~Vigésimo Quarto~

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Após deixar Pietro em casa, fui até a cafeteria mais próxima sentindo como se uma parte de mim tivesse morrido. Era inevitável. Quanto mais eu lutava por Pietro, quanto mais eu fazia planos para ficar com ele, mais vazia eu me sentia. Eu estava cada vez mais apegada a ele, o que significava que sua dor era a minha também. Vê-lo perder sua única família, como eu perdera a minha, era verdadeiramente devastador... E talvez eu não estivesse pronta para viver tudo outra vez.

Sentei-me num banquinho no lado externo da cafeteria, defronte para a rua pouco movimentada, bebendo o meu café com leite amargo. Eu vi o dia se transformar em noite, devagarinho. Vi as primeiras estrelas surgirem, senti a brisa leve noturna.

Deveria ser 22:00 horas quando finalmente me dei conta de que deveria ir embora. Eu fizera o possível para absorver a realidade cruel que estava sendo forçada a viver, e mesmo assim ainda não era capaz de digerir. Que mais não fosse, ficar horas sentada em um banquinho, vendo carros irem e virem, era de alguma forma confortador.

Levantei-me com um suspiro, cruzando os braços. Desejei ter trazido um casaco, pois realmente começava a esfriar. Avancei pela rua quase deserta, passando por grupinhos de adolescentes eufóricos e casais apaixonados dividindo sorvetes, até que uma coisa chamou minha atenção. Eu passava por um beco quando alguém me chamou lá de dentro.

- Ei, menina! - Era uma voz de garoto. Uma voz inexpressiva que eu tinha certeza que já ouvira antes.

Descruzei os braços lentamente, estreitando os olhos para o beco. Lá eu via duas silhuetas tragadas pela escuridão.

- O nome dela é Luciana - Disse a silhueta menor, uma garota.

A voz dela era inconfundível. Eloisa. E como ela nunca estava sozinha, eu só podia deduzir que o outro era Wesley.

Apressei-me em sua direção, com o vento gelado varrendo meus cabelos para trás. Ao chegar, pude ver perfeitamente a dupla de primos doidos do Miguel.

Wesley estava do mesmo jeito desde a última vez em que eu o vira. Seu cabelo ainda estava alisado e caído sobre a testa, seu rosto permanecia sem emoção, e ele estava vestido formalmente, com uma blusa social azul marinho e calça preta. Eloisa, pelo contrário, parecia menos gótica que antes. Seus cabelos lisos estavam repartidos de lado, sua maquiagem preta em torno dos olhos era a mesma, mas dessa vez ela optara por um batom vermelho. Estava vestida como qualquer adolescente comum - uma camiseta branca sob uma blusa xadrez verde e branca desabotoada, short jeans desbotado e botas pretas de cano curto. Eles quase pareciam normais vistos assim - quase.

- Eu perguntaria por que vocês estão parados em um beco sujo a essa hora, mas vindo de vocês dois... - Suspirei.

Eloisa relanceou o olhar para Wesley; ela não era tão mais baixa que ele, a diferença entre eles deveria ser de uns cinco centímetros - pelos meus cálculos, ela media mais ou menos 1.70m e ele 1.75m, o que os faziam bem maiores do que eu.

- Viemos comprar hambúrguer - Wesley revirou os olhos. - O que acha que somos, alienígenas?

Acertou em cheio, pensei. Bem, eu decididamente guardaria esse pensamento só para mim, por ora.

- Pensei que vocês gostavam de coisas como sushi, escargot, caviar... Essas coisas de rico que eu não comeria nem que me pagassem.

Eloisa soltou um bufo entediado, e se aproximou mais de mim.

- Vimos você se levantar daquele banquinho na cafeteria, e viemos para cá. - Disse ela. - Estávamos esperando a hora em que você passaria.

Franzi o cenho, alternando olhares desconfiado de um ao outro.

Apaixonada por um idiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora