Cap 15 - Megera.

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Pov Maraisa

Não havia conseguido dormir uma noite completa. Embora meu corpo já estivesse relaxado, minha mente ainda era habitada por pensamentos contínuos da madrugada passada. Mesmo confirmando meu álibi e estando liberada, eu ainda responderia por lesão corporal, sem contar na indenização que seria paga ao tal Alexander. Felizmente o processo ainda estava aberto, e quando fosse provado que o mesmo também cometeu um delito grave, pagaria da mesma forma por seus atos. Quem cuidaria de tudo seria o próprio advogado da Issartel Records durante um longo período até confirmarem o que de fato aconteceu. Eu estava livre, fisicamente, mas por dentro me sentia presa e gasta como se tudo fosse apenas o início de um inferno.

Eu teria que lutar. Tinha que lutar.

As frechas de luz começaram a invadir o quarto de Marília, por conta de sua cortina mal fechada. Ela havia apagado após uma breve conversa que tivemos. Estar ao seu lado era confortável pra mim. Confortável de uma maneira que fazia meu coração pulsar rapidamente quando seus olhos castanhos mel se penetravam nos meus e fazia tudo em minha volta parecer uma atmosfera proteção. A forma como ela sempre entrava na minha frente em momentos vulneráveis para mim, como segurava em minha mão quando me cercavam ou até mesmo nas vezes em que me colocou pro canto mais seguro da calçada.

Marília é linda.

Tanto por fora quanto por dentro. Sua presença me faz bem, sua conversa calma sobre tudo que não envolva os palcos e minha carreira me elevam ao ponto de paz que eu preciso. A maneira como aceita minha presença sem nada em troca... Ela é alguém tranquila que transforma todo meu mundo agitado em um mar de rosas brancas.

Me levantei com cuidado, pulado o seu corpo e em seguida o empurrando gentilmente para o meio da cama. Ela não se moveu e continuou dormindo profundamente. Continuava bela até com os cabelos espalhados e cara afundada no travesseiro. Fechei as cortinas, deixando o quarto mais escuro e saí na ponta dos pés para não acordá-la.

Com minha higiene matinal devidamente feita, desci as escadas já sentindo o cheiro de café invadir minhas narinas. Meus pais ficariam até a hora do almoço, por tanto eu queria ter um tempo à vontade com eles. Cheguei à cozinha sentindo o cheiro de panquecas doces e amanteigadas de minha mãe. O café da manhã tradicional e bem presente na maioria de nosso dejejuns. Minha mãe estava em frente ao fogão com Felipa, minha cozinheira.

— Precisa ser em fogo o mais baixo possível se quiser que elas cozinhem por dentro e fiquem bem douradinhas.

— Felipa, não deixe ela te assustar. — beijei o rosto das duas e me sentei no balcão pegando uma banana.

— Carla Maraisa! — minha mãe se virou pra mim com a mão na cintura. — Desça daí.

Franzi as sobrancelhas em protesto. Aquilo era uma ordem?

— Mãe, eu tô na minha casa. — cruzei os braços mas logo o desfiz quando ela veio em minha direção.

— Desça. Daí. — okay, a fala milimetricamente pausada e a espátula de ferro na mão sem dúvidas não seria apenas um aviso.

Prêmios, carreira, discos de ouro e diamante, fãs... na terra de Almira Henrique Pereira nada disso importava. Sua ordem era clara e a mulher gostava de ser obedecida no primeiro aviso. Ser maior de idade e morar longe do seu teto para ela não significa muita coisa. Ela manda, eu obedeço e será assim até o último dia de sua vida.

— Eu já entendi. — Murmurei erguendo as mãos em rendição, indo para a mesa da cozinha onde estavam meu pai e Sofia.

— A mamãe está certa, Irmã. — minha irmã disse enquanto comia o meu cereal de frutas. — Sua bunda estava ocupando a metade da bancada.

A fala da menor causou uma série de risos dentro da cozinha. Garotinha petulante.

— Minha bunda não é tão grande assim! — protestei me virando para verificar. — Bom, eu acho.

— Discordo, filha. — meu pai fechou o jornal e começou a se servir de café. — Quando você precisava levar algumas palmadas, sua mãe e eu tínhamos que revezar para seu bumbum não nos dar uma surra.

Neguei com a cabeça enquanto continuava ouvindo as gargalhadas atrás de mim. Sempre que vinham para cá era isso, risada atrás de risada.

— Eu prefiro nem continuar esse assunto.

Minha mãe e Felipa colocaram à mesa. O que deveria ser um simples café da manhã virou um banquete regado à salada de frutas, sucos frescos, café forte, bolo de baunilha com geleia de frutas vermelhas e um rodízio de panquecas. Sem contar no sagrado bacon do senhor Marcos César. Sentar com meus pais e ter um agradável café da manhã me lembravam das épocas mais tranquilas que sempre viam em minha mente quando a estrada me cansava muito.

My Protection - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora