afirmou com a cabeça. Ela estava linda aquela manhã, com seu cabelo preso e uma blusa social preta. Preto definitivamente era sua cor.

Seguimos em silêncio para o elevador. A mulher esperou para que eu entrasse e se enfiou em seguida.

— Você parece cansada. Está com fome? — ela me observava enquanto eu me olhava no espelho. Eu usava uma calça legging preta um top branco da puma e meus cabelos estavam meio desgrenhados.

— Muito. Eu estava pensando ainda agora o quanto queria uma pizza. — confessei lhe tirando um sorriso.

— E por que não come?

— Não posso. — suspirei triste. — Aposto que já tem uma salada com frango grelhado ao molho cítrico me esperando lá em cima.

— Ser famosa tem um lado ruim, então.

— Você nem imagina o quanto, Marília.

∙∙∙

Tive tempo de almoçar com calma e descansar. Quando dei por mim, já estava em cima dos palcos fazendo o que sabia fazer de melhor: cantar. Eu amava a energia do público, que embora a cada show fosse diferente, não deixava de ser única. De cima dos palcos eu podia ver cada rostinho exalando felicidade e emoção. Tudo o que eu preciso para seguir em frente. Eles estavam aqui por mim e eu estava aqui por eles.

O tempo inteiro.

Quando o show infelizmente teve que acabar, eu me despedi dos meus pequenos rumo ao camarim. Estava morrendo de fome e por mais que a salada de mais cedo estivesse ótima, aquilo definitivamente não me sustentou por um dia inteiro.

— Você foi ótima, Metade. — Maiara resolveu se pronunciar, pois desde o acontecimento da noite passada minha ruiva estava me evitando.

— Saia da frente, eu estou com fome. — fui em direção a mesa de donuts recheados com os olhos brilhando.

— Você sabe que não pode e nem vai me ignorar para sempre, não é? — eu sabia mas estava orgulhosa demais para isso.

— Vai se foder, Maiara. — falei enquanto mastigava os donuts.

— Falando de boca cheia, Pereira? — ah pronto. Lauana entrou no camarim com sua inseparável mala. Uma mala carregando outra.

— Vai se foder também, Lauana. — resmunguei e a morena tirou a rosquinha açucarada da minha mão.

Comer era a única coisa que eu achei que ainda teria liberdade, mas desde meu último álbum aquilo era milimetricamente proibido. Chocolate apenas amargos, pois segundo Lauana e a maldita nutricionista da gravadora, o ao leite que era meu preferido tinha um grande teor de gorduras ruins. Imaginem minha cara de felicidade sentindo o gosto amargo de cacau, e fingindo estar amando. Meus fãs sempre me traziam doces quando possíveis, mas eu nem chegava a sentir o cheiro. Massas? Apenas uma vez na semana, antes de quatro da tarde e pior, apenas integrais. Refrigerantes? Há tempo eu não tomo uma boa coca gelada. Salgadinhos, tacos e demais frituras eu nem preciso falar não é?

— Lauana, eu estou com fome. — resmunguei indo atrás dela, pegando o pedaço de volta e dando uma bela mordida.

— Você deveria me agradecer, Pereira. — seus olhos desceram por todo meu corpo. — Se está com fome, coma uma daquelas barras de fibras e proteínas. Você está imensa de gorda.

Parei estática ao ouvir isso, parando até de mastigar. Lauana era uma provocadora nata, mas não sabia que ela podia jogar tão sujo. Eu sentia os olhos de Bruno e Maiara sobre mim. Elas sabiam o quanto eu me sacrificava para manter meu número e ouvir isso foi como se todos os meus esforços tivessem sido em vão

Fui até a lixeira, jogado o donut que graças às palavras da cobra, se transformaram no mais amargo fel em minha boca. Saí batendo a porta do camarim, sem nem ao menos me despedir dos meus amigos

— Isso foi totalmente desnecessário, Lauana. — ouvi Bruno comentar do outro lado da porta.

Procurei o motorista que estava conversando descontraidamente com Marília. Ambos se viraram quando notaram minha presença, visivelmente estranhando os motivos por eu estar ali.

— Me levem pra casa. — ordenei num tom elevado.

O motorista apenas assentiu com a cabeça e foi em direção ao estacionamento. Fui seguindo seus passos, ouvindo o ecoar de minhas próprias botas pisarem com força no porcelanato.

— Eu vou acabar com essa filha da puta um dia. — eu murmurava desconexa em meus próprios pensamentos enquanto entrava no carro.

— Quer me contar o que aconteceu? — escutei a voz preocupada de Marília. Seus olhos me fitavam de forma confusa enquanto eu abria uma latinha de soda light como se fosse a última coisa que faria na vida.

My Protection - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora