Wandinha

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Adolescentes.

Criaturas estúpidas e carentes que amam chamar atenção. Ficam "trocando mensagem", gritando e rindo alto, fazendo bagunça pela escola e me enlouquecendo. Receio que não há coisa alguma que me irrite mais do que esses seres indisciplinados e irresponsáveis.

Para falar a verdade, retiro o que acabei de dizer. Há sim uma coisa que me irrita mais. Não uma coisa, mas uma pessoa.

Enid Sinclair, minha colega de quarto, ganhou esse título assim que nos conhecemos. Cores, alegria e bom humor. Tudo o que eu mais odeio em uma pessoa só. Além do uso excessivo do computador, obviamente.

Receio que esse não seja o único motivo do meu ódio por ela. Tem mais uma coisa, mas não descobri ainda. Uma coisa que eu sinto desde que vi seu rosto pela primeira vez. O fato dela parecer centenas de vezes mais viva do que eu, talvez?

Bem, tudo o que sei é que isso está tirando o meu foco ultimamente. Estou escrevendo um livro, e sempre que eu penso em algum personagem para matar essa garota aparece na minha mente e me desconcentra da história. Está sendo uma rotina molesta, mas interessante. E o que me assusta é que não é no bom sentido.

Estou tentando arranjar uma maneira de me livrar dela faz umas semanas. Gostaria de dizer que envolve instrumentos de tortura e sangue de lobo, mas algo está me impedindo nisso também. Então eu só estou tentando ser expulsa ou fazer com que ela seja. Ainda não tive a oportunidade de executar meus planos, mas estou mais que pronta para usufruir da primeira que aparecer na minha frente.

O pior de tudo é que está sendo cada vez mais difícil odia-la. Noite passada, me peguei gostando da música alta, grudenta e doce que ela estava ouvindo sem fones. Quero dizer, não sei exatamente se eu estava gostando, mas o som não chegou a me irritar em um nível que houvesse uma briga entre nós duas. Consegui me concentrar na minha história tranquilamente, como se houvesse o sombrio e assustador silêncio de que tanto gosto quando vou escrever.

Tenho minhas suspeitas de que ela também me odeia ou tem medo de mim. E não só porque sou exatamente o grande rival do estilo dela, mas também porque minha personalidade tóxica é demais para seus ouvidos sensíveis. Fiz ela chorar algumas vezes. Gostaria de dizer que não me senti mal em nenhuma das ocasiões, mas estaria mentindo da forma mais descarada possível.

Isso tudo está me enlouquecendo. E receio que esse não era o efeito exatamente esperado. Não é tão bom como sonho desde pequena, é chato e cansativo.

Nunca senti tanto ódio pelos meus pais desde que eles me mandaram para esta escola. Aulas irritantes e inúteis, alunos infantis e malucos, Enid Sinclair... Parece um hospício, se bem que eu iria amar ser internada em um. Mas não nesse, nesse eu tenho vontade de arrancar meus olhos a cada segundo.

Porém, não é exatamente tudo que eu odeio nessa escola. Tem um garoto, o Eugene. Ele me lembra meu irmão, mas sem a vontade de estrangula-lo a cada segundo. Acho que posso dizer que somos amigos, talvez o único que eu já tive em toda a minha vida (Não que seja algo ruim), ele é esquisitão e tapado, sinto que tenho que protegê-lo dos valentões. É mais uma sensação de dever do que de amizade.

O Eugene tem uma quedinha pela Enid, o que às vezes torna a única coisa boa em toda a escola também em um pesadelo, e não dos bons. Sou obrigada a ouvi-lo falar sobre o quanto a loira do banheiro (Sem querer ofender essa graciosa lenda urbana) mais fofa que eu já vi e fazer sons do tipo "Hm." e "Ah!" ou até falar coisas do tipo "Que interessante." e "Sim.". É meio cansativo.

Se eu não sair logo dessa escola, vou ter que aturar mais três anos dessa detestável rotina.











O sol e a Lua - Wenclair CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora