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9 de Dezembro de 1978
TUDO IA FICAR bem. Foi esse pensamento que acompanhou Olivia Stagg e Finney Blake durante o início da fuga.
A adrenalina sentida pelos amigos podia facilmente ser descrita como uma corrente elétrica percorrendo cada parte de seus corpos.
A cada passo que davam na escada, rumo a saída daquele pesadelo, um choque novo era sentido. Suas barrigas reviravam de ansiedade, suas mãos tremiam de nervosismo e suas respirações oscilavam de medo. Era como se cada parte do corpo estivesse encarregado de cuidar de uma emoção.
Ambos gelaram ao chegar na cozinha, cômodo o qual o Sequestrador estava. Ele dormia pesadamente, as pernas abertas e sem camisa. Bem que Griffin avisou que estava esperando por eles.
Finney Blake estava acostumado a ser silencioso. Seu pai, Terrence Blake, costumava dormir cedo após um longo dia bebendo, então praticamente sempre que estava em casa tinha de ter cuidado para não acordar o mais velho. Havia consequências caso falhasse em ser quieto, então acabara ficando fácil ser delicado. Andar naquele chão que poderia ranger a qualquer momento não era uma tarefa difícil para ele.
Olivia, por outro lado, nunca teve essa preocupação. Sua mãe não gostava que a acordassem, mas a Stagg poderia apenas ficar no quarto quieta, afinal seu quarto tinha porta, o que era suficiente para impedir qualquer barulho escapar.
Quando Griffin queria fazer um lanche de madrugada, a chamava, e isso era a única situação que silêncio era uma questão. Um certo dia, eles foram tomar sorvete e o irmão fez barulho. Olivia, por alguma razão, lembra de ter lhe dito que ser silencioso era questão de vida ou morte.
Olhando para trás, ver que a maior questão de vida ou morte que Olivia passou foi buscar sorvete escondido na cozinha, quase a fez rir, levando em conta a sua atual situação.
Agora, Olivia Stagg realmente tinha que ser quieta, pois agora sim era vida ou morte. De forma literal.
— 23317 — Olivia sussurrou o mais baixo possível para Finney, que já tentava formar as combinações no cadeado.
Olivia aproveitou para dar uma olhada na casa. Parecia tudo normal. Uma casa normal de uma pessoa normal. Quem quer que visitasse esse cara, não poderia imaginar os segredos e gritos que estavam escondidos atrás das paredes.
— 23317
Na terceira tentativa, a porta se abriu.
Assim que o cadeado se destrancou, um cachorro latiu, um latido alto suficiente para acordar o Sequestrador.
— Corre, Finn, corre!
Olivia, a princípio, segurou a mão do amigo para guia-lo, com medo do amigo travar. Quando ganharam velocidade, ela soltou. Ambos gritavam o mais forte que conseguiam, pedidos de socorros desesperados que eram a única chance de salvar suas vidas.
Eles ouviram o carro, provavelmente a van preta do Sequestrador, ter seu motor ligado e se aproximar cada vez mais deles. Estava tão perto.
Olivia não se lembra de ter corrido tão rápido em sua vida. Finney corria ainda mais, gritando tanto que a garganta oscilava.
Não tinham tempo.
Quando a van estacionou ao lado dos garotos, Olivia soube que não tinha escapatória. Ou um fugia, ou nenhum. Não havia duas chances. Ela sabia o que tinha que fazer - aquilo que fez sua vida toda, proteger quem ama.
— Corra, Finn, saia daqui! — Ela gritou para o amigo enquanto diminuía o passo. Por trás, a respiração do homem mascarado já dava para ser ouvida pela proximidade.
Olivia teve certeza que o mundo parou quando o Sequestrador puxou seu cabelo louro, e o agarrou como crina de cavalo. Uma das pernas dele a chutou na região de trás do joelho, a derrubando no gramado de imediato.
Olivia não sentiu medo quando as mãos do homem a envolveram bruscamente, tampouco quando uma faca foi posicionada em seu pescoço. Honestamente, ela gostaria que aquilo acabasse. Que toda essa merda acabasse.
A única coisa que lhe apavorou foi quando Finney Blake parou de correr. Ele virou, a pele ficando branca como nuvem. O pavor claro em seus olhos.
— Se você der um pio, Finney, eu vou rasgar sua amiguinha todinha como porco, aqui na rua mesmo.
— Finn, corre, confie em mim! — Olivia tentou gritar, mas a mão que envolvia seu pescoço a deixava sem ar.
— E depois, vai ser sua vez. Vou lhe enforcar com seu próprio intestino! — Ele apertou a garota mais forte, fazendo questão de mostrar ao Blake o que era capaz.
Finney Blake apenas ficou parado, como sempre fazia. Um cara estava enforcando sua melhor amiga e ele não conseguiu mexer um dedo sequer. Meu Deus, como ele desejou estar no lugar de Olivia.
— Largue ela. — Ele falou, dando curtos passos na direção dos dois.
Por um único segundo, o Sequestrador relaxou ao ver que o garoto iria ceder, e acidentalmente afrouxou o aperto na garganta da garota. O que foi um erro, lógico.
Olivia Stagg não perdeu tempo em gritar.
— Corre, Finn! Sequestrador! Ajuda, por favor! — Seus pulmões doíam e, se não morresse agora, sua garganta lhe traria problemas mais tarde.
— Menina levada! — Foi tudo o que lhe foi dito antes de ter a lâmina da faca raspada em seu braço. Um grito de dor foi abafado pela mão pesada em sua boca. Olivia olhou para Finney, que ainda estava paralisado. Ele estava de boca aberta como se tentasse gritar mas nada saísse. Por um único olhar, talvez o último, ela implorou para que ele corresse.
Antes de três socos seguidos serem distribuídos em seu rosto, fazendo-a apagar de imediato, Olivia não deixou de encarar os olhos castanhos do melhor amigo, desejando intensamente que ele ficasse bem.
Com sua visão turva escurecendo com uma rapidez assustadora, e seu braço latejando de dor, Olivia percebeu os braços do homem deixarem seu corpo, e ouviu quando ele disse "Bom menino, não vou ter pressa com você, prometo". Mais um estrondo foi ouvido e então tudo apagou.
Talvez não fosse para sempre, talvez fosse.
Olivia Stagg não podia deixar de desejar que fosse a segunda opção.Nada iria ficar bem, de qualquer maneira.
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𝐒𝐔𝐑𝐕𝐈𝐕𝐎𝐑, the black phone
Fanfiction─ ⭑ onde o Sequestrador sempre teve um plano, ou onde segundas chances existem. 📞 ˊ˗ isto não é uma história de amo...