~Terceiro~

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Cheguei na escola atrasada e corri pelo amplo corredor, subindo a escada aos tropeções, até chegar a sala, que estava com a porta fechada. Respirei fundo, ofegante, e rearrumei meus cabelos pela milésima vez, verificando se minha roupa estava legal. Suguei todo o ar para meus pulmões, batendo na porta com os nós dos dedos. O professor de biologia me atendeu. Era um homem barbudo e magrinho, um tanto maior que eu- e quem não era maior que eu?- que tinha olhos verdes amarelados e lábios carnudos bem delineados.

-Srta. Mendes, está atrasada.

-Ah, é mesmo?- Disse, sarcástica.- Juro que não percebi.

O professor me olhou bem, antes de fechar a porta na minha cara. Fiquei na ponta dos pés para olhar pela janelinha fosca que havia na porta, e avistei meus três únicos amigos, na fileira do meio. Eles me olharam e acenaram, e eu sorri, mesmo zangada, saindo dali segurando as alças da mochila. Caminhei preguiçosamente até a escada, onde me sentei, apoiando os cotovelos na cocha e o queixo nas mãos.

Sobre meus amigos, eles eram uns lezados malucões. Mas eu gostava muito deles... Liz era a mais nova. Ela era meio lunática e infantil. As coisas que ela dizia nem sempre faziam sentido. Fisicamente, ela era bonitinha. Tinha olhos azuis e cabelos pretos encaracolados. Era mais branca que cera e bem mais alta que eu. Bryan era o maior safado, eu demorei muito tempo para confiar nele depois do que rolou entre mim e Gustavo. Mas ele era leal e um bom amigo. Era baixo, não mais que eu, mas era. Tinha os cabelos castanhos e os olhos grandes e verdes. Conquistava muitas garotas com aquele sorriso bonito e aparelhado, mas eu própria não via nada demais. Já Alana, era magrinha e negra, com grandes olhos escuros e cabelos crespos muito bonitos. De todos, acho que era ela quem mais me entendia. Sempre me ouvia, sempre me aconselhava...

-Parece que mais alguém chegou atrasado.

A voz me sobressaltou, contudo eu não ergui os olhos para ver quem era. Só o que sabia era que se tratava de um rapaz. Logo ele se sentou ao meu lado, e senti que me olhava.

-Você parece uma criança emburrada.- Disse ele.

-Não pedi sua opinião.- Retruquei.

-Sim, definitivamente emburrada.- Ele afastou meu cabelo do rosto e o prendeu atrás da minha orelha. Com o canto do olho, só o que podia ver era que ele era grande, tinha cabelos lisos castanho-escuro e que não era muito magro, nem gordo. Tinha um corpinho legal.- Qual é o seu nome?

-Não te interessa.

-Muito prazer, senhorita Não-Te-Interessa.

Bufei e o encarei diretamente. Tinha olhos castanhos profundos... Parecia poder ver minha alma, ler meus pensamentos. Ele era lindo.

-Eu não estou muito bem, tá legal?- Falei, irritada.- Acordei às cinco para estar aqui na hora e ainda assim me atrasei. E... Eu não te devo satisfações.

Me levantei e comecei a descer a escada. Ele, é claro, me seguiu. Impediu-me de prosseguir segurando meu ombro. Era uma cabeça mais alto que eu. Encarei-o com um olhar que deveria amendrontá-lo, mas que o fez sorrir.

-Hey, eu não te entendo.- Disse, sem tirar a mão do meu ombro.- Pelo que parece, eu também estou atrasado. Possivelmente vou ter que colocar a matéria em dia quando chegar em casa, e perderei o treino.

-Eu não estou nem aí para o seu treino.- Afastei sua mão e continuei meu caminho.

Enquanto andava pela escola enorme, tentava afastar qualquer tipo de pensamento a respeito do garoto. Fui até o banheiro e olhei-me no grande espelho, aliviada por estar menos assustadora do que eu imaginava, e depois me dirigi a biblioteca. Eu podia fazer um tour completo pela escola por uma hora, que era o tempo de aula que eu não poderia assistir. Entrei na biblioteca e me joguei na poltrona mais próxima, enquanto a bibliotecária me estudava por cima do óculos. Ela era uma mulher atarracada, de cabelos loiros acizentados bem curtinho e feições dóceis. Eu adorava conversar com ela quando me atrasava, e ela sempre fazia a mesma pergunta quando eu chegava:

-Você não deveria estar na aula?

-Ai, Julia, nem fala.- Girei os olhos.- Sabe a Stephane? Então. Ela ainda se recusa a me dar um celular novo ou un despertador. Eu tentei chegar a tempo, mas o professor Silvio bateu a porta no meu nariz. Eu fiquei sentada na escada aí...- Me interrompi, lembrando-me do garoto.- Aí vim para cá.

-Não se preocupe, Luciana, a biblioteca sempre estará de portas abertas para você.- Ela sorriu.

Afundei na poltrona.

-Posso me mudar para cá? De vez?

Ela riu, pegando uma caneta e anotando algo em seu caderno.

-Eu acharia o máximo, é verdade.

Fiquei conversando com Julia até o sinal bater. E não vi o rapaz que conhecera na escada tão cedo. Como não sabia seu nome, resolvi chamá-lo de Idiota. Porque era isso que ele era: Idiota.

Apaixonada por um idiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora