~Décimo Oitavo~

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- Eu não acredito - Disse Alana, apertando as bochechas. - Ele voltou?!

Peguei meus cadernos e alguns livros, fechando a porta do armário em seguida. A reação de Alana só me fazia sentir ainda mais estúpida.

- Não foi um reencontro emocionante - Revirei os olhos, andando ao lado de Alana para nossa última aula. - Eu derrubei meu almoço nele, gritei que nem uma retardada e ainda estou curiosa para saber quem deu meu endereço e meu número de telefone para ele.

Alana parou de andar momentaneamente, como se tivesse se lembrado de algo importante.

- Hm...

Olhei para o rosto dela, percebendo que ela estava com os olhos arregalados e os lábios franzidos. Uma expressão suspeita.

- Eu não acredito nisso... - Balancei a cabeça, incrédula. - Você deu meu endereço e o número do meu celular para ele!

Ela bufou.

- Só o celular - Ela disse. - O endereço deve ter sido o Pe...

Ela se interrompeu de súbito, baixando a cabeça. Senti vergonha por ela. Eu sabia como ela se sentia - sendo forçada a se casar contra sua vontade; tendo sua vida revirada por alguém que se dizia sua amiga. Eu era uma pessoa péssima. Para salvar um, eu mexia na vida de outros. Isso era horrível.

Coloquei a mão em seu ombro, diminuindo o ritmo dos passos. Ao longe, o sinal estridente que indicava o fim do intervalo ressoava

- Ei - Sussurrei para ela. - Ainda gosta do Pedro, não é?

Alana ergueu o olhar para mim, mordendo os lábios. Ela parecia mais vulnerável que nunca.

- É impressionante, não é? - Disse ela, baixinho. - Você é quem tem a vida bagunçada e quem se sente confusa sou eu. Seus pais morreram, seu primeiro namorado te enganou, sua tia morreu, Aisha está doente e você está fazendo de tudo para ficar perto do Pietro, e em nenhum momento você insinuou que desistiria. - Ela sorriu. - Luciana, você é tão corajosa... Eu queria ter a metade da sua coragem.

Fiquei tão perplexa, que por vários segundos fiquei ali, encarando-a, sem conseguir reagir. O corredor ia ficando vazio, as pessoas passavam apressadas com seus livros e cadernos, e eu não era capaz sequer de mover um músculo. Os olhos escuros de Alana brilhavam, assim como seu sorriso; ela era gentil. A mais gentil de todos nós.

Recolhi minha mão de seu ombro.

- Eu não sou corajosa - Discordei. - Eu apenas me acostumei com o sofrimento. De tanto dizer a mim mesma para não chorar, eu acabei me adaptando.

Ela desceu os olhos.

- Sinto muito - Murmurou. - Por você ter tido que se acostumar.

Senti meus olhos inundarem, e engoli em seco. Fechei o punho e dei um soco no braço dela.

- Para com esse assunto triste, OK? - Falei. - Eu passei rímel hoje.

Ela riu, passando as mãos nas bochechas para se certificar de que não haviam lágrimas. Entrelacei meu braço no dela e recomeçamos a andar juntas.

- Ele me chamou para uma festa - Eu disse, desinteressada. - Na nova casa dele.

- E você vai, né? - Ela disse. - Diz que vai.

- Tanto faz - Dei de ombros. - Conhece Wesley, Eloisa, Johnny e Rebecca Lima?

Ela pareceu pensativa.

- Acho que sim. Rebecca Lima tem uma coluna no jornal da escola. Eloisa Lima foi rainha do baile por três anos consecutivos. Johnny Lima é guitarrista na banda do colégio e Wesley Lima é capitão de natação.

Apaixonada por um idiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora