Wandinha

998 171 9
                                    

Sinto que deveria ter acalmado Enid de outra forma. Analisando sua baixa-autoestima em relação a sua transformação, eu deveria estar ciente de que ela iria se sentir insegura com as pessoas que eu converso antes mesmo de começar nosso relacionamento. Não vejo motivo nenhum para sentir ciúmes, mas ela deve achar que eu não a vejo como a garota incrível que ela é.

Eu quero falar que amo ela, quero mesmo. Mas eu não consigo, é como se eu estivesse sendo pintada com tinta rosa. Argh, por que eu fui depositar meu amor eterno para um arco-íris ambulante? De qualquer forma, o amor cobra sacrifícios. Preciso confessar meus trágicos sentimentos para a mulher que eu amo, só assim ela verá que a insegurança não é necessária.

No dia seguinte, eu a acordei para falar sobre isso. Enid já é a mulher mais bela de todo o mundo, mas por algum motivo, sua beleza se expande e multiplica em 100% quando ela acorda.

— Enid? – eu a chamei, balançando seu ombro levemente. – Enid?

— Hm? – ela abre os olhos lentamente e se assusta com a minha presença. – Wan? O que houve?

— Eu quero te falar uma coisa.

— Pode ser mais tarde? Hoje é sábado.

— Não, tem que ser agora.

Ela deu um bocejo e se sentou. Eu me sentei ao seu lado e peguei sua mão. Pensei que deixar de olhar em seus olhos facilitaria a minha confissão, mas me enganei.

— Wan, não tem graça.

— Não, é sério. Eu preciso... é difícil.

— É sobre o quê?

— Sobre ontem, sobre o Tyler. Ou melhor, sobre o que você pensa dele.

— Ãhn, o que eu penso dele?

— Bem, você se sente insegura por não conseguir se transformar, então acaba pensando que não gosto verdadeiramente de você.

Ela pareceu ter levado um choque de realidade, como se a dor de perceber esse sentimento tivesse lhe dado um tapa na cara.

— Como... você sabe disso? É tão óbvio?

— Não. Sinto que só tenho posse desse conhecimento, porque desfruto do nosso relacionamento sombrio e complicado.

— Ah, menos mal. – ela não pareceu se importar com o uso da palavra "sombrio", o que pode significar que ela estava cansada demais para notar ou que ela estava se acostumando com a minha personalidade tóxica.

— Por que se sente assim? Você é uma aluna exemplar e uma ótima amiga, além de ser... muito b-bela.

Que droga. Nunca gaguejei, só faço isso quando meu nível de nervosismo chega no máximo. Enid Sinclair, o que você fez comigo?

Ela deu um sorriso sonolento e, com uma tentativa falha de transformar seu sono em desdém, me provocou:

— Quer dizer que você me acha bonita?

— Quieta.

— Wandinha Addams me acha bonita?

— Você está bêbada de sono, volte a dormir.

Enid se levantou de repente e juntou nossos lábios. Quando ficamos dependentes de oxigênio, eu me afastei e disse, ofegante:

— Enid Sinclair, eu te acho bonita.

O sol e a Lua - Wenclair CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora