twenty-six.

1.2K 134 78
                                    

࿓

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


flashback
21 de janeiro de 1978

O PORÃO DE Albert Shaw não conservava muitas coisas além de caixas velhas, livros empoeirados, ratos e um telefone preto quebrado a tempos.

Quando decidira esvaziar o espaço para que Olivia Stagg - ou, em sua mente doente, Antonieta LeBlanc - ter onde ficar, soube que o trabalho não seria pesado.

Colocou todas as tralhas no jardim, esperando que alguém se interessasse e as pegasse, sem nem se dar o trabalho de doa-las corretamente.

Foi quando a última caixa de papelão lacrada fora carregada que Albert notou o aparelho eletrônico preso na parede.

Antonieta que escolhera, assim que casaram e decidiram comprar alguns objetos para decorar a casa onde, a partir dali, morariam juntos.

Nele não havia nada de especial.

Sua cor era tão escuta que cada grama de poeira se destacava, tornando perceptível a sujeira que se encontrava. O telefone fora esquecido embaixo da casa, juntamente com a memória da garota feliz que um dia o comprou.

Albert não sentia-se melancólico - agora sua garota havia finalmente voltado e eles se encontrariam em breve, claro, - porém sentiu seus membros pesarem ao encarar o objeto.

Seu corpo se arrepiou, e a barriga gelava apenas por olha-lo. Este parecia o hipnotizar, fazendo com que, inconscientemente, o homem se aproximasse dele, como se uma corda invisível o puxasse para sua direção.

O Sequestrador sentiu que havia realmente enlouquecido ao ouvir seu nome sendo chamado, o ruído vindo da direção que o telefone preto se encontrava.

Como se houvesse alguém na linha.

Ainda em transe, quase como se estivesse sonâmbulo, ele prosseguiu se aproximando, sentindo-se ansioso.

A única lâmpada do porão começou a falhar, piscando algumas vezes. O local, mesmo que sem uma janela sequer, começou a apresentar uma corrente fria que abraçava cada parte do homem.

O Shaw levou a mão até o aparelho, trazendo-o para sua orelha, esperando que, quem quer que estivesse na linha, falasse algo.

E assim aconteceu.

— Albert. — Uma voz repleta de ruídos falou, a interferência sendo forte o bastante para deixar impossível reconhece-la.

— Quem é? — Ele perguntou, suando frio. Quando o silêncio se alastrou e ele percebeu que não havia tido resposta, repetiu. — Quem é, porra?!

— Você sabe bem quem é. — Aquela voz fez sua pressão cair de imediato, deixando seu rosto pálido, a visão turva e as pernas moles, prontas para ceder. — Esqueceu de mim tão rápido assim, amor?

Era Antonieta LeBlanc na linha.

Não Olivia, Antonieta. A voz perfeitamente firme como se estivesse viva.

Albert se segurou na parede, tentando não se desequilibrar. Balançou a cabeça em negação, confuso, e manteve-se quieto.

— Você sabe que não sou aquela garota. — A voz prosseguiu. — Você me matou. Não está lembrado? — A doçura que sempre a acompanhava em tudo o que falava não existia mais. Seu tom estava tão gelado quanto o ambiente. — Não tente enganar a si mesmo.

— Cale a boca. — Albert se rastejou na parede, indo de encontro com o chão, agoniado por estar ouvindo-a sendo que deveria ser a voz de Olivia ali. — Por que está com essa voz? Você não está mais no mesmo corpo!

— Vamos lá, querido, não seja tolo.

— Cale a boca! — O Sequestrador repetiu, a voz raivosa porém mesmo assim falhando de medo. — Você não é real. Você já reencarnou.

— Vai pegar a garota? Olivia o nome dela, não é? — Antonieta, do outro lado da linha, riu sem alegria alguma. — Vai mata-la como me matou?

— Eu mandei você calar a boca! — O homem gritou, batendo o telefone no concreto, esperando que o ato fosse quebra-lo e a ligação termimasse.

De nada adiantou.

— Não vou deixar você fazer isso com uma menina inocente.

A voz não vinha mais do aparelho. Vinha de todos os lados, como se as paredes realmente falassem. O eco era forte, quase que planejado para que o Sequestrador escutasse-a repetidas vezes até acreditar no que ouvia.

— Vai embora, PORRA!

Por aproximadamente trinta segundos um silêncio absoluto abraçou o porão. Tudo o que se podia ouvir era a respiração ofegante do homem e seu coração batendo quase que na velocidade da luz. Quando ele achou que tinha se livrado, a LeBlanc continuou.

— Você não percebe? — Albert bateu em sua cabeça, ainda esperando que tudo não passasse de um sonho ruim. — Até seu último suspiro eu estarei atrás de você. — Vendo que a zoada não cessaria, ele tampou os ouvidos, como uma criança. — Não existe mais "até que a morte nos separe". Agora, será "até que a morte nos junte", querido, e vou te contar um segredo: você não tem muito tempo. — Antonieta esbravejou. — Irei fazer de sua vida um inferno, Albert Shaw. Não irei te deixar em paz até que o ar de seus pulmões sejam tirados como você tirou o dos meus! SEU FILHO DA PUTA!

Mais atordoado do que jamais esteve em sua vida, Albert se levantou e subiu as escadas do porão, as pernas moles como se não houvessem ossos para sustenta-las. Ele foi até a cozinha, ainda perdido com o que havia acontecido, e agarrou uma tesoura.

Se apressou em voltar para o porão - agora vazio com excessão do bendito telefone preto — e cortou todos os fios que o conectava. Algumas faíscas de fogo brilharam no escuro, o frio já havia diminuído e os ruídos de sua esposa morta acabado.

Ao tentar retirar o aparelho da parede, descobriu que não conseguiria. Algo o prendia, e nem mesmo seu machado conseguiu solta-lo.

Dando-se por vencido - afinal um telefone não funciona sem fios - o Shaw o deixou no local, se iludindo ao achar que, desta maneira, teria paz.

Desde aquele dia, boa parte de suas noites passaram a ser turbulentas. Quando fechava os olhos para dormir, ouvia um eco em sua mente, o qual soava perfeitamente como a voz de sua esposa - sua primeira vítima.

As vezes, eram gritos de dor, outras berros enfurecidos. Ocasionalmente, ela falava com ele, sempre as mesmas frases que já havia dito antes.

Não importava como, ela sempre estava presente mesmo não estando de fato. Sempre cumprindo aquilo que prometeu: fazer de sua vida um inferno.

𝐒𝐔𝐑𝐕𝐈𝐕𝐎𝐑, the black phone Onde histórias criam vida. Descubra agora