Cap 11 - Revelações.

982 102 87
                                    

Pov Marília

— Marília? — a ruiva insistiu na pergunta sem tirar os seus olhos de mim.

Droga.

Olhei para trás me certificando que ela estava sozinha e para minha felicidade o som do silêncio me respondeu tudo. Eu ainda podia ouvir a voz de Yasmim me perguntando se estava tudo bem. Com as mãos trêmulas, levei o aparelho na orelha.

—Yasmim, mais tarde eu te ligo pra você. — não deixei que ela respondesse desligando o telefone.

Eu poderia ter escolhido um local melhor para ligar, só que também não imaginaria que Maiara fosse levantar tão cedo. O que fazer? Mentir? Não, isso seria impossível, vendo que eu acabei de ser pega em flagrante. A vaga dizia abertamente "Mulheres com disponibilidade total de horário e sem filhos." e o meu desespero para encontrar logo um emprego me fez arriscar e dizer uma baita mentira que acabara de ser descoberta.

— Sim, Maiara. — respirei fundo tomando coragem para falar o resto. — Eu tenho uma filha e sinto muito por ter escondido isso.

O que me matava no momento era a falta de réplica da ruiva. Por conhecê-la tão pouco eu não sabia se ela gritaria, correria para falar com a equipe ou pior, me desprezaria por isso. Maiara segurava suas próprias mãos e parecia ansiosa para dizer muitas coisas o que me deixava ainda mais aflita diante da situação complicada.

— Ela é pequena? — seu tom foi neutro. Afirmei com a cabeça e ela fechou os olhos por alguns instantes soltando todo o ar de seus pulmões. — Quantos anos, Marília?

— Q-quatro. — engoli seco. — Marcela tem quatro anos. — abri a galeria do telefone, mostrando a foto do meu bem mais precioso.

Houve um brilho nos olhos de Maiara quando ela viu a foto da minha pequena. Brilho que acendeu um pouco a chama da minha esperança em não ter estragado tudo.

— Ela é uma criança linda, Marília. — elogiou num tom agradável.

— Obrigada. — agradeci sinceramente. — Me desculpa por ter escondido algo tão grande assim, nada do que eu falar vai justificar meus atos. Você precisa contar a Lauana, eu sei... só sinto muito por isso, de verdade.

— Realmente, eu preciso contar. — abaixei a cabeça sentindo um grande nó fechar minha garganta. Eu não acredito que tinha estragado tudo por uma falta de cuidado. — Mas não vou.

Sua mão pousou sobre a minha e de repente ela abriu um sorriso sincero com um toque de sinceridade no rosto. Eu não estava entendendo. Será que ela ia querer alguma coisa em troca de seu silêncio? Ia abrir a boca para falar, mas ela se adiantou.

— Sabe, Marília... eu sou a filha mais velha de três filhos e se vi meu pai cinco vezes em toda minha vida foi muito. Minha mãe foi quem segurou as rédeas, trabalhou dia e noite, às vezes até em dois empregos e fazia turnos extras para que eu e meus irmãos nunca precisássemos largar as escolas. Como eu era a mais velha, tive muita responsabilidade. Com dez anos eu já cozinhava o básico para meus irmãos não morrerem de fome enquanto minha mãe trabalhava para comprar comida. Ela nunca chegava do trabalho sem dar um beijo na gente, mesmo que fosse pelas onze da noite e todo mundo estivesse dormindo. Por compreender sua situação, eu não vou contar nada. Marcela vai ter orgulho de você assim como eu tenho orgulho da minha mãe.

Nem preciso dizer o quanto aquelas palavras me emocionaram, não é? Eu estava um tanto envergonhada também, pois achar que ela fosse fazer algum tipo de chantagem realmente foi o cúmulo. Depois de abrir seu coração de forma tão intensa e verdadeira, chantagem seria a última coisa que a ruiva faria contra mim.

— Obrigada, Maiara. — apertei sua mão com gentileza, a fazendo sorrir. — Obrigada, de verdade.

— Que isso, Marília. — ela negou com a cabeça exibindo um leve sorriso. — Você não tem que agradecer por nada. Imagino o quanto seja difícil para você ficar longe da sua pequena. — realmente. Era mais do que eu achei que podia aguentar.

My Protection - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora