Enid

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Estava tudo tranquilo, e eu deveria saber que estava bom demais pra ser verdade.

Quando Wandinha e sua família saíram, minha mãe aproveitou a oportunidade pra tocar n'O Assunto mais Importante.

— Então, já está conseguindo se transformar?

Não consegui responder, só abaixei a cabeça e esperei as piadas maldosas de Ari.

— Que decepção.

— É, sou eu. Uma decepção.

Meu primo abriu a boca pra dizer alguma coisa idiota, mas foi interrompido por uma voz furiosa atrás de mim:

— Você deveria se orgulhar da filha que tem, Sra Sinclair.

— Me orgulhar? Srta Addams, essa garota já tem 16 anos e sequer se importa se vai ou não se transformar!

— E? O que a senhora tem a ver com isso? Enid vai se transformar quando for a hora dela, e sua opressão não ajuda nem um pouco.

— Opressão? Eu só quero o melhor pra minha filha!

— Não, quer o melhor pra você. Tem medo de isso pôr sua reputação em jogo. Você não tem o direito de fazer isso com ela. A Enid é uma aluna exemplar, inteligente, corajosa e eu a amo! Se você é mesmo a mãe dela, então a aceite exatamente como ela é.

Ela estendeu a mão e eu a segurei. Nos levantamos e fomos até a família dela no outro lado do pátio. Ari parecia ansioso pra bronca que eu iria tomar, mas minha mãe parecia ter congelado no lugar.

— Ninguém nunca me defendeu desse jeito. – eu disse, provavelmente sorrindo que nem idiota. – Obrigada.

— Não fiz nada demais.

Wandinha parecia um pouco arrependida de dizer em alto e bom som a palavra "amo", e isso significa que é verdade. E essa foi a maior prova de amor que ela poderia dar.

— Eu também te amo. – disse, só pra provoca-la.

— Argh, não dá pra destacar a parte que te elogio não?

— Não.

— Que seja. Quer se despedir antes de voltarmos pro dormitório?

— Acho que tenho que fazer isso, não é?

— Na verdade não. Acho que só vão aprender se mostrar que não precisa mais deles.

— Isso não parece certo, Wan.

— Você quer voltar pra lá?

— Quero.

— Então nós vamos.

Minha mãe parecia muito ofendida, e eu amei isso. Nunca tive coragem de enfrentar minha mãe como a Wan fez, ela não estava acostumada com esse tipo de tratamento, mas sim com ela sendo quem xinga e oprime. Sabe, eu amo minha mãe e quem eu sou, mas às vezes eu queria não ser uma excluída. Evitaria esse tipo de trauma.

Meu pai foi o último a ficar pra se despedir, ele parecia orgulhoso.

— Nem eu tive coragem pra fazer isso com sua mãe. Sua namorada deve ser bem especial.

— Prefiro "sinistra", mas obrigada.

Ele deu risada e me deu um abraço. Iria dar em nós duas, mas Wandinha se afastou antes.







O sol e a Lua - Wenclair CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora